25 junho, 2017

Ana Cristina César

olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas



Ana Cristina César, Poética

24 junho, 2017

Mbate Pedro



oh como são inúteis e reluzentes os materiais do amor

Mbate Pedro, Vácuos



Cristina Tavares, Blurred Freesias, 2017

23 junho, 2017

Mbate Pedro

procuro uma mulher febril que saiba entrar dentro do meio-dia e espantar-se

Mbate Pedro, Vácuos



Ellsworth Kelly, Cyclamen (detalhe), c.1964-65




21 junho, 2017

Matisse a pintar

Matisse a pintar, fotógrafo desconhecido, c.1919

20 junho, 2017

Annegret Soltau

Annegret Soltau, Selbest, 1975

19 junho, 2017

André Malraux

Maurice Jarnoux,André Malraux seleccionando fotografias para O Museu Imaginário, c.1947

18 junho, 2017

Michaux e Remarque


Henri Michaux, s/ título, 1960
















Estamos desamparados como as crianças e experientes como os velhos: somos grosseiros, tristes e superficiais; creio que estamos perdidos.

Erich Maria Remarque, A Oeste Nada de Novo (trad. Mário C. Pires)




Henri Michaux, s/ título, c. 1950

17 junho, 2017

Rita e Henri


Hei de inventar outro nome para isso que morre
na virada do dia e renasce bicho difuso, ainda sem
penugem, sem consciência
da metamorfose que guarda em si.


Rita Isadora Pessoa

Matisse, Roses

16 junho, 2017

15 junho, 2017

Noémia de Sousa





















Noite morna de Moçambique
e sons longínquos de marimba chegam até mim
- certos e constantes -
vindos nem eu sei de onde.
Em minha casa de madeira e zinco,
abro o rádio e deixo-me embalar...
Mas vozes da América remexem-me a alma e os nervos.
E Robeson e Maria cantam para mim
spituals negros de Harlém.
Let my people go
- oh deixa passar o meu povo,
deixa passar o meu povo -,
dizem.

(...)


~~



Um só ínfimo grão d'areia

nunca imaginei
pesar tanto.


Noémia de Sousa, Sangue Negro



13 junho, 2017

home 90

CT, para Antónia, 2016

11 junho, 2017

Elisabeth Pulman

Elisabeth Pulman,The Maori girls Hereni and Rowanga, 1889

Zbigniew Herbert



Vivo em várias épocas como um insecto no âmbar, imóvel e por isso fora do tempo, porque os meus membros não se mexem nem projectam nenhuma sombra na parede, submerso  numa cave como no âmbar imóvel e por isso inexistente.

Vivo em várias épocas, imóvel mas provido de todos os movimentos, porque habito no espaço e pertenço-lhe e tudo o que é espaço concede-me o seu toque, uma forma transitória.

Vivo em várias épocas, inexistente, dolorosamente imóvel e dolorosamente móvel e na verdade desconheço o que me é dado e o que me é retirado para sempre.


Zbigniew Herbert, Escolhido pelas Estrelas (trad. Jorge de Sousa Braga)

05 junho, 2017

Mbate Pedro



não esperar para além da fecundidade do não pedido


Mbate Pedro, Vácuos

03 junho, 2017

Zbigniew Herbert

Ardente e lívido
Santo Inácio
passou por um jardim de rosas
e atirou-se
para cima delas
ficando todo ferido

com a campainha do seu hábito negro
queria extinguir
a beleza do mundo
que brota da terra como duma ferida

e enquanto jazia
no leito de espinhos
viu
que o sangue que lhe escorria da testa
coagulava nas suas pestanas
na forma de uma rosa

e a mão cega
que procurava os espinhos
cedia
ao doce contacto das pétalas

defraudado o santo
chorava da troça das rosas

espinhos e rosas
rosas e espinhos
todos procuramos a felicidade

Zbigniew Herbert, Escolhido pelas Estrelas (trad. Jorge de Sousa Braga)

02 junho, 2017

Tolentino e Kelly

Ellsworth Kelly, Limão (detalhe), 1965-66















o amor é uma noite a que se chega só.


José Tolentino Mendonça, A Estrada Branca