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29 agosto, 2018

Sophia

Henri Matisse, La Chapelle du Rosaire de Vence, 1951
























Lançam os braços pela praia fora e a brancura dos seus pulsos penetra nas espumas.

Sophia de Mello Breyner Andersen, Coral

30 dezembro, 2017

o poema todo

Cristina Tavares, Novas Colagens (o poema todo), dez 2017


     Sei que o poema aparece, emerge e é escutado num equilíbrio especial da atenção, numa tensão especial da concentração. O meu esforço é para conseguir ouvir o «poema todo» e não apenas um fragmento. Para ouvir o «poema todo» é necessário que a atenção não se quebre ou atenue e que eu própria não intervenha. É preciso que eu deixe o poema dizer-se. Sei que quando o poema se quebra, como um fio no ar, o meu trabalho, a minha aplicação não conseguem continuá-lo.


Sophia de Mello Breyner Andresen , Arte Poética IV

16 outubro, 2017

Sophia


Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e me fita

Apenas sei que caminho como quem
É amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco


Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia (Círculo de Poesia, Moraes Editores, 1970)


10 novembro, 2016

Saul e Sophia

Saul Leiter, Boy, 1960













Como é estranha a minha liberdade

As coisas deixam-me passar
Abrem alas de vazio para que eu passe
Como é estranho viver sem alimento
Sem que nada em nós precise ou gaste
Como é estranho não saber.


Sophia de Mello Breyner Andersen, Antologia


02 abril, 2015

(...) a poesia é a relação pura do homem com as coisas. Isto é: uma relação com a realidade, tomando-a na sua pura existência. O poeta é aquele que vive com as coisas, que está atento ao real, que sabe que as coisas existem.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Colóquio, nº8, Abril 1960

30 outubro, 2014

José Augusto Castro
Há sempre um deus fantástico nas Casas
Em que eu vivo, e em volta dos meus passos
Eu sinto os grandes anjos cujas asas
Contêm todo o vento dos espaços.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar, 1947

13 junho, 2014

(hoje é para ti, Angela.)

Sabe, se quer que lhe diga, do que eu me lembro bem, e para mim o que é importante, são os sítios onde escrevi, as situações em que escrevi. Há um poema que diz: «Quando à noite desfolho e trinco as rosas». Isto é absolutamente verdade: eu ia para o jardim da minha avó colher rosas, a minha avó já tinha morrido e era um jardim semi-abandonado, colhia camélias no Inverno e rosas na Primavera. Trazia imensas rosas para casa, havia sempre uma grande jarra cheia delas em frente da janela, no meu quarto. E depois eu desfolhava e comia as rosas, mastigava-as... No fundo era a tentativa de captar qualquer coisa a que só posso chamar a alegria do universo, qualquer coisa que floresce.


Entrevista de Sophia de Mello Breyner Andresen a José Carlos de Vasconcelos 

12 junho, 2014

NO POEMA

Transferir o quadro o muro a brisa
A flor o copo o brilho da madeira
E a fria e virgem limpidez da água
Para o mundo do poema limpo e rigoroso;

Preservar de decadência morte e ruína
O instante real de aparição e da surpresa
Guardar num mundo claro
O gesto claro da mão tocando a mesa.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto

07 junho, 2014

E no quadro sensível do poema vejo para onde vou, reconheço o meu caminho, o meu reino, a minha vida.


Sophia de Mello Breyner, Arte Poética II

05 junho, 2014

     A poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema não fala duma vida ideal mas duma vida concreta: ângulo da janela, ressonância das ruas, das cidades e dos quartos, sombra dos muros, aparição dos rostos, silêncio, distância e brilho das estrelas, respiração da noite, perfume da tília e do orégão.


Sophia de Mello Breyner, Arte Poética II

25 abril, 2014

A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é uma arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência nem uma estética nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me uma intransigência sem lacuna. Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e dilui uma túnica sem costura. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta.


Sophia de Mello Breyner Andersen, Arte poética II