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17 dezembro, 2019

Manoel de Barros

Quem acumula muita informação perde o condão de advinhar: divinare.

Manoel de Barros, Livro Sobre Nada



01 fevereiro, 2016

Manoel e Jopie

Perder o nada é um empobrecimento.

Manoel de Barros, Livro Sobre Nada


Jopie Huisman, Roodbaaien hemd , 1975

31 janeiro, 2016

O Guardador de Águas

Henriette Browne, A Nun (Mme Jules de Saux), 1850-70 (detalhe)

























Nas Metamorfoses, em duzentas e quarenta fábulas,
      Ovídio mostra seres humanos transformados em 
      pedras, vegetais, bichos, coisas.
Um novo estágio seria que os entes já transformados
      falassem um dialeto coisal, larval,pedral, etc.
      Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, 
      edênica, inaugural -
Que os poetas aprenderiam - desde que voltassem às 
      crianças que foram
As rãs que foram
As pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de     
     reaprender a errar a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma 
     nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.


Manoel de Barros, O Guardador de Águas

14 novembro, 2014

Só o silêncio faz rumor no voo das borboletas.


Manoel de Barros, O Fazedor de Amanhecer

13 novembro, 2014

Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não uso das palavras
Fatigadas de informar.
Dou mais respeito
Às que vivem de barriga no chão
Tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou importância às coisas desimportantes
E aos seres desimportantes
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais do que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios
Amo os restos
Como boas moscas.
Queria que minha voz tivesse formato de canto
Porque não sou da informática
Eu sou da invencionática.
Só uso minhas palavras para compor meus silêncios.

Manoel de Barros, Memórias inventadas – As Infâncias 



Manoel de Barros (1916 - 2014)                                                          Poeta.


03 janeiro, 2013


Não tenho habilidade pra clarezas. 
Preciso de obter sabedoria vegetal. 
(Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma rã no talo.) 
E quando esteja apropriado para pedra, terei também 
sabedoria mineral.

Manoel de Barros

23 dezembro, 2012


"A função da poesia é encantar palavras. Tem outra: enlouquecer as palavras para que elas transmitam nossos delírios. Tem outra função ainda, que é a de renovar o idioma. Poesia é a loucura das palavras. (...) é preciso ensinar que o cheiro do lírio também é branco, (...) O que informa a palavra poética são nossas memórias fósseis. Nós moramos nas nossas antecedências. De lá a palavra nos traz. E só a invenção nos retira de lá."

Manoel de Barros

17 abril, 2007

O Catador

Um homem catava pregos no chão.

Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimónios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catarpregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.

Manoel de Barros, "Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo"