28 novembro, 2015

Uma pequena palha

Nariz e lábios de Akhenaten, 18ª dinastia, Egipto


























SOMBRA

Sempre mais elegante, mais rosada, mais alta que todas,
Para que vens ao de cima do fundo dos anos tombados
E a memória rapace diante mim faz tremular
O teu perfil transparente por trás dos vidros do coche?
Como se discutia nessa altura - tu, anjo ou pássaro!
Uma pequena palha te chamou o poeta.
Para todos por igual através das negras pestanas
Dos olhos em abismo fluía a terna luz.
Oh sombra! Perdoa-me, mas o tempo claro,
Flaubert, a insónia e os lilases tardios
De ti - bela de 1913 - 
E do teu dia indiferente e sem nuvens
Me fizeram lembrar... Mas tais recordações
A mim não me ficam bem. Oh sombra! 


(9 de Agosto de 1940. De noite.)


Anna Akhmatova, Poemas (trad. Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev)

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