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01 maio, 2020

TRADUÇÕES DA QUARENTENA - 22 Paul Éluard


LIBERDADE
Nos meus cadernos de escola
Na carteira e nas árvores
Na areia e na neve
Escrevo o teu nome
Em todas as páginas lidas
Em todas as páginas em branco
Pedra sangue papel ou cinza
Escrevo o teu nome
Nas imagens douradas
Nas armas dos guerreiros
Na coroa dos reis
Escrevo o teu nome
Na selva e no deserto
Nos ninhos nas giestas
No eco da minha infância
Escrevo o teu nome
Nas maravilhas das noites
No pão branco dos dias
Nas estações em noivado
Escrevo o teu nome
Nos meus retalhos de céu
No charco sol bafiento
No lago lua viva
Escrevo o teu nome
Nos campos no horizonte
Nas asas dos pássaros
E no moinho das sombras
Escrevo o teu nome
Em cada sopro de aurora
No mar nos barcos
Na montanha demente
Escrevo o teu nome
Na espuma das nuvens
Nos suores da trovoada
Na chuva espessa e enfadonha
Escrevo o teu nome
Nas formas cintilantes
Nos sinos das cores
Na verdade física
Escrevo o teu nome
Nos trilhos despertos
Nas estradas desenroladas
Nas praças que transbordam
Escrevo o teu nome
Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Nas minhas casas reunidas
Escrevo o teu nome
No fruto cortado em dois
Do espelho e do meu quarto
Na minha cama concha vazia
Escrevo o teu nome
No meu cão guloso e meigo
Nas suas orelhas erguidas
Na sua pata desajeitada
Escrevo o teu nome
No trampolim da minha porta
Nos objectos familiares
Na vaga do fogo bendito
Escrevo o teu nome
Em toda a carne consagrada
Na testa dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo o teu nome
Na janela das surpresas
Nos lábios atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo o teu nome
Nos meus refúgios destruídos
Nos meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo o teu nome
Na ausência sem desejo
Na solidão nua
Nos degraus da morte
Escrevo o teu nome
Na saúde refeita
No risco desaparecido
Na esperança sem memória
Escrevo o teu nome
E pelo poder de uma palavra
Recomeço a minha vida
Nasci para te conhecer
Para te nomear
Liberdade.
.
.
Paul Éluard (França,1895-1952)
(trad.CT/JPS)

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06 março, 2018

Paul Eluard

Agora escuto a voz

Tudo que ela não disse
Tudo aquilo que não pude supôr ou suspeitar

Escuto ao redor de mim a dança do silêncio


Paul Eluard, Poemas Políticos (trad. Carlos Grifo)



04 março, 2017

Harry e Paul

Harry Callahan, Detroit, 1948



















J’entends ta voix dans tous les bruits du monde.
Paul Eluard

28 outubro, 2016

o mundo inteiro depende dos teus olhos



A curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito
É uma dança de roda e de doçura.
Berço nocturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo o que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.

Folhas do dia e musgos do orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes das cores.

Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar.


Paul Eluard, Algumas das Palavras (trad. António Ramos Rosa )


George Hendrik Breitner, Girl in a Red Kimono, c.1893-95

03 março, 2014

Nush e Paul Eluard



























Ela está de pé nas minhas pálpebras
com os dedos nos meus entrelaçados.
Ela cabe toda em minhas mãos,
ela tem a cor dos meus olhos
e desaparece na minha sombra
como uma pedra sobre o céu.

Tem sempre os olhos abertos
e não me deixa dormir.
Os sonhos dela à luz do dia
fazem os sóis evaporar-se,
fazem-me rir, chorar e rir,
falar sem ter nada a dizer.

Paul Eluard, "Algumas das Palavras"
(...)
Canto a grande alegria de te cantar,
A grande alegria de te ter ou te não ter,
A candura de te esperar, a inocência de te conhecer,
Ó tu que suprimes o esquecimento, a esperança e a ignorância,
Que suprimes a ausência e que me pões a cantar
O mistério em que o amor me cria e me liberta.

Tu és pura, tu és ainda mais pura do que eu próprio.

Paul Eluard, "Algumas das Palavras"


Nush e Paul Eluard

08 fevereiro, 2008

inventez ce qui a dejá été inventé

Laissez les influences jouer librement, inventez ce qui a déjà été inventé, ce qui est hors de doute, ce qui est incroyable, donnez à la spontanéité sa valeur pure. Soyez celui à qui l'on parle et qui est entendu. Une seule vision, variée à l'infini.

Le poète est celui qui inspire bien plus que celui qui est inspiré.

Paul Éluard , "Ralentir Travaux", 1930