tinha
aprendido que era muito importante criar desobjectos.
certa
tarde, envolto em tristezas, quis recusar o cinzento. não munido de nenhum
artefacto alegre, inventei um espanador de tristezas.
era de
difícil manejo – mas funcionava.
(...)
há qualquer coisa de sapiência na palavra tristeza. e algumas
tristezas não são de espanar – um dia posso descobrir que elas me fazem falta e
ter que ir buscá-las na lixeira da catin ton.
vou encher-me de silêncios e imitar as pedras. adormecer entre as
pedras pode ser que me contagie delas. depois de conseguir ser pedra vou
exercitar o sorriso dessa pedra que eu for. com esse sorriso vou iniciar uma
construção...
uma construção pode bem ser o lado avesso de uma certa tristezura.
Ondjaki, Materiais para Confecção de um Espanador de Tristezas, 2009