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07 abril, 2020

TRADUÇÕES DA QUARENTENA - 6 Jacques Prévert

TEMPO PERDIDO
Diante da porta da fábrica
o trabalhador de súbito pára
o bom tempo puxou-o pelo casaco
e quando ele se volta
e olha para o sol
muito vermelho muito redondo
sorrindo no seu céu de chumbo
pisca o olho
familiarmente
Diz lá camarada Sol
não achas
que é uma estupidez
dar um dia assim
a um patrão?

........

NA FLORISTA
Um homem entra na florista
e escolhe flores
a florista embrulha as flores
o homem mete a mão no bolso
para procurar o dinheiro
o dinheiro para pagar as flores
mas ao mesmo tempo pousa
subitamente
a mão no coração
e cai
Ao mesmo tempo que cai
o dinheiro rola pelo chão
e depois as flores caem
ao mesmo tempo que o homem
ao mesmo tempo que o dinheiro
e a florista fica ali
com o dinheiro que rola
com as flores que se estragam
com o homem que morre
evidentemente tudo isso é triste
e é preciso que ela faça qualquer coisa
a florista
mas ela não sabe o que fazer
ela não sabe por que ponta começar
há tantas coisas a fazer
com aquele homem que morre
aquelas flores que se estragam
e aquele dinheiro
aquele dinheiro que rola
que não pára de rolar.

Jacques Prévert (França, 1900-1977) tradução de Cristina Tavares e José Pinto de Sá