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01 maio, 2020

TRADUÇÕES DA QUARENTENA - 23 Sylvia Plath

SOU VERTICAL
Mas preferia ser horizontal.
Não sou uma árvore com a raiz no solo
Sugando minerais e amor maternal
Para que em cada Março possa brilhar em folha,
Nem sou a beleza de um canteiro de jardim
Atraindo a minha cota de Ahs e espectacularmente pintada,
Sem saber que em breve terei de perder as pétalas.
Comparada comigo, uma árvore é imortal
E a cabeça de uma flor não é alta mas mais surpreendente
E quero a longevidade de uma e a audácia da outra.
Esta noite, à luz infinitesimal das estrelas,
as árvores e as flores têm espalhado os seus frescos odores.
Caminho entre elas, mas nenhuma repara.
Às vezes penso que é quando estou a dormir
Que mais me devo assemelhar a elas—
Pensamentos obscurecidos.
É mais natural para mim, estando deitada.
Então o céu e eu estamos em aberta conversa,
E serei útil quando me deitar finalmente:
Então as árvores podem por uma vez tocar-me, e as flores ter tempo para mim.
.
.
........
.
.
CRUZANDO AS ÁGUAS
Lago negro, barco negro, duas pessoas recortadas a negro.
Para onde vão as árvores negras que bebem aqui?
As suas sombras devem cobrir o Canadá.
Alguma luz filtra-se das flores aquáticas.
As suas folhas não desejam que nos apressemos:
São redondas e planas e cheias de sombrias recomendações.
Mundos frios sacodem-se do remo.
O espírito da escuridão está em nós, está nos peixes.
Uma raiz levanta uma mão pálida de despedida;
Estrelas abrem-se entre os lírios.
Não te cegam tais inexpressivas sereias?
Este é o silêncio das almas assombradas.


Sylvia Plath (EUA, 1932 - 1963)

(trad. Cristina Tavares /José Pinto de Sá)

12 agosto, 2018

Sylvia Plath

Foto de Annie Wilson.
Sylvia Plath, Two Women Reading, 1950-51




















I took a deep breath and listened to the old brag of my heart. I am, I am, I am.

Sylvia Plath, The Bell Jar

23 dezembro, 2015

Sylvia e Frida

Frida Kahlo, Autoretrato, 1948


















Os cisnes desapareceram. Mas o rio
Ainda se lembra como eles eram brancos.
Corre atrás deles com as suas luzes.
Encontra as suas formas numa nuvem.
Que pássaro é aquele que grita
Com tal dor na voz?
Continuo jovem como sempre. O que estarei eu a perder?


Sylvia Plath, 
Três Mulheres: Poema a Três Vozes

23 outubro, 2015

azul-vermelho

Ninguém no caminho, e nada, nada a não ser amoras,
amoras dos dois lados, embora mais à direita,
uma álea de amoras, descendo em curvas fechadas, e um mar
algures, lá ao longe, arfando. Amoras
tão grandes como a cabeça do meu polegar, e mudas como olhos
negros nas sebes, repletas
de um suco azul-vermelho. Este desperdiça-se nos meus dedos.

Não pedira tal comunhão de sangue; devem amar-me.
Comprimem-se numa garrafa de leite, de encontro aos seus lados.

Sobre mim passam, com a sua cacofonia, os corvos em bandos negros,
pedaços de papel queimado oscilando num céu ventoso.
A sua voz é a única que está a protestar, a protestar.
Julgo que o mar não vai mesmo aparecer.
        Os verdes e altos prados brilham como iluminados por dentro.
     Chego a um arbusto de bagas tão maduras: é um arbusto de moscas,
suspendendo os seus abdómens azuis esverdeados e os vidrilhos alados de um biombo chinês.
O festim de mel das bagas surpreendeu-as; julgam-se no paraíso.
Para além de uma curva, as bagas e os arbustos acabam.

A única coisa que vem a seguir é o mar.
De entre duas colinas sopra contra mim um vento súbito,
sacudindo como fantasmas a sua roupa branca contra o meu rosto.
Estas colinas são demasiado verdes e suaves para terem saboreado o sal.
Sigo, entre elas, a vereda aberta pelas ovelhas. Uma última curva leva-me
até à face norte das colinas, e a face é uma rocha alaranjada
que olha para nada, nada a não ser uma grande extensão
de luzes brancas e cor de estanho e um ruído como o de um ourives
batendo sempre um metal rebelde.

Sylvia Plath, Pela Águatrad. Mª de Lourdes Guimarães 

22 outubro, 2015

Sylvia Plath

Lá no alto, num ramo firme
arqueia-se uma gralha negra toda molhada
arranjando e voltando a arranjar as penas à chuva.
Não espero nada

que venha lançar fogo à paisagem
no interior dos meus olhos, nem procuro
mais no tempo inconstante qualquer desígnio,
mas deixo as folhas manchadas cair conforme caem,
sem cerimónia ou maravilha.

Embora - admito-o - deseje
ocasionalmente alguma resposta
do céu mudo, não posso honestamente queixar-me:
uma certa luz pode ainda
surgir incandescente

da mesa da cozinha ou da cadeira
como se um fogo celestial tornasse
seu, de um instante para o outro, os mais estranhos objectos,
assim consagrando um intervalo
de outro modo inconsequente

por nos dar grandeza e glória,
ou até amor. De qualquer modo, caminho agora
atenta (pois isso poderia acontecer
mesmo nesta paisagem triste e arruinada); descrente,
mas astuta, ignorante

de que um anjo se decida a resplandecer
repentinamente a meu lado. Apenas sei que uma gralha
ordenando as suas penas negras pode brilhar
de tal maneira que prenda a minha atenção, erga
as minhas pálpebras, e conceda

um breve repouso com medo
de uma neutralidade total. Com sorte,
viajando teimosamente por esta estação
de fadiga, acabarei
por juntar um conjunto

de coisas. Os milagres acontecem
se gostares de invocar aqueles espasmódicos
gestos de luminosos milagres. A espera recomeçou de novo,
a longa espera pelo anjo,
por essa rara, fortuita visita.

Sylvia Plath, Pela Água, trad. Mª de Lourdes Guimarães 

08 janeiro, 2015

Sylvia Plath

The frost makes a flower, 
the dew makes a star.


Sylvia Plath

16 maio, 2014

 “what did my arms do before they held you?”    Sylvia Plath
Pág78, da revista La Révolution Surrealiste, nº12, 1929
No centro "je ne vois pas la (femme) cachée dans la fôret" de René Magritte.
A rodear a pintura, o grupo surrealista de Paris:

Maxime Alexandre, Louis Aragon, André Breton, Luis Bunuel, Jean Caupenne;

Salvador Dalì  e Paul Éluard;
Max Ernst  e Marcel Fourrier;

Camille Goemans  e  René Magritte;
Paul Nougé, Georges Sadoul, Yves Tanguy, André Thirion e Albert Valentin