30 abril, 2015

Mário Dionísio

mil anos que viva não se apaga
a imagem sombria e vacilante
dum homem desconhecido numa esquina
com um lenço na mão manchado de sangue

Mário Dionísio, O Riso Dissonante

29 abril, 2015

Aleksandr Rodchenko, Varvara Stepanova, 1929

28 abril, 2015

Kurt Schwitters

Kurt Schwitters, 1926


Kurt Schwitters

Kurt Schwitters, 1926

27 abril, 2015

Tina Modotti, 1924

26 abril, 2015

A alegria é uma torre transparente.

Pablo Neruda, Antologia Breve

Tina Modotti, 1925
(parabéns G.)

25 abril, 2015

Tina Modotti

Tina Modotti, Worker's Hands, México, 1927

24 abril, 2015

William Faulkner

-Falou de liberdade económica. Um escritor precisa dela?

-Não. Um escritor não precisa de liberdade económica. Precisa apenas de um lápis e de algum papel. Nunca tive conhecimento de nada de bom na escrita que tivesse resultado da aceitação de um presente ou de dinheiro. Um bom escritor nunca se candidata a uma fundação. Está demasiado ocupado a escrever qualquer coisa. Se ele não for um escritor de primeira engana-se a si próprio dizendo que não tem tempo ou que lhe faltam as condições económicas necessárias. A boa arte pode surgir vinda de ladrões, de contrabandistas ou de moços de estrebaria. As pessoas, de facto, têm medo de descobrir até que ponto aguentam a adversidade e a pobreza. Têm medo de descobrir até que ponto resistem. Nada pode destruir um bom escritor. A única coisa que pode afectar um bom escritor é a morte.


William Faulkner, Entrevistas da Paris Review (Tinta da china, 2009)

22 abril, 2015

Mary e K.k.DePaul

Someone I loved once gave me
a box full of darkness.

It took me years to understand
that this, too, was a gift. 

Mary Oliver, Thirst 

K.k.DePaul, Abracadabra, from the series Only Child










21 abril, 2015

Mary e K.k.DePaul

Listen—are you breathing just a little, and calling it a life?


Mary Oliver, West Wind: Poems and Prose Poems


K.k.DePaul, Duality, from the series Only Child

20 abril, 2015

Henri Matisse

Henri Matisse, La Musique, 1910



19 abril, 2015

A Luz basta-se a si própria –
Se outros a querem ver
Podem recolhê-la nos vidros da Janela
Em certas Horas do Dia 

Mas não como Recompensa –
Ela possui um tão grande Fulgor
Para o Esquilo nos Himalaias
Precisamente – Como para Mim 


Emily Dickinson , trad. Cristina Tavares, 2015

Light is sufficient to itself - / If others want to see / It can be had on Window panes / Some Hours of the Day - // But no t for Compensation - / It holds as large a Glow / To Squirrel in the Himmaleh / Precisely - as to Me –

18 abril, 2015

Miniatura, EUA, c.1830

17 abril, 2015

Aaron Siskind, #25, 1957

16 abril, 2015

Anton Stankowsky, 1927

15 abril, 2015

Pierre Soulages

Pierre Soulages, 1968




















Pierre Soulages no seu atelier, 1968










14 abril, 2015

Helena Almeida

Helena Almeida, s/título, 2010

13 abril, 2015

Alvar Aalto

Alvar Aalto, Vase, 1937

11 abril, 2015

Edward Hopper, Early Sunday Morning, 1930

Olhar o Céu de Verão
É Poesia, que ela nunca se deita num livro –
Os Poemas Verdadeiros voam –


Emily Dickinson , trad.  Cristina Tavares, 2015    (obrigada G.)


To see the Summer Sky / Is Poetry, though never in a Book it lie – / True Poems flee –

10 abril, 2015

A Dor – tem uma Lacuna –      
Não consegue recordar
Quando começou – ou se houve
Uma altura em que não existiu –

Não tem Futuro – senão ela mesma
O seu Infinito contém
O seu Passado – iluminado para detectar
Novos Períodos – de Dor.


Emily Dickinson , trad.  Cristina Tavares, 2015

Pain – has an Element of Blank – / It cannot recollect / When it begun – or if it there were / A time when was not – //It has no Future – but itself – / Its Infinite contain / Its Past – enlightened to perceive / New Periods – of Pain.     

09 abril, 2015

Uma palavra morre
Quando é dita,
Dizem alguns.

Eu digo que só
Começa a viver
Nesse dia.


Emily Dickinson , trad.  Cristina Tavares, 2015

A word is dead / When it is said, / Some say. // I say it just / Begins to live / That day.

08 abril, 2015

Dürer

Albrecht Dürer, Study of a Lily, 1526

07 abril, 2015

“Natureza” é o que vemos –
A Colina – a Tarde –
Esquilo – Eclipse – a Abelha –
Não – Natureza é Céu –
Natureza é o que ouvimos –
O Rouxinol – o Mar –
Trovão – o Grilo –
Não – Natureza é Harmonia –
Natureza é o que conhecemos –
Falta-nos contudo arte para dizer –
Tão impotente a Nossa Sabedoria é
Para a sua Simplicidade.


Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015

“Nature” is what we see – // The Hill – the Afternoon – // Squirrel – Eclipse – the Bumble bee – //  Nay – Nature is Heaven – // Nature is what we hear – // The Bobolink – the Sea – //Thunder – the Cricket –// Nay – Nature is Harmony – // Nature is what we know – // Yet have no art to say – // So impotent Our Wisdom is // To her Simplicity.

06 abril, 2015

Opinião é uma coisa esvoaçante,
Mas a Verdade, dura mais que o Sol –
Se não as pudermos ter às duas –
Possuamos a mais antiga –

Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015


Opinion is a flitting thing, / But Truth, outlasts the Sun - /  If then we cannot own them both - / Possess the oldest one –
Duane Michaels, Fireflies in My Hands, 1973

05 abril, 2015

Emily Dickinson

(...)
Mas o Trabalho pode ser um eléctrico Descanso
Para aqueles que fazem Magia -

Emily Dickinson trad. © Cristina Tavares, 2015


But Work might be electric Rest  // To those that Magic make – 


A Eternidade – é composta de Agoras –
Não são tempos diferentes –
Excepto para a Eternidade –
E Latitude de Casa –

A partir daqui – experiente Aqui –
Remove as Datas – para Essas –
Deixa os Meses  dissolverem-se em mais Meses –
E Anos –desvanecerem-se em Anos –

Sem Argumentos  – ou Pausas –
Ou Dias Comemorativos –
Não seriam diferentes os Nossos Anos
Da Vida Eterna –


Emily Dickinsontrad. © Cristina Tavares, 2015



Forever - it composed of Nows - / 'Tis not a different time - / Except for Infiniteness - / And Latitude of Home - / From this - experienced Here - / Remove the Dates - to These - / Let Months dissolve in further Months - / And Years - exhale in Years -/ Without Debate - or Pause - / Or Celebrated Days - / No different Our Years would be / From Anno Dominies -
Uma coisa de ti cobiço –
O poder de esquecer –
O patético da Avareza
Financia as suas Impurezas –

Uma coisa de ti levo emprestado
E prometo devolver –
Os Despojos e a Dor
De ter conhecido a tua Doçura –


Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015


One thing of thee I covet - / The power to forget - / The pathos of the Avarice / Defrays 
the Dross of it - // One thing of thee I borrow / And promise to return - / The Booty and 
the Sorrow /Thy Sweetness to have known -

04 abril, 2015

Para fazer um prado é necessário um trevo e uma abelha,
Um trevo, e uma abelha,
E devaneio.
O devaneio só também serve,
Se as abelhas forem poucas.


Emily Dickinson, trad. © Cristina Tavares, 2015

To make a prairie it takes a clover and one bee, / One clover, and a bee, / And revery. / The revery alone will do, / If bees are few.

03 abril, 2015

Para preencher uma Falha
Insere a Coisa que a causou –
Bloqueia-a
Com Outra Coisa – e abrirá ainda mais  
Não podes soldar um Abismo
Com Ar.


Emily Dickinsontrad. © Cristina Tavares, 2015

To fill a Gap / Insert the Thing that caused it - / Block it up / With Other - and 'twill yawn the more - / You cannot solder an Abyss / With Air.
Não podes suspender um Incêndio -
Uma coisa que arda
Pode ir, por si, sem um Sopro
Pela noite mais lenta –

Não podes cingir uma Inundação
E pô-la numa Gaveta –
Porque os Ventos encontrá-la-iam –
E di-lo-iam ao teu Chão de Cedro -


Emily Dickinsontrad. © Cristina Tavares, 2015

You cannot put a Fire out - /A Thing that can ignite / Can go, itself, without a Fan - / Upon the slowest night - / You cannot fold a Flood - / And put it in a Drawer - / Because the Winds would find it out - /And tell your Cedar Floor -
O meu olhar está mais cheio que a minha jarra 
A Sua Carga – é de Orvalho –
E no entanto –  meu Coração – o meu olhar pesa mais –
Índia Oriental – para ti!


Emily Dickinsontrad. © Cristina Tavares, 2015

My eye is fuller than my vase - / Her Cargo - is of Dew - / And still - my Heart - my eye outweighs - / East India - for you!
Se O que Pudéssemos– fosse o que tivéssemos –
O Critério seria – modesto –
É Fundamento do Falar –
A Impotência de Dizer   


Emily Dickinson trad. © Cristina Tavares, 2015

If What we Could - were what we would - /Criterion - be small -/ It is the Ultimate of Talk -/ The Impotence to Tell -

02 abril, 2015


Não pintarei   um quadro –
Serei antes Um
Com a sua luminosa impossibilidade
Para nele – delicioso  habitar 
E interrogar-me como se sentem os dedos
De quem – celestialmente – se agita e
Evoca de modo doce um tormento
Tão sumptuoso – Desespero –

Não falarei – como Corneta –
Antes serei Uma
Erguida  suavemente para o Horizonte –
E fora, e dentro –
Através dos Povoados do Éter-
Eu sobre o Balão –
Através de um lábio de Metal
Ancoradouro para o meu Pontão   

Nem serei  um Poeta –
É melhor – possuir o Ouvir –
Enamorado – impotente – satisfeito –
A Licença para venerar,
Um privilégio tão terrível
Qual seria o Dote,
tivesse eu a Arte de me espantar
Com Dardos – de Melodia!


Emily Dickinson trad. © Cristina Tavares, 2015


I would not paint - a picture - / I'd rather be the One /It's bright impossibility /To dwell - delicious - on - /And wonder how the fingers feel /Whose rare - celestial - stir - /Evokes so sweet a torment - Such sumptuous - Despair -// I would not talk, like Cornets - /I'd rather be the One / Raised softly to Horizons - /And out, and easy on - /Through Villages of Ether - /Myself up borne Balloon / By but a lip of Metal -/ The pier to my Pontoon - // Nor would I be a Poet - /It's finer - own the Ear - /Enamored - impotent - content - /The License to revere, /A privilege so awful /What would the Dower be, /Had I the Art to / stun myself / With Bolts - of Melody! 

cabeça no Ar

Rebecca Sferzo, Paintbrush Portraits
cabeça no Ar
corpo na pintura

Rebecca Sferzo

Rebecca Sferzo,
Paintbrush Portraits
será que vejo a E. em todo o lado?
(...) a poesia é a relação pura do homem com as coisas. Isto é: uma relação com a realidade, tomando-a na sua pura existência. O poeta é aquele que vive com as coisas, que está atento ao real, que sabe que as coisas existem.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Colóquio, nº8, Abril 1960