Cada artista mantém, assim, no fundo de si mesmo, uma fonte única
que alimenta durante a sua vida o que ele é e o que diz. Quando a fonte secou,
vê-se pouco a pouco a obra endurecer, fender-se. São as terras ingratas da arte
que a corrente invisível já não irriga. Com o cabelo raro e seco, o artista,
protegido com palha, está maduro para o silêncio, ou para os salões, que vêm a dar
ao mesmo. Por mim, sei que a minha fonte está em O Avesso e o Direito, nesse mundo de pobreza e de luz em que vivi
por muito tempo e cuja recordação me preserva ainda dos dois perigos contrários
que ameaçam todos os artistas: o ressentimento e a satisfação.
André
Camus, O Avesso e o Direito (prefácio)
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