08 fevereiro, 2008

inventez ce qui a dejá été inventé

Laissez les influences jouer librement, inventez ce qui a déjà été inventé, ce qui est hors de doute, ce qui est incroyable, donnez à la spontanéité sa valeur pure. Soyez celui à qui l'on parle et qui est entendu. Une seule vision, variée à l'infini.

Le poète est celui qui inspire bien plus que celui qui est inspiré.

Paul Éluard , "Ralentir Travaux", 1930

07 fevereiro, 2008

Callum Innes


Callum Innes, "Exposed Painting Cobalt-Violet", 2007

05 fevereiro, 2008

Os nomes

Não os escrevi no tecto por serem grandiosos, mas por serem companheiros. Rojas Giménez, o transumante, o nocturno, trespassado pelos adeuses, morto de alegria, despassarado, louco da sombra.
Joaquín Cifuentes, cujos tercetos rolavam como pedras no rio.
Federico, que me fazia rir como mais ninguém e que nos enlutou a todos por um século.
Paul Eluard, cujos olhos cor de miosótis me parece que continuam celestes e que conservam a sua força azul debaixo da terra.
Miguel Hernández, assobiando-me à maneira de um rouxinol das árvores da Rua da Princesa antes de os presídios apanharem o meu rouxinol.
Nazim, aedo rumoroso, cavaleiro valente, companheiro.
Por que se foram embora tão depressa? Os seus nomes não resvalarão das vigas. Cada um deles foi uma vitória. Juntos foram para mim toda a luz. Agora uma pequena antologia das minhas dores.

Pablo Neruda, “Uma Casa na Areia”

04 fevereiro, 2008

Robert Mapplethorne


Robert Mapplethorne, "Iris", 1989

02 fevereiro, 2008

Herberto e Kiki


Kiki Smith, "Standing"
Uma golfada de ar que me acorda numa imagem larga.
Os braços apertam os pulmões da estrela.
e o golpe freme a toda a altura negra. Tremo
na linha sísmica que atravessa o sono.
De ferro em brasa na cabeça,
medo e delírio,
o sombrio trabalho de beleza com as unhas fincadas
na matéria atenta
à olaria.
E súbito, apenas pelo uso elementar das coisas,
esse júbilo terrível.

Herberto Helder, "Ou o Poema Contínuo"





01 fevereiro, 2008

russell edson, não cresças na sala

Russell Edson

Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados dizendo aos pais que era uma árvore.

Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete.

Ele disse eu estava a brincar eu não sou uma árvore e deixou cair as folhas.

Mas os pais disseram olha é outono.


Russell Edson, "O Túnel"

28 janeiro, 2008

25 janeiro, 2008

Wolfgang Laib


Wolfgang Laib, 2007

23 janeiro, 2008

Kiki


Kiki Smith, "Standing"(pormenor)

Kiki Smith Standing


Kiki Smith,"Standing"

22 janeiro, 2008

dois retratos de Paul Celan



UMA VEZ
ouvi-o,
lavava o mundo,
invisível, toda a noite,
real.

Paul Celan, "Sete Rosas Mais Tarde"

Paul Celan

Reunido está o que vimos,
para despedida de ti e de mim:
o mar, que nos lançava noites para a terra,
a areia, que as atravessou connosco,
a urze vermelho-ferrugem além
onde o mundo nos aconteceu.

Paul Celan, "Sete Rosas Mais Tarde"

21 janeiro, 2008


Andy Goldsworthy, "Rowan Leaves With Hole"

20 janeiro, 2008

Land Art


Andy Goldsworthy

(para Miguel)

18 janeiro, 2008

Daniel e Dennis

(...)
Põe uma escada e sobe ao cimo do que vês

Daniel Faria, "Homens que São Como Lugares Mal Situados"


Dennis Oppenheim, "Digestion", 1989

16 janeiro, 2008

Kenneth Nolan


Kenneth Nolan, "Gift", 1961

15 janeiro, 2008

pour mon petit chat gris

O gato dito doméstico ou de lineu

Primo em linha recta do Gato Legível, uma nem sempre fundada tradição de abandalho pesa sobre a origem egípcia, eminentemente cruel e aristocrática, dos da sua espécie. O Gato urina com êxito nos objectos de lar, e quando a angina estala enfim os peitos da patroa que julgou poder fretá-lo para pequenas voltas, O GATO esfrega os olhos, abre uma janela, e voa toda a noite, de barriga para cima. Nestas surtidas voantes encontra-se por vezes com os seus camaradas libertários, e então acendem fogos que, uma vez por ano, formam cortejo em direcção à Lua, onde um gato já cego os devolve aos espaços, transformados em cinza e em máquinas de luar.
Mário Cesariny, "Manual de Prestidigitação"