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18 agosto, 2016

o poeta

CT, o poeta, 2015



para entender que o que busco terá como alvo a alegria.

Federico Garcia Lorca

(80 anos após o seu assassinato)

02 março, 2015

Ode a Walt Witman

(...)
E tu, belo Walt Witman, dorme nas margens do Hudson
com a barba virada ao pólo e as mãos abertas.
Argila branca ou neve, a tua língua chama
camaradas que velem tua gazela sem corpo.
Dorme,não fica nada.
Uma dança de muros agita as pradarias
e a América afoga-se em máquinas e pranto.
Quero que o ar forte da noite mais profunda
tire flores e letras do arco onde dormes
e um garoto negro anuncie aos brancos do oiro
a chegada do reino das espigas.

Federico Garcia Lorca, Poemas, trad. Eugénio de Andrade 

28 fevereiro, 2015

Federico Garcia Lorca, Las Manos Cortadas, 1935-36

Gazel da Morte Sombria

Quero dormir como dormem as maçãs,
afastar-me do tumulto dos cemitérios.
Quero dormir como dorme o garoto
que queria cortar o coração no mar alto.

Não quero que me repitam que os mortos não perdem o sangue;
que a boca podre continua a pedir água.
Não quero saber dos martírios que dá a relva,
nem da lua com boca de serpente
trabalhando antes de amanhecer.

Quero dormir um instante,
um instante, um minuto, um século;
mas que saibam todos que não morri;
que sou o pequeno amigo do vento Oeste,
que sou a sombra imensa de minhas lágrimas.

Cobre-me com um véu pela aurora,
porque me arrojará punhados de formigas, 
molha com água dura os meus sapatos
para que a pinça do seu lacrau resvale.

Quero dormir como dormem as maçãs,
aprender um pranto que me limpe a terra;
quero viver como o garoto sombrio
que no mar alto queria cortar o coração.


Federico Garcia Lorca, Poemas, trad. Eugénio de Andrade

Dois marinheiros na margem

Trouxe no seu coração
um peixe do Mar da China.

Às vezes vê-se passar
diminutos nos seus olhos.

Esquece, sendo marinheiro
os bares e as laranjas.

Olha a água.


Federico Garcia Lorca, Poemas, trad. Eugénio de Andrade