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30 maio, 2014

Penso que sou feliz, mas como poderei saber isso?

Port-Cros

Nadar, mergulhar. Tenho barbatanas
graças às quais me reinvento.
Deslizo e permaneço entre montes
afundados. Sob a água, sob o futuro:

Talvez o agora seja algo idêntico. Os peixes
ensaiam uma espécie de simultaneidade; olha,
ali vai um cardume de doze frases
num silêncio pré-natal, no seu entretanto,

ocupado em comer água. Mais tarde
o quarto fica cheio de água. Blublublu, dizes.
Blublu, digo. Penso que sou feliz,
mas como poderei saber isso?

Herman de Coninck, Os Hectares da Memória, 1996




Fotografias a cor de Patrick de Spiegelaere:
vistas do mar. Pergunto-lhe os seus truques.
Nenhuns, diz ele. Esperar até às dez da noite,
e então consegues uma luz assim.

Esperar até aos cinquenta
E então consegues um poema assim.

Herman de Coninck, Os Hectares da Memória, 1996


Herman de Coninck (Mechelen,1944 - Lisboa,1997)



















Não é preciso muito para morar.
Alguém que diga "aqui" face ao incomensurável.

E um medalhão sobre a lareira,
um retrato de passe. Tão pequeno
é o inesquecível.

Herman de Coninck, Os Hectares da Memória,1996