30 julho, 2017

William Eggleston

William Eggleston
(Maravilhoso fotógrafo. Hoje é para ti, JPS.)

26 julho, 2017

O relâmpago Herberto


Nunca se sabe aquilo que basta. Talvez baste um poema, uma coisa mínima, viva, nossa, uma coisa rub-reptícia para empunhar diante do implacável acordo das formas exteriores. Também pode ser que nada baste. E nesse caso tanto faz escrever um romance ou cem poemas ou apenas um poema, ou ler, ou emendar o céu astronómico, ou manter-se parado no meio de um jardim húmido e silencioso, à noite. Até pode suceder que a morte não seja bastante. E isto, sim, é interrogativo.

Herberto Helder,  em Relâmpago, Revista de Poesia 36/37, Abril/Outubro de 2015 (pág.133)







CT, Sleeping Golden Head, 2014

A bondade é lúcida, clara e decidida, impiedosa com o compromisso e com a política.


Tristan Tzara, Manifesto DADA, 1918

25 julho, 2017

Harry Callahan

Foto de Franck Vergh.
Harry Callahan, Chicago, 1948


24 julho, 2017

Cornelia Parker

Cornelia Parker, Cold Dark Matter, 1991

Cornelia Parker






I resurrect things that have been killed off . 
(Cornelia Parker)

22 julho, 2017

László Moholy-Nagy

László Moholy-Nagy, Untitled (Multiple Portrait), c.1927

21 julho, 2017

Saul Leiter

Saul Leiter, Boy, c.1950

20 julho, 2017

Luis Barrágan

...dediquei-me à arquitectura como um ato sublime de imaginação poética… 

Luis Barrágan (México, 1902-1988)



19 julho, 2017

Tomas Tranströmer

Quisemos colaborar e mostrámos a nossa casa.
O visitante pensou: sim senhor, vivem muito bem.
O bairro de lata está no vosso interior.

Tomas Tranströmer, 50 Poemas (trad.Alexandre Pastor)

18 julho, 2017

Tomas Tranströmer

Por terra, não longe da população,
está, há meses, um jornal esquecido, pejado de acontecimentos.
Envelhece ao longo de noites e dias à chuva e ao sol,
está a caminho de se tornar uma planta, um repolho, a caminho de
    se unir à terra.
Tal como uma recordação, lentamente, se transforma em ti próprio.


Tomas Tranströmer, 50 Poemas (trad.Alexandre Pastor)


17 julho, 2017

Alberto Burri

Alberto Burri, Iron, 1960

16 julho, 2017

15 julho, 2017

Ainda Ritzos

Uma Palavra

Depois de esgotar tudo à sua volta e dentro de si,
e quando estava como que a naufragar,- então lembrava-se de pronunciar
uma única palavra : estátua ( e, naturalmente, pensava
em estátua grega, nua). E logo à sua volta
se abriam nomes-ilhas: um joelho brilhava
frente ao mar, a aljava do pequeno arqueiro
distinguia-se enterrada num montículo de areia fina.
Vestia-se, saía para a Ágora. "Bom dia", dizia.
Talhos, olarias, frutarias. Comprava uvas,
libertando aquele profundo, sereno e inesgotável
gesto dum braço de mármore amputado

Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)


14 julho, 2017

Carlos de Oliveira

De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
No segundo caso, o homem que não dorme pensa: "o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração."

Carlos de Oliveira, Trabalho Poético


13 julho, 2017

Mas as outras

Há certos versos - às vezes poemas inteiros -
que eu próprio não sei o que querem dizer. O que ignoro
retém-me ainda. E tu, tu tens razão em interrogar. Não interrogues.
Já te disse que não sei.
                                         Duas luzes paralelas
vindo do mesmo centro. O ruído da água
que cai, no inverno, da goteira a transbordar
ou o ruído de uma gota de água caindo
de uma rosa no jardim, regado há pouco,
devagar, devagarinho, uma tarde de primavera,
como o soluço de um pássaro.Não sei que quer dizer este ruído;contudo aceito-o.
As coisas que sei explico-tas,
sem negligência.
Mas as outras também acrescentam a nossa vida.
Eu olhava
o seu joelho dobrado, como ela dormia,
levantando o lençol -
não era apenas amor. Este ângulo
era o cume da ternura, e o cheiro
do lençol, a lavado e a primavera, completava
este inexplicável, que eu procurei,
em vão ainda, explicar-te.


Giánnis Ritsos (trad. Eugénio de Andrade), Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro 

12 julho, 2017

Giánnis Ritsos



















As palavras têm outra casca
lá mais para dentro
como as amêndoas 
e a paciência.


Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)

poetas que se reconhecem



Facilmente, entre eles, os poetas se reconhecem - não
por grandes palavras que deslumbram as pessoas, não
por gestos retóricos, apenas por algo
completamente trivial, de místicas dimensões, como Ifigénia
reconheceu imediatamente Orestes, mal ele lhe disse:
"Não eras tu que bordavas, no pátio, à sombra do choupo,
com belas cores, com alva tela,
o movimento errante do sol?" E ainda:
"Não estava a um canto do teu quarto, guardada,
a velha lança de Pélope?" E então ela
logo se inclinou sobre o seu ombro, cerrando os olhos,
a uma luz profunda, doce, como se o ensanguentado altar
ficasse todo coberto com essa alva tela que ela mesmo bordava
à sombra do choupo, nos quentes meios-dias, na pátria.

Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)

11 julho, 2017

Insaciável a dar

Insaciável a dar - algumas vezes até coisas
que não lhe pertenciam - como aquela montanha, por exemplo,
cor de malva no crepúsculo, com árvores de esmeralda, gravada
em vapores doirados: ou a sombra da andorinha nas espigas,
ou a forquilha caída, à noite, frente à cancela do jardim,
ou cabelos da bela mulher no acto de dizer "não".
Quanto às suas coisas - quais suas coisas? - não ficava com nenhuma;
Mantinha-se do que dava. E quando, alguma vez,
já nada tinha, cerrava os olhos, esperando
inventar algo muito maior do que ele próprio, e dá-lo.
Precisamente então, sentia que ele era aquele.

Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)

10 julho, 2017

Giánnis Ritsos


Creio na poesia, no amor, na morte,
e por isso mesmo creio na imortalidade. Escrevo um verso,
escrevo o mundo: existo; existe o mundo.
Da ponta do meu dedo mínimo corre um rio.
O céu é sete vezes azul. Esta pureza
é de novo a primeira verdade; a minha última vontade.



Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)