30 janeiro, 2007
28 janeiro, 2007
As formas, as sombras, a luz que descobre a noite
e um pequeno pássaro
e depois longo tempo eu te perdi de vista
meus dois braços são espaços enormes
os meus olhos são duas garrafas de vento
e depois eu te conheço de novo numa rua isolada
minhas pernas são duas árvores floridas
os meus dedos uma plantação de sargaços
a tua figura era ao que me lembro
da cor do jardim.
António Maria Lisboa, "Poesia"
e um pequeno pássaro
e depois longo tempo eu te perdi de vista
meus dois braços são espaços enormes
os meus olhos são duas garrafas de vento
e depois eu te conheço de novo numa rua isolada
minhas pernas são duas árvores floridas
os meus dedos uma plantação de sargaços
a tua figura era ao que me lembro
da cor do jardim.
António Maria Lisboa, "Poesia"
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24 janeiro, 2007
Recordo ainda nitidamente uma ocasião, outrora, em minha casa, quando encontrei um estojo de jóias; tinha dois palmos de tamanho, era em forma de leque, com um rebordo de flores decalcadas sobre o marroquim verde-escuro. Abri-o: estava vazio. Posso dizê-lo agora, passado tanto tempo. Mas, na altura em que o abri, vi apenas em que consistia esse vazio: em veludo, numa pequena elevação de veludo claro, já gasto; no encaixe da jóia que nele se perdia, vazio, num pequeno rasto de melancolia mais claro. Por um instante era possível suportá-lo. Mas talvez seja sempre assim para aqueles que foram amados e ficaram para trás.
Rainer Maria Rilke, "As Anotações de Malte Laurids Brigge"
22 janeiro, 2007
21 janeiro, 2007
20 janeiro, 2007
Alexander Rodchenko,capa de revista LEF, 1924
Já vi matar um homem
é terrível a desolação que um corpo deixa
sobre a terra
uma coisa a menos para adorar
quando tudo se apaga
as paisagens descobrem-se perdidas
irreconciliáveis
entendes por isso o meu pânico
nessas noites em que volto sem razão nenhuma
a correr pelo pontão de madeira
onde um homem foi morto
arranco como os atletas ao som de um disparo seco
mas sou apenas alguém que de noite
grita pela casa
há quem diga
a vida é um pau de fósforo
escasso demais
para o milagre do fogo
hoje estive tão triste
que ardi centenas de fósforos
pela tarde fora
enquanto pensava no homem que vi matar
e de quem não soube nunca nada
nem o nome
José Tolentino Mendonça, “Baldios”
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19 janeiro, 2007
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