(hoje é para ti, Angela.)
Sabe, se quer que lhe diga, do que eu
me lembro bem, e para mim o que é importante, são os sítios onde escrevi, as
situações em que escrevi. Há um poema que diz: «Quando à noite desfolho e
trinco as rosas». Isto é absolutamente verdade: eu ia para o jardim da minha
avó colher rosas, a minha avó já tinha morrido e era um jardim semi-abandonado,
colhia camélias no Inverno e rosas na Primavera. Trazia imensas rosas para
casa, havia sempre uma grande jarra cheia delas em frente da janela, no meu
quarto. E depois eu desfolhava e comia as rosas, mastigava-as... No fundo era a
tentativa de captar qualquer coisa a que só posso chamar a alegria do universo,
qualquer coisa que floresce.
Entrevista de Sophia de Mello Breyner Andresen a José Carlos de
Vasconcelos