18 abril, 2007

Há seres que são mais imagem que matéria
mais olhar do que corpo

tão imateriais os amamos
que quase não queremos tocá-los com palavras

desde a infância os buscamos
mais no sonho que na carne

e sempre no limiar dos lábios
a luz da manhã parece dizê-los

Homero Aridjis

17 abril, 2007

O Catador

Um homem catava pregos no chão.

Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimónios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catarpregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.

Manoel de Barros, "Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo"

15 abril, 2007


Miguel Anselmo, 2007

Katherine Turczan, Chernobyl, 1991

Katherine Turczan, Chernobyl, 1991

30 março, 2007


Anything But Blue, Quilt

29 março, 2007


Jean Cocteau, por Philippe Halsman, 1948

27 março, 2007


Eadweard Muybridge, 1887

26 março, 2007


Sarah Hobbs, "Small Problems in Living", 2004

25 março, 2007


Diane Arbus, "Identical Twins",1967

Loretta Lux, "Sasha and Ruby", 2005

24 março, 2007


William Eggleston, "Bottles on Wall", 1972

William Eggleston, "Southern environs of Memphis"

23 março, 2007

Tanta coisa depende
de

um carrinho de mão
vermelho

reluzente de gotas de
chuva

ao lado das galinhas
brancas.

William Carlos Williams

21 março, 2007

"(...)
- O barulho do mar e do vento. A montanha, a ideia da montanha impraticável. E depois a terra arenosa por ali fora. E a solidão. E sentir sobretudo que já não pode haver medo. Fecho as portas da casa, a porta de saída e as portas dos quartos entre si. E fico no quarto sem soalho e deito-me no chão. Ouço o mar e o vento à frente e atrás da montanha solitária e poderosa. Depois encosto a cara à terra profundíssima para escutar o seu húmido susurro atravessando-a toda e passando por mim. E então poderei morrer."

Herberto Helder, "Os Passos em Volta"

18 março, 2007

(...)
Mas em Amsterdão nem sequer existia a rua que o meu amigo tinha indicado e claro, nunca houve em qualquer parte da terra um homem chamado Max Hughes que conseguisse embarcar gente para Singapura. Às vezes chego a pensar que não existe nenhuma cidade com tal nome. mas não é nem nunca foi essencial. A comoção e a esperança, sim, essas existem, e são o tema dos nossos dons, a nossa tarefa. E é nelas próprias que o milagre do mundo pode ser concebido.

Herberto Helder, "Os Passos em Volta"

17 março, 2007

(...) Contaram-me que ele tinha uma alegria tão grande que não podia agarrar num copo: quebrava-o com a força dos dedos, com a grande força da sua alegria. Era uma criatura excepcional. Depois foi-se embora, e até já desconfiavam dele, e embarcou, e talvez não houvesse lugar na terra para ele. E onde está? Mas era uma alegria bárbara, uma vocação terrível. Partiu. E agora chove, e vamos para casa, e tomamos chá, e comemos aqueles bolos de que tu gostas tanto. E depois, e depois? Ele era belo e tremendo, com aquela sua alegria, e não tinha medo, e só a vibração interior da sua alegria fazia com que os copos se quebrassem entre os dedos. Foi-se embora."

Herberto Helder, "Os Passos em Volta"

Karen Casey, "Dreaming Chamber", 1999

16 março, 2007

Fan Ho, 1960

15 março, 2007

Fan Ho, 1961