Josef Albers, Homage to the Square, 1965 |
01 junho, 2014
31 maio, 2014
30 maio, 2014
Penso que sou feliz, mas como poderei saber isso?
Port-Cros
Nadar, mergulhar. Tenho barbatanas
graças às quais me reinvento.
Deslizo e permaneço entre montes
afundados. Sob a água, sob o futuro:
Talvez o agora seja algo idêntico. Os peixes
ensaiam uma espécie de simultaneidade; olha,
ali vai um cardume de doze frases
num silêncio pré-natal, no seu entretanto,
ocupado em comer água. Mais tarde
o quarto fica cheio de água. Blublublu, dizes.
Blublu, digo. Penso que sou feliz,
mas como poderei saber isso?
Herman de Coninck, Os Hectares da Memória, 1996
Fotografias a cor de Patrick de Spiegelaere:
vistas do mar. Pergunto-lhe os seus truques.
Nenhuns, diz ele. Esperar até às dez da noite,
e então consegues uma luz assim.
Esperar até aos cinquenta
E então consegues um poema assim.
Herman de Coninck, Os Hectares da Memória, 1996
Nadar, mergulhar. Tenho barbatanas
graças às quais me reinvento.
Deslizo e permaneço entre montes
afundados. Sob a água, sob o futuro:
Talvez o agora seja algo idêntico. Os peixes
ensaiam uma espécie de simultaneidade; olha,
ali vai um cardume de doze frases
num silêncio pré-natal, no seu entretanto,
ocupado em comer água. Mais tarde
o quarto fica cheio de água. Blublublu, dizes.
Blublu, digo. Penso que sou feliz,
mas como poderei saber isso?
Herman de Coninck, Os Hectares da Memória, 1996
Fotografias a cor de Patrick de Spiegelaere:
vistas do mar. Pergunto-lhe os seus truques.
Nenhuns, diz ele. Esperar até às dez da noite,
e então consegues uma luz assim.
Esperar até aos cinquenta
E então consegues um poema assim.
Herman de Coninck, Os Hectares da Memória, 1996
28 maio, 2014
Os músicos deslizam
até ao pescoço na vala
dos músicos, lá em baixo,
afinam os instrumentos
antes de tocar e depois
a ferramenta volta
para o estojo, infelizmente
não andei na escola de música
mas admiro sempre
o piano que toca quando é batido
no lugar certo
e ainda mais admirável
é a música de ópera
mas porque razão?
seria muito longo
dar os pormenores,
tenho tanta vergonha
no que diz respeito à música
não posso mostrar as entranhas
embora traga sempre
música lá dentro.
Endre Kukorelly, Um Jardim de Plantas Medicinais, 1997
até ao pescoço na vala
dos músicos, lá em baixo,
afinam os instrumentos
antes de tocar e depois
a ferramenta volta
para o estojo, infelizmente
não andei na escola de música
mas admiro sempre
o piano que toca quando é batido
no lugar certo
e ainda mais admirável
é a música de ópera
mas porque razão?
seria muito longo
dar os pormenores,
tenho tanta vergonha
no que diz respeito à música
não posso mostrar as entranhas
embora traga sempre
música lá dentro.
Endre Kukorelly, Um Jardim de Plantas Medicinais, 1997
Segundo um estrangeiro vaidoso, os Húngaros tiveram muitos heróis. Um tipo muito desagradável. Na opinião dele, há muitos heróis, poetas e patriotas, desnecessariamente assinalados, tanta pedra, tanto ferro, por exemplo lá só existiram o Bismarck ou o Goethe com estátuas, pronto, porque é que têm de homenagear tanto? Enfim, era um chato. Pois então, vamos homenagear. Mais lhe valia beber uma cerveja. Aliás, não há nenhuma estátua de ferro. Nem mesmo as coroas de louros são de ferro. Nem as bandeiras. Nem a bruxa da história tem o nariz de ferro. Usam outros metais.
27 maio, 2014
25 maio, 2014
24 maio, 2014
Junto palavras na
máquina de escrever, pela noite dentro, pensando no dia de hoje. Tão bem que
nós falávamos todos. Uma língua é um mapa dos nossos erros. Frederick Douglass
escrevia num inglês mais puro que o de Milton. As pessoas sofrem
deseperadamente na pobreza. Existem métodos,
mas não os usamos. Joana, que não sabia ler, falava uma forma camponesa
de francês. Algum do sofrimento é: é duro dizer a verdade; isto é a América;
não posso tocar-te agora. Na América temos só o tempo presente. Estou em
perigo. Estás em perigo. O queimar de um livro não desperta em mim qualquer
sensação. Sei que queimar dói. Há chamas de napalme em Catonsville, Maryland.
Sei que queimar dói. A máquina de escrever está sobreaquecida, a minha boca
queima, não te posso tocar agora e esta é a língua do opressor.
Adrienne Rich, 1968 (tradução Ana Luísa Amaral)
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