29 dezembro, 2008

sou uma pequena igreja(não uma grande catedral)
longe da opulência e imundíce das apressadas cidades
-não me preocupo se os dias mais breves se tornam brevíssimos,
não tenho pena quando sol e chuva fazem abril

a minha vida é a vida do ceifeiro e do semeador;
as minhas orações são as orações da terra onde desajeitadas lutam
(encontrando e perdendo e rindo e chorando)as crianças
cuja qualquer tristeza ou alegria é meu tormento e meu aprazimento

à minha volta surge um milagre incessante
nascer e glória e morte e ressurreição:
sobre o meu ser adormecido flutuam flamejantes símbolos
de esperança, e eu acordo para uma perfeita paciência de montanhas

sou uma pequena igreja(longe do alucinado
mundo com o seu enlevo e angústia)em paz com a natureza
-não me preocupo se as noites mais longas se tornam longuíssimas;
não tenho pena quando a calma se torna canto

de inverno de primavera,ergo a minha espiral diminuta para
o misericordioso Ele Cujo único agora é para sempre:
permanecendo erecto na verdade imortal da Sua Presença
(acolhendo humildemente a Sua luz e orgulhosamente as Suas trevas)

E.E.Cummigs, "livrodepoemas"

28 dezembro, 2008


David Hockney,"Rainy Morning", 2004

27 dezembro, 2008

digamos: eis uma flor
um débil mundo de pétalas
aberto

digamos: uma cor
mais roxa de nossas dores escolhida

digamos: um ribeiro
um local habitável para a flor
a inventar

digamos: um perfume
impresso
na flor à beira-água

digamos: a memória
diluída
no perfume da flor

por fim
digamos: uma violeta
eis a flor





A.M.Pires Cabral, "Antes que o Rio Seque"

25 dezembro, 2008


Maurice de Vlaminck, "Harvest", 1904

24 dezembro, 2008


Piero della Francesca, Madonna del Parto