31 janeiro, 2016

O Guardador de Águas

Henriette Browne, A Nun (Mme Jules de Saux), 1850-70 (detalhe)

























Nas Metamorfoses, em duzentas e quarenta fábulas,
      Ovídio mostra seres humanos transformados em 
      pedras, vegetais, bichos, coisas.
Um novo estágio seria que os entes já transformados
      falassem um dialeto coisal, larval,pedral, etc.
      Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, 
      edênica, inaugural -
Que os poetas aprenderiam - desde que voltassem às 
      crianças que foram
As rãs que foram
As pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de     
     reaprender a errar a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma 
     nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.


Manoel de Barros, O Guardador de Águas

30 janeiro, 2016

Frederico e Saul

Saul Leiter, Taxi, 1957













Com os anos os meus olhos ficaram azuis.
O castanho infantil degradou-se com exposições
Solares
Exageradas. E demasiadas leituras. E Caligrafias.
Creio no pigmento dos olhos como demonstração
Matemática do rigor extremo das horas pesadas.


Frederico Mira George, O Veneno Solitário





28 janeiro, 2016

Igor Mitoraj

Igor Mitoraj, Vale dos Templos, Agrigento, Sicília, 2011


Igor Mitoraj, Vale dos Templos, Agrigento, Sicília, 2011

Igor Mitoraj (1944-2014)




27 janeiro, 2016

John Coplans

John Coplans, Self Portrait (Hand), 1990

26 janeiro, 2016

Arp, Gala, Sophie Taeuber-Arp, Paul Eluard, 1928

Oh Sophie Taeuber-Arp

Sophie Taeuber-Arp, Composition dans un cercle, 1937





Sophie Taeuber-Arp


25 janeiro, 2016

Oh, Anni Albers

Anni Albers, Têxtil,  1940


























Só ao génio é dado o privilégio de permanecer no seu domínio para além do que lhe é conhecido e de ampliar a natureza sem sair dela.

Friedrich Schiller, Sobre a Poesia Ingénua e Sentimental


23 janeiro, 2016

Carlos de Oliveira

A noite é a nossa dádiva de sol aos que vivem do outro lado da Terra.

Carlos de Oliveira



para a construção do poema 44



para a construção do poema 43


para a construção do poema 42


Marlene e Marin

Marlene Dumas, Measuring Your Own Grave, 2008


























Olha, as coisas
Estão cortadas ao meio,
De um lado elas
Do outro o seu nome.
Há um vasto espaço entre elas,
Espaço para correr,
Para a vida.
Olha, tu estás cortado ao meio.
De um lado tu,
Do outro o teu nome.
Não sentes às vezes ou no sonho
Ou à margem do sonho,
Que na tua fronte
Assentam outros pensamentos,
Sobre as tuas mãos
Outras mãos?
Só por um instante foste compreendido
Fazendo o teu nome
Atravessar o teu corpo,
De um modo sonoro e doloroso,
Como o badalo de bronze
Através do vazio do sino.


Marin Sorescu (1936- 1996)

22 janeiro, 2016

Carlos de Oliveira

Odilon Redon, Nature Morte 1905






















Será da própria condição das coisas serem silenciosas agora?



Carlos de Oliveira, Terra de Harmonia




19 janeiro, 2016

Kiki Smith

Kiki Smith, Constellation, 1996

18 janeiro, 2016

Rui Calçada Bastos


Rui Calçada Bastos,The Mirror Suitcase Man (Berlin Series), 2004























Rui Calçada Bastos,The Mirror Suitcase Man (Lisbon Series), 2005





















Rui Calçada Bastos,The Mirror Suitcase Man (Lisbon Series), 2005



17 janeiro, 2016

o silêncio


Christo e Jeanne-Claude, Running Fence, Sonoma and Marin Counties, California, 1972-76

































faz um poema que não perturbe
o silêncio de onde veio.

Wendell Berry

15 janeiro, 2016

Willi Ruge

Willi Ruge, Seconds before Landing

12 janeiro, 2016

Marina Abramovic e Michael Krüger

Marina Abramovic, The Kitchen (Homage to Saint Therese), 2009 

























Queríamos
surpreender a esperança
quando ela se descontrolasse:
no momento da revolta.
Preparámo-nos para uma grande viagem.
Resguardámo-nos
do frio e do calor.
O farnel
pesava-nos nos ombros:
História, educação,
a capacidade de suportar
o desespero, muita literatura.
Regressámos ontem.
Cansados,
como se pode imaginar,
e cheios de fome.
As fotografias
ainda não foram reveladas.
Daremos a conhecer
os resultados.

De Costas Para a Janela: Poesia Alemã Contemporânea I Michael Krüger (trad. João Barrento)




10 janeiro, 2016

Joaquim e os sais de prata

A Fotografia

1 - Os seiscentos e tantos preceitos dos judeus
bastam para comprar a máquina fotográfica,
mas não podem carregar esse botão
onde o olhar escolhe como ver.

2 - Um dia havia um monte de lixo junto
das bocas de incêndio ciclame e ouro
onde os fumos soterrados de Manhattan
parecem inundar de música o inverno:
eu não tinha o vidro de amor da máquina
para interceder com a minha memória.

3 - Um cristão recolheu o lixo, fez um resto
para um pobrezinho, correu para uma reza solitária
entre algumas flores, um pequeno lago
e as nuvens com aves repousavam no sol.
Como os sais de prata nos deixam escutar.

Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos

09 janeiro, 2016

Joaquim Manuel Magalhães

Aquela estrela, a sétima
a contar de ti, eras tu 
de novo? A dos nomes
escritos na parede
onde rastejam quiméricos
os musgos? Nos telhados
sobre pátios nocturnos?

Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos



( para t., a propósito de estrelas ) 

08 janeiro, 2016

My Mom's Eyes 3

CT, My Mom's Eyes
jan 2016

My Mom's Eyes 2

CT, My Mom's Eyesjan 2016








Camie Lyons




Camie Lyons, Finding Beauty, 2014

03 janeiro, 2016

para a construção do poema 38


inverno e verão

Albert Camus e Francine Faure






















No meio do Inverno, constatei que dentro de mim havia um Verão invencível.

Albert Camus

02 janeiro, 2016

My Mom's Eyes

 CT, My Mom's Eyes
jan 2016






Raul e William

Talvez eu consiga
mediante empregos
de secreta origem
Chegar à absoluta
fase da absoluta vertigem.


Raul de Carvalho, Tampo Vazio



William Turner, Burning Ship, 1830

01 janeiro, 2016

Car le bonheur

Car le bonheur est notre destin véritable. 

Jacques Brel

Arthur Lesley Dow, Cyanotype, c.1900

Arthur Lesley Dow, Cyanotype, c.1900