"The way Hope builds his House", manuscrito de Emily Dickinson , Amherst Manuscripts |
06 novembro, 2013
04 novembro, 2013
03 novembro, 2013
"-Alguém se magoou?
-Não, valha-nos ao menos isso, - disse Mrs. Beaver - tirando duas criadas que perderam a cabeça e saltaram pelo meio da clarabóia para o pátio. Não corriam nenhum perigo. O fogo nunca chegou aos quartos, devo dizer."
Primeiras linhas de
"Um Punhado de Pó"
Evelyn Waugh
trad. Daniel Jonas
Cotovia, 2008
02 novembro, 2013
"Do alto das furnas via-se o burgo dormindo; uma névoa de Primavera, fria, engelhava as casas e o arvoredo. Era dia Santo, com feira no Salgueiral. Tinha de se partir cedo, dando tempo à mula para arrastar a velhice e vencer os solavancos do caminho, a subida da serra escalvada, onde a urze e os corvos vigiavam a solidão."
Primeiras linhas de
"A Casa da Malta"
Fernando Namora
Bertrand, 1978
01 novembro, 2013
"A infância não explica a vida; e a vida não explica a obra. Mas uma e outra se condicionam e esclarecem. Quando em torno de uma obra, a vida não cessa de fazer um tumulto que lhe serve de obstáculo ou de publicidade, quando a própria obra se refere à infância assim como ao mistério a que tudo se reduz, é bem legítimo debruçarmo-nos sobre o que foi seu húmus e constitui sua lenda.
A obra de Orson Welles permanece marcada pela impureza da vida, não conseguiu desligar-se dessa vida que se apresenta como uma infância prolongada, geralmente admirável, e por vezes monstruosa."
Primeiras linhas de
Orson Welles
Maurice Bessy
Editorial Presença, 1965
31 outubro, 2013
"Há dias em que os deuses falam ao meu coração imundo. Eu não sei se Deus existe. Jamais me foi dado contemplar a sombra da sua face. As suas mãos não descem à noite sobre as minhas pálpebras, trazendo apaziguamento às insónias que me devoram. Pela manhã ninguém me diz: Levanta-te e Caminha."
Primeiras linhas de
Sapos Vivos e Outros Monstros
Maria Regina Louro
Relógio D'Água, 1984
30 outubro, 2013
"Na cozinha, ele serviu-se de uma bebida e olhou para a mobília de quarto de cama que estava no pátio da frente.
O colchão estava a descoberto e os lençóis às riscas estavam em cima da cómoda, ao lado de dois travesseiros. Fora isso as coisas estavam na mesma como quando estavam no quarto de cama: mesinha-de-cabeceira e candeeiro de leitura, do lado dele da cama, mesinha-de-cabeceira e candeeiro de leitura, do lado dela.
O lado dele; o lado dela.
Ele ficou a pensar nisso, enquanto bebia o uísque."
Primeiras linhas de
"De Que Falamos Quando Falamos de Amor"
Raymond Carver
trad. Carlos Santos
Teorema, 1987
29 outubro, 2013
"O coronel destapou a caixa do café e verificou que não havia mais que uma colherinha. Tirou a panela do fogão, despejou metade da água no chão de terra, e com uma faca raspou o interior da caixa para dentro da panela até se soltarem as últimas raspas de pó de café misturadas com ferrugem da lata.
Ao esperar que fervesse a infusão, sentado junto ao fogareiro de barro numa atitude de confiada e inocente expectativa, o coronel teve a sensação de que lhe nasciam fungos e lírios venenosos nas tripas. Era Outubro.
Primeiras linhas de
"Ninguém Escreve Ao Coronel"
Gabriel Garcia Márquez
Biblioteca Visão, 2000
28 outubro, 2013
"Não é preciso ser muito sagaz para saber que uma raposa é mais esperta do que uma minhoca, mas é necessário ser mais do que sagaz para saber o que isso significa, se é que isso significa alguma coisa. Atribuímos inteligência a homens, animais, computadores, e ultimamente, começámos a falar de edifícios inteligentes, de automóveis inteligentes e até de esquentadores ou cafeteiras inteligentes. Por este andar a inteligência vai estar tão disseminada à nossa volta, integrada com tanta eficácia nos objectos de uso corrente, que nos permitirá o supremo prazer de voltarmos a ser estúpidos e de gostarmos de o ser."
Primeiras linhas de
"Teoria da Inteligência Criadora"
José Antonio Marina
trad. Fernando Moutinho
Caminho, 1995
27 outubro, 2013
"Deitado de bruços, sobre a caruma do pinhal, ele ouvia o vento soprar entre a ramaria das árvores. A encosta da montanha, no ponto em que repousava, tinha pouco declive, mas mais abaixo tornava-se íngreme e ele via a curva negra da estrada alcatroada que seguia o desfiladeiro."
Primeiras linhas de
"Por Quem Os Sinos Dobram"
Ernest Hemingway
trad. Monteiro Lobato
Livros do Brasil, s/d
26 outubro, 2013
"Um sábio disse uma vez que, para além de perder a mãe, não há nada mais saudável para uma criança do que perder o pai. Embora, com toda a franqueza, eu jamais pudesse subscrever semelhante afirmação, seria a última pessoa a rejeitá-la liminarmente. Naquilo que me diz respeito, se enunciasse uma doutrina do género, então não denotaria qualquer vestígio de amargura em relação ao mundo, ou melhor dito, não traria comigo a mágoa que implica o mero som destas palavras."
Primeiras linhas de
"Os Peixes Também Sabem Cantar"
Halldór Laxness
trad. Mário Cruz e João Cruz
Cavalo de Ferro, 2010
25 outubro, 2013
"Eu bem n'a sinto! Eu bem n'a sinto! apesar das fuligens do céo mal humorado, e da ventania que me apupa, atravez das frinchas das janellas. Uma pulsação vigora as alamedas, nas ascendencias inexhauriveis da seiva, rebentando em folhagens de contextura fina, por fórma que já não é ficção o caso do homem que ouvia crescer herva nos campos, visto que eu ha quinze dias oiço, no recanto do parque onde vivo, sob uma umbella vermelha de paisagista, o borborinho da natureza que se revigora e emplumesce, n'uma dessas orgias de côr que faziam rir o olho azul de Rousseau,"
"O Paiz das Uvas"
Fialho d'Almeida
Livraria Clássica Editora, 1913
24 outubro, 2013
"Alvy Singer, sobre um fundo neutro, fala para a câmara.
Alvy: Vou contar-lhes uma velha anedota. Hum, duas velhotas estão numa pousada de Catskill Mountain e uma delas diz: "Hei, a comida aqui é mesmo horrível." Responde a outra: "Sim, eu sei, e ainda por cima as doses são tão pequenas..." Bem, é assim que eu, de uma forma essencial, sinto a vida. Cheia de solidão, de tristeza, de sofrimento e de infelicidade, e tudo passa demasiadamente depressa."
Primeiras linhas de
Annie Hall
Woody Allen
trad. Luís de Almeida Campos
Bertrand Editora, 1989
22 outubro, 2013
"A Casa é uma teoria volumétrica por entre a vegetação, maior do que todo o Mundo, impossível de arrumar. Por torres e telhados se levanta, paredes de cal alternando com panos de muralha, e um bestiário a habita, nela cirandando ou em torno lhe correndo, heráldicos bichos esguios, indistintos da paisagem. Na construção, que não obedece aos caracteres do meio, um pouco ao revés de certa convicção de sangue da família, a vida se concentra na cozinha que ele virá a pintar."
Primeira linhas de
"Amadeo"
Mário Cláudio
Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1986
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