02 abril, 2015


Não pintarei   um quadro –
Serei antes Um
Com a sua luminosa impossibilidade
Para nele – delicioso  habitar 
E interrogar-me como se sentem os dedos
De quem – celestialmente – se agita e
Evoca de modo doce um tormento
Tão sumptuoso – Desespero –

Não falarei – como Corneta –
Antes serei Uma
Erguida  suavemente para o Horizonte –
E fora, e dentro –
Através dos Povoados do Éter-
Eu sobre o Balão –
Através de um lábio de Metal
Ancoradouro para o meu Pontão   

Nem serei  um Poeta –
É melhor – possuir o Ouvir –
Enamorado – impotente – satisfeito –
A Licença para venerar,
Um privilégio tão terrível
Qual seria o Dote,
tivesse eu a Arte de me espantar
Com Dardos – de Melodia!


Emily Dickinson trad. © Cristina Tavares, 2015


I would not paint - a picture - / I'd rather be the One /It's bright impossibility /To dwell - delicious - on - /And wonder how the fingers feel /Whose rare - celestial - stir - /Evokes so sweet a torment - Such sumptuous - Despair -// I would not talk, like Cornets - /I'd rather be the One / Raised softly to Horizons - /And out, and easy on - /Through Villages of Ether - /Myself up borne Balloon / By but a lip of Metal -/ The pier to my Pontoon - // Nor would I be a Poet - /It's finer - own the Ear - /Enamored - impotent - content - /The License to revere, /A privilege so awful /What would the Dower be, /Had I the Art to / stun myself / With Bolts - of Melody! 

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