NOVÍSSIMOS ANCIÃOS
Antigamente
os mitos eram as estórias que usávamos para nos explicarmos,
mas como podemos explicar
a forma como nos odiamos,
as coisas em que nos transformámos,
a forma como nos partimos em dois,
a forma como nos sobrecomplicamos?
Mas ainda somos míticos.
Ainda estamos em permanência presos
algures entre o heróico e o desprezível.
Ainda somos Devotos,
é isso que nos tornou tão monstruosos.
Parece que nos esquecemos
que somos muito mais
que a soma das coisas que nos pertencem.
Cada pessoa tem em si uma intenção a arder.
Olha de novo.
Permite-te vê-los.
Milhões de personagens
Cada um com as suas narrativas épicas
Cantando, “é duro ser anjo
Até teres sido demónio”.
Somos perfeitos por causa das nossas imperfeições,
Temos de manter a esperança
Temos de ser pacientes:
Quando escavarem o nosso tempo
hão de encontrar-nos,
os Novíssimos Anciãos.
Tudo o que aqui temos
é tudo o que sempre tivemos.
Temos ciúme,
ternura,
blasfémias e dádivas.
Mas a condição de um povo que esqueceu os seus mitos
e imagina que de algum modo
o Agora é tudo o que existe
– é uma triste condição,
toda ela isolação e tormento.
Mas a vida nas tuas veias
é Divina, heróica.
Nasceste para a grandeza.
Acredita nisso,
sabe-o,
colhe-o nas lágrimas dos poetas.
Sempre houve heróis,
sempre houve vilões,
as apostas podem ter mudado
mas realmente não há diferença.
Sempre houve cobiça,
e mágoa, e ambição.
Ciúme, amor,
delito e contrição.
Somos os mesmos seres que começaram,
ainda vivendo
em toda a nossa fúria e baixeza e conflito.
Odisseias quotidianas.
Sonhos versus decisões.
As estórias estão aí, se as ouvires.
Somos nós as estórias.
És tu as estórias.
E o teu medo e a tua esperança são tão velhos
como a linguagem do fumo,
a linguagem do sangue,
a linguagem do amor langoroso,
Os Deuses estão aqui todos.
Porque os Deuses estão em nós.
[…]
Kate Tempest (Inglaterra, 1985 - )
os mitos eram as estórias que usávamos para nos explicarmos,
mas como podemos explicar
a forma como nos odiamos,
as coisas em que nos transformámos,
a forma como nos partimos em dois,
a forma como nos sobrecomplicamos?
Mas ainda somos míticos.
Ainda estamos em permanência presos
algures entre o heróico e o desprezível.
Ainda somos Devotos,
é isso que nos tornou tão monstruosos.
Parece que nos esquecemos
que somos muito mais
que a soma das coisas que nos pertencem.
Cada pessoa tem em si uma intenção a arder.
Olha de novo.
Permite-te vê-los.
Milhões de personagens
Cada um com as suas narrativas épicas
Cantando, “é duro ser anjo
Até teres sido demónio”.
Somos perfeitos por causa das nossas imperfeições,
Temos de manter a esperança
Temos de ser pacientes:
Quando escavarem o nosso tempo
hão de encontrar-nos,
os Novíssimos Anciãos.
Tudo o que aqui temos
é tudo o que sempre tivemos.
Temos ciúme,
ternura,
blasfémias e dádivas.
Mas a condição de um povo que esqueceu os seus mitos
e imagina que de algum modo
o Agora é tudo o que existe
– é uma triste condição,
toda ela isolação e tormento.
Mas a vida nas tuas veias
é Divina, heróica.
Nasceste para a grandeza.
Acredita nisso,
sabe-o,
colhe-o nas lágrimas dos poetas.
Sempre houve heróis,
sempre houve vilões,
as apostas podem ter mudado
mas realmente não há diferença.
Sempre houve cobiça,
e mágoa, e ambição.
Ciúme, amor,
delito e contrição.
Somos os mesmos seres que começaram,
ainda vivendo
em toda a nossa fúria e baixeza e conflito.
Odisseias quotidianas.
Sonhos versus decisões.
As estórias estão aí, se as ouvires.
Somos nós as estórias.
És tu as estórias.
E o teu medo e a tua esperança são tão velhos
como a linguagem do fumo,
a linguagem do sangue,
a linguagem do amor langoroso,
Os Deuses estão aqui todos.
Porque os Deuses estão em nós.
[…]
Kate Tempest (Inglaterra, 1985 - )
trad. Cristina Tavares /José Pinto de Sá