José Pinto de Sá, Self portrait, Maputo, dezembro 2017 |
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02 janeiro, 2018
01 maio, 2017
e aquele que espia o perfume
José Pinto de Sá, Maputo, 2016 |
X
Escolhe um grande chapéu cuja aba seduzamos. O olho recua um século nas províncias da alma. Pela porta de cré vivo vêem-se as coisas da planície: coisas vivas, ó coisas
excelentes!
(...)
muitas coisas sobre a terra para escutar e para ver, coisas vivas entre nós!
festas de comemoração ao ar livre para os aniversários das grandes árvores e cerimónias públicas em honra de um charco; consagrações de pedras negras, perfeitamente redondas, invenções de nascentes em lugares mortos, sagrações de tecidos na ponta das varas à aproximação dos desfiladeiros, (...)
muitas outras coisas ainda à altura das nossas têmporas: os curativos dos animais nos arrabaldes, as sublevações da multidão ao encontro dos tosquiadores, dos poceiros e dos capadores; as especulações na aragem das colheitas e a ventilação do feno na ponta das forquilhas sobre os telhados; as construções de cercas de terracota rosada, (...)
ah! todo o tipo de homens nas suas maneiras e feitios: comedores de insectos, de frutos de água; portadores de emplastros, de riquezas! (...) e o homem de nenhum ofício: homem do falcão, homem da flauta, homem das abelhas; aquele que extrai o seu prazer do timbre da sua voz, aquele que descobre a sua utilidade na contemplação de uma pedra verde; que faz arder para seu prazer um fogo de cortiças no telhado; que faz um leito de folhas odoríferas sobre a terra, e nele se deita e repousa; que pensa em desenhos de cerâmicas verdes para bacias de águas vivas; e aquele que andou em viagens e sonha voltar a partir; que viveu num país de grandes chuvadas;(...) aquele que tem opiniões acerca da utilização de uma cabaça; (...) aquele que recolhe o pólen num vaso de madeira (e o meu prazer, diz ele, está nesta cor amarela); aquele que come fritos, vermes das palmeiras, framboesas; aquele que adora o sabor do estragão; aquele que sonha com um pimento; (...) e aquele que espia o perfume do génio nas fendas recentes da pedra; (...)
Saint-John Perse, Habitarei o Meu Nome (trad. João Moita)
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27 março, 2017
José Pinto de Sá, Évora, 2017 |
devolvo-te ao sonho
e à palavra
se é sonho
e se é palavra
o que desejas
devolvo-te
a ti mesmo
se acaso
te procuras
desvio a luz
para que olhando
vejas
Y.K.Centeno , Perto da Terra
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14 outubro, 2016
Uma Faca só Lâmina
José Sá, Maputo, outubro 2016 |
Uma Faca só Lâmina
Assim como uma bala
enterrada no corpo,
fazendo mais espesso
um dos lados do morto;
assim como uma bala
do chumbo mais pesado,
no músculo de um homem
pesando-o mais de um lado;
qual bala que tivesse um
vivo mecanismo,
bala que possuísse
um coração ativo
igual ao de um relógio
submerso em algum corpo,
ao de um relógio vivo
e também revoltoso,
relógio que tivesse
o gume de uma faca
e toda a impiedade
de lâmina azulada;
assim como uma faca
que sem bolso ou bainha
se transformasse em parte
de vossa anatomia;
qual uma faca íntima
ou faca de uso interno,
habitando num corpo
como o próprio esqueleto
de um homem que o tivesse,
e sempre, doloroso
de homem que se ferisse
contra seus próprios ossos.
João Cabral de Melo Neto
Assim como uma bala
enterrada no corpo,
fazendo mais espesso
um dos lados do morto;
assim como uma bala
do chumbo mais pesado,
no músculo de um homem
pesando-o mais de um lado;
qual bala que tivesse um
vivo mecanismo,
bala que possuísse
um coração ativo
igual ao de um relógio
submerso em algum corpo,
ao de um relógio vivo
e também revoltoso,
relógio que tivesse
o gume de uma faca
e toda a impiedade
de lâmina azulada;
assim como uma faca
que sem bolso ou bainha
se transformasse em parte
de vossa anatomia;
qual uma faca íntima
ou faca de uso interno,
habitando num corpo
como o próprio esqueleto
de um homem que o tivesse,
e sempre, doloroso
de homem que se ferisse
contra seus próprios ossos.
João Cabral de Melo Neto
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25 setembro, 2016
18 setembro, 2016
16 setembro, 2016
Blue J
José Sá, Maputo, set 2016 |
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço -
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me falta
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te
procuram.
Herberto Helder, Poesia Toda
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04 setembro, 2016
José no ar
José Sá, Barberton Valley (Mpumalanga, África do Sul),
setembro 2016
setembro 2016
Hello, sun in my face. Hello
you who made the morning and spread it over the fields...Watch, now, how I
start the day in happiness, in kindness.
Mary Oliver
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21 maio, 2016
o amor
26 abril, 2016
rolas e njinguiritanes
31 março, 2016
José Sá, Maputo, mon amour #10, 2016 |
31.
os animais dotados de pianos interiores
entram em primeiro lugar.
Cristina Tavares, A voz, 2011
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