Pequeno Villon
Diz-me ele que em Banguecoque o roubam
Por ser branco; em Londres porque é
preto;
Em Barcelona, judeu; em Paris, árabe:
Em todo o lado & a qualquer hora,
& ele defende-se.
Ergue sete dedos grossos e pequenos
Para me mostrar que vem em sétimo lugar
a nível mundial,
E não há qualquer paixão na sua voz, nem
raiva
No liso dos olhos castanhos raiados de
sangue.
Pede-me que lhe conte tudo o que me
lembrar
Do meu pai, seu tio; fala da guerra
No Norte de África e do que veio depois,
A perda do pai, a perda do irmão,
As montras da padaria partidas, e o pão
fresco
Polvilhado de vidro, o cheiro quente a
centeio,
Tão forte que ele comia até ficar com a
boca cheia de sangue.
Eles vivem aqui, vivem aqui e não morrem,
E aponta a cabeça negra sulcada
De anéis de cabelo preto. Toca-me o
cabelo,
Diz-me para nunca desprezar
As duras cerdas que protegem a cabeça do
lutador.
De dedos tristes, percorre-me a cara,
Como sou claro, diz-me, e macio.
Ficámos de pé até ao fim desta primeira
e última visita.
Duro, 50 quilos, um metro e meio,
Não era maior que uma rapariga,
agarra-me pelos ombros,
Beija-me na boca, os olhos ainda
abertos,
Meu irmão imaginário, meu primo,
Eu próprio de outra forma, por toda a
sua dor.
Philip Levine, Not This Pig, 1968
(Tradução de Hugo Pinto Santos)
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