08 abril, 2015

Dürer

Albrecht Dürer, Study of a Lily, 1526

07 abril, 2015

“Natureza” é o que vemos –
A Colina – a Tarde –
Esquilo – Eclipse – a Abelha –
Não – Natureza é Céu –
Natureza é o que ouvimos –
O Rouxinol – o Mar –
Trovão – o Grilo –
Não – Natureza é Harmonia –
Natureza é o que conhecemos –
Falta-nos contudo arte para dizer –
Tão impotente a Nossa Sabedoria é
Para a sua Simplicidade.


Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015

“Nature” is what we see – // The Hill – the Afternoon – // Squirrel – Eclipse – the Bumble bee – //  Nay – Nature is Heaven – // Nature is what we hear – // The Bobolink – the Sea – //Thunder – the Cricket –// Nay – Nature is Harmony – // Nature is what we know – // Yet have no art to say – // So impotent Our Wisdom is // To her Simplicity.

06 abril, 2015

Opinião é uma coisa esvoaçante,
Mas a Verdade, dura mais que o Sol –
Se não as pudermos ter às duas –
Possuamos a mais antiga –

Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015


Opinion is a flitting thing, / But Truth, outlasts the Sun - /  If then we cannot own them both - / Possess the oldest one –
Duane Michaels, Fireflies in My Hands, 1973

05 abril, 2015

Emily Dickinson

(...)
Mas o Trabalho pode ser um eléctrico Descanso
Para aqueles que fazem Magia -

Emily Dickinson trad. © Cristina Tavares, 2015


But Work might be electric Rest  // To those that Magic make – 


A Eternidade – é composta de Agoras –
Não são tempos diferentes –
Excepto para a Eternidade –
E Latitude de Casa –

A partir daqui – experiente Aqui –
Remove as Datas – para Essas –
Deixa os Meses  dissolverem-se em mais Meses –
E Anos –desvanecerem-se em Anos –

Sem Argumentos  – ou Pausas –
Ou Dias Comemorativos –
Não seriam diferentes os Nossos Anos
Da Vida Eterna –


Emily Dickinsontrad. © Cristina Tavares, 2015



Forever - it composed of Nows - / 'Tis not a different time - / Except for Infiniteness - / And Latitude of Home - / From this - experienced Here - / Remove the Dates - to These - / Let Months dissolve in further Months - / And Years - exhale in Years -/ Without Debate - or Pause - / Or Celebrated Days - / No different Our Years would be / From Anno Dominies -
Uma coisa de ti cobiço –
O poder de esquecer –
O patético da Avareza
Financia as suas Impurezas –

Uma coisa de ti levo emprestado
E prometo devolver –
Os Despojos e a Dor
De ter conhecido a tua Doçura –


Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015


One thing of thee I covet - / The power to forget - / The pathos of the Avarice / Defrays 
the Dross of it - // One thing of thee I borrow / And promise to return - / The Booty and 
the Sorrow /Thy Sweetness to have known -

04 abril, 2015

Para fazer um prado é necessário um trevo e uma abelha,
Um trevo, e uma abelha,
E devaneio.
O devaneio só também serve,
Se as abelhas forem poucas.


Emily Dickinson, trad. © Cristina Tavares, 2015

To make a prairie it takes a clover and one bee, / One clover, and a bee, / And revery. / The revery alone will do, / If bees are few.

03 abril, 2015

Para preencher uma Falha
Insere a Coisa que a causou –
Bloqueia-a
Com Outra Coisa – e abrirá ainda mais  
Não podes soldar um Abismo
Com Ar.


Emily Dickinsontrad. © Cristina Tavares, 2015

To fill a Gap / Insert the Thing that caused it - / Block it up / With Other - and 'twill yawn the more - / You cannot solder an Abyss / With Air.
Não podes suspender um Incêndio -
Uma coisa que arda
Pode ir, por si, sem um Sopro
Pela noite mais lenta –

Não podes cingir uma Inundação
E pô-la numa Gaveta –
Porque os Ventos encontrá-la-iam –
E di-lo-iam ao teu Chão de Cedro -


Emily Dickinsontrad. © Cristina Tavares, 2015

You cannot put a Fire out - /A Thing that can ignite / Can go, itself, without a Fan - / Upon the slowest night - / You cannot fold a Flood - / And put it in a Drawer - / Because the Winds would find it out - /And tell your Cedar Floor -
O meu olhar está mais cheio que a minha jarra 
A Sua Carga – é de Orvalho –
E no entanto –  meu Coração – o meu olhar pesa mais –
Índia Oriental – para ti!


Emily Dickinsontrad. © Cristina Tavares, 2015

My eye is fuller than my vase - / Her Cargo - is of Dew - / And still - my Heart - my eye outweighs - / East India - for you!
Se O que Pudéssemos– fosse o que tivéssemos –
O Critério seria – modesto –
É Fundamento do Falar –
A Impotência de Dizer   


Emily Dickinson trad. © Cristina Tavares, 2015

If What we Could - were what we would - /Criterion - be small -/ It is the Ultimate of Talk -/ The Impotence to Tell -

02 abril, 2015


Não pintarei   um quadro –
Serei antes Um
Com a sua luminosa impossibilidade
Para nele – delicioso  habitar 
E interrogar-me como se sentem os dedos
De quem – celestialmente – se agita e
Evoca de modo doce um tormento
Tão sumptuoso – Desespero –

Não falarei – como Corneta –
Antes serei Uma
Erguida  suavemente para o Horizonte –
E fora, e dentro –
Através dos Povoados do Éter-
Eu sobre o Balão –
Através de um lábio de Metal
Ancoradouro para o meu Pontão   

Nem serei  um Poeta –
É melhor – possuir o Ouvir –
Enamorado – impotente – satisfeito –
A Licença para venerar,
Um privilégio tão terrível
Qual seria o Dote,
tivesse eu a Arte de me espantar
Com Dardos – de Melodia!


Emily Dickinson trad. © Cristina Tavares, 2015


I would not paint - a picture - / I'd rather be the One /It's bright impossibility /To dwell - delicious - on - /And wonder how the fingers feel /Whose rare - celestial - stir - /Evokes so sweet a torment - Such sumptuous - Despair -// I would not talk, like Cornets - /I'd rather be the One / Raised softly to Horizons - /And out, and easy on - /Through Villages of Ether - /Myself up borne Balloon / By but a lip of Metal -/ The pier to my Pontoon - // Nor would I be a Poet - /It's finer - own the Ear - /Enamored - impotent - content - /The License to revere, /A privilege so awful /What would the Dower be, /Had I the Art to / stun myself / With Bolts - of Melody! 

cabeça no Ar

Rebecca Sferzo, Paintbrush Portraits
cabeça no Ar
corpo na pintura

Rebecca Sferzo

Rebecca Sferzo,
Paintbrush Portraits
será que vejo a E. em todo o lado?
(...) a poesia é a relação pura do homem com as coisas. Isto é: uma relação com a realidade, tomando-a na sua pura existência. O poeta é aquele que vive com as coisas, que está atento ao real, que sabe que as coisas existem.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Colóquio, nº8, Abril 1960

28 março, 2015

Março é o Mês da Expectativa.
As coisas que não conhecemos –
As pessoas que fazem previsões
Vêm agora –
Tentamos mostrar alguma firmeza –
Mas a pomposa Alegria
Trai-nos, como o primeiro Noivado
Trai um Rapaz.

Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015


March is the Month of Expectation./The things we do not know – / The Persons of prognostication / Are coming now – /We try to show becoming firmness – / But pompous Joy / Betrays us, as his first Betrothal / Betrays a Boy.


26 março, 2015

Emily e eu e Ilse

A Beleza não se provoca – Ela é –
Persegue-a, e ela cessa 
Não a procures, e ela habita.



Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015

Beauty is not caused — It is — / Chase it, and it ceases — / Chase it not, and it abides.

Ilse Bing, Paris, 1952





25 março, 2015

herberto - a sua matéria fugitiva

... Os símbolos saem da noite terrena - rápidos e luzentes - referidos como flores ou pássaros, e a mesma noite reabsorve a sua matéria fugitiva. Porque a noite não é terna. Desta noite que fermenta silenciosamente destaca-se o nosso vocabulário, ele já sistema básico de símbolos, pronto para o jogo e o uso apocalípticos. Mexer neste vocabulário é uma incorrência em perigos incógnitos, e nessa aventura (e não nas passagens fotográficas) lavra-se a biografia criminal, e a exposição à morte. (...)

Herberto Helder; Profissão: Revólver& ETC, nº19, Janeiro de 1974


Vivian Maier, Chicago, Junho 1963

24 março, 2015

Escrever não mostra o que resta, mas o que falta. Para tocar o fundo. Disso se morre, de escrita. Mas nada vale senão morrer. O sentido revelador disto está em que tudo desaparece com cada um. Morre-se para que o mundo morra, e crime e culpa se dissolvam, como se a escrita – morte alheia e própria – fosse uma espécie de exasperada, misteriosa e emblemática regeneração ..."

Herberto Helder, Profissão: Revólver& ETC, nº19, Janeiro de 1974



Herberto Helder
Herberto Helder, Angola, 1961


Herberto Helder (fotografia do espólio de Alberto Lacerda)

Herberto Helder
(fotografia de Alfredo Cunha, fevereiro de 2015)