As pegadas de «O Castelo» de Kafka. O António tinha uma fixação na personagem do agrimensor. Não foi descoberta dele, como quase tudo, foi na leitura de Malraux e na conversa de Virgílio Ferreira que ele deu conta da personagem e do que significava. O António raramente chegou por ele aos imanes da sua pintura. Precisou sempre de ser alertado para as coisas. Virgílio Ferreira apresentou-lhe «As Vozes do Silêncio», ficou-lhe a pintura sustentada. Apresentou-lhe Kafka, Beckett, Joyce. Explicou-lhe como se liam os livros, sublinhou as personagens e o António fez o melhor que podia ter feito, absorveu as notas de Virgílio Ferreira (que falava com ele abertamente, pois não sendo escritor não se supunha ameaçado, e o António a mesma coisa, não sendo o Ferreira artista plástico, também não lhe dava susto. Assim não sendo nunca tinham falado um com o outro), leu e releu os livros, os mesmos livros, entre os 30 anos e a morte, repetia as personagens e as linhas dos livros como um mantra. Não leu muito mais que isto. E não é mau que assim seja. Ler muitos livros não é necessariamente mais valioso que ler cinco ou seis verdadeiramente essenciais, tantas as vezes quantas as necessárias para embeber os olhos e as mãos naquilo. E Charrua leu comeu estes livros: O Processo, O Castelo, A Metamorfose (pouco porque se revia demasiado no protagonista), Ulisses, As Vozes do Silêncio, A Luta com o Anjo (mais do que qualquer outro), A Esperança é a Condição Humana (como se fosse um mesmo livro em duas partes, um Vermelho e Negro do existencialismo, excertos e excertos de Beckett, em colagem mental, sem distinguir os livros (ficava a saborear o timbre e contraste das palavras sem se preocupar com fios narrativos e sem nunca estabelecer significações interpretativas, simbólicas, só int.) já no fim da vida O Homem Precário e a Literatura. É tudo isto foi passando para a pintura, até para a escultura, como um suor do que lia e ouvia de Virgílio Ferreira. Do Castelo, ficaram para sempre as pegadas do agrimensor, fitas métricas, escalas, escadas, pesos, medidas de litro, medidas de ar, ventoinhas, o elefante (o castelo) o senhor larousse (o agrimensor) que primeiro aparecia inteiro até só lhe ficar o chapéu).
2 comentários:
As pegadas de «O Castelo» de Kafka.
O António tinha uma fixação na personagem do agrimensor.
Não foi descoberta dele, como quase tudo, foi na leitura de Malraux e na conversa de
Virgílio Ferreira que ele deu conta da personagem e do que significava.
O António raramente chegou por ele aos imanes da sua pintura. Precisou sempre de ser alertado para as coisas.
Virgílio Ferreira apresentou-lhe «As Vozes do Silêncio», ficou-lhe a pintura sustentada.
Apresentou-lhe Kafka, Beckett, Joyce. Explicou-lhe como se liam os livros, sublinhou as personagens e o António fez o melhor que podia ter feito, absorveu as notas de Virgílio Ferreira (que falava com ele abertamente, pois não sendo escritor não se supunha ameaçado, e o António a mesma coisa, não sendo o Ferreira artista plástico, também não lhe dava susto. Assim não sendo nunca tinham falado um com o outro), leu e releu os livros, os mesmos livros, entre os 30 anos e a morte, repetia as personagens e as linhas dos livros como um mantra. Não leu muito mais que isto. E não é mau que assim seja.
Ler muitos livros não é necessariamente mais valioso que ler cinco ou seis verdadeiramente essenciais, tantas as vezes quantas as necessárias para embeber os olhos e as mãos naquilo. E Charrua leu comeu estes livros: O Processo, O Castelo, A Metamorfose (pouco porque se revia demasiado no protagonista), Ulisses, As Vozes do Silêncio, A Luta com o Anjo (mais do que qualquer outro), A Esperança é a Condição Humana (como se fosse um mesmo livro em duas partes, um Vermelho e Negro do existencialismo, excertos e excertos de Beckett, em colagem mental, sem distinguir os livros (ficava a saborear o timbre e contraste das palavras sem se preocupar com fios narrativos e sem nunca estabelecer significações interpretativas, simbólicas, só int.) já no fim da vida O Homem Precário e a Literatura.
É tudo isto foi passando para a pintura, até para a escultura, como um suor do que lia e ouvia de Virgílio Ferreira.
Do Castelo, ficaram para sempre as pegadas do agrimensor, fitas métricas, escalas, escadas, pesos, medidas de litro, medidas de ar, ventoinhas, o elefante (o castelo) o senhor larousse (o agrimensor) que primeiro aparecia inteiro até só lhe ficar o chapéu).
E a Condição Humana *
Só into **
É tudo isto foi passando ***
Raio dos correctores automáticos... Tiram assentos de onde estavam certos, põe onde não deviam estar.
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