Há certos versos - às vezes poemas
inteiros -
que eu próprio não sei o que querem dizer.
O que ignoro
retém-me ainda. E tu, tu tens razão em
interrogar. Não interrogues.
Já te disse que não sei.
Duas luzes paralelas
vindo do mesmo centro. O ruído da água
que cai, no inverno, da goteira a
transbordar
ou o ruído de uma gota de água caindo
de uma rosa no jardim, regado há pouco,
devagar, devagarinho, uma tarde de
primavera,
como o soluço de um pássaro.Não sei que
quer dizer este ruído;contudo aceito-o.
As coisas que sei explico-tas,
sem negligência.
Mas as outras também acrescentam a nossa
vida.
Eu olhava
o seu joelho dobrado, como ela dormia,
levantando o lençol -
não era apenas amor. Este ângulo
era o cume da ternura, e o cheiro
do lençol, a lavado e a primavera,
completava
este inexplicável, que eu procurei,
em vão ainda, explicar-te.
Giánnis Ritsos (trad. Eugénio de Andrade), Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro
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