01 maio, 2020

TRADUÇÕES DA QUARENTENA - 21 Ted Kooser


AO FIM DE ANOS
Hoje, à distância, vi-te,
afastando-te, e sem um som
a face cintilante de um glaciar
escorregou para o mar. Um velho carvalho
tombou em Cumberlands, conservando apenas
uma mão cheia de folhas, e uma velha
que atirava milho às galinhas ergueu o olhar
por um instante. Do outro lado
da galáxia, uma estrela trinta e cinco vezes
maior que o nosso sol explodiu
e desapareceu, deixando uma pintinha verde
na retina do astrónomo
de pé na grande cúpula aberta
do meu coração sem ninguém a quem contar.
.
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........
.
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SELECIONANDO UMA LEITORA
Primeiro, teria de ser bela,
e aproximar-se cautelosamente da minha poesia
no momento mais solitário de uma tarde,
com o cabelo ainda húmido no pescoço
de o ter lavado. Vestiria
uma gabardine velha, e suja
por não ter dinheiro que chegasse para a lavandaria.
Tirará os óculos, e ali
na livraria, folheará
os meus poemas, e depois pousará o livro
outra vez na prateleira. Dirá para si,
“Por este preço, posso mandar
lavar a gabardine.” E assim fará.

Ted Kooser ( EUA, 1939 - )
(trad. Cristina Tavares /José Pinto de Sá)

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