31 janeiro, 2016

O Guardador de Águas

Henriette Browne, A Nun (Mme Jules de Saux), 1850-70 (detalhe)

























Nas Metamorfoses, em duzentas e quarenta fábulas,
      Ovídio mostra seres humanos transformados em 
      pedras, vegetais, bichos, coisas.
Um novo estágio seria que os entes já transformados
      falassem um dialeto coisal, larval,pedral, etc.
      Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, 
      edênica, inaugural -
Que os poetas aprenderiam - desde que voltassem às 
      crianças que foram
As rãs que foram
As pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de     
     reaprender a errar a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma 
     nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.


Manoel de Barros, O Guardador de Águas

Nenhum comentário: