17 fevereiro, 2015

contempla-te em mim que te contemplo.

Tudo o que brilha na noite,
colares, olhos, astros,
serpentinas de fogos de cores,
brilha em teus braços de rio que se curva,
em teu pescoço de dia que desperta.

A fogueira que acendem na floresta,
o farol de pescoço de girafa,
o olho, girassol da insónia,
cansaram-se de esperar e perscrutar.

Apaga-te
para brilhar não há como os olhos que nos vêem:
contempla-te em mim que te contemplo.
Dorme,
veludo de bosque,
musgo onde reclino a cabeça.

A noite com ondas azuis vai apagando estas palavras,
escritas com mão volúvel na palma do sonho.

Octavio Paz, Antologia Poética (Liberdade sob Palavra), trad. Luís Pignatelli

Não te afronte tanta pequena cicatriz luminosa:

A tinta verde cria jardins, selvas, prados,
folhagens onde cantam as letras,
palavras que são árvores,
frases que são verdes constelações.

Deixa que minhas palavras,ó branca, desçam e te cubram
como uma chuva de folhas a um campo de neve,
como hera à estátua,
como a tinta a esta página.

Braços, cintura, pescoço, seios,
a fronte pura como o mar,
a nuca de bosque no outono,
os dentes que mordem um fio de erva.

Teu corpo constela-se de signos verdes
como o corpo da árvore de rebentos.
Não te afronte tanta pequena cicatriz luminosa:
olha o céu e sua verde tatuagem de estrelas.

Octavio Paz, Antologia Poética (Liberdade sob Palavra), trad. Luís Pignatelli

13 fevereiro, 2015

O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo em si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de um outro ser; é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha e um chamado para longe.



Rainer Maria Rilke, Cartas a Um Jovem Poeta

10 fevereiro, 2015

CT, s/d

CT, 9 fev 2015

09 fevereiro, 2015

Li Bai

Se regressares através da Garganta do Rio Azul,
Por favor, não te esqueças de me avisar.
Para que eu possa ir ao teu encontro
Tal é a minha ânsia 
De te abraçar, que não me metem medo o vento de areia,
Nem a distância.

Li Bai, Qual é a Minha e a Tua Língua
  À querida memória de Antónia

CT, 9 fev 2015

04 fevereiro, 2015

A condição para saber ver ao longe é estarmos dentro de nós se se trata do próprio, ou de ter renunciado a si mesmo se se trata dos outros.

Almada Negreiros, Nome de Guerra

Merce Cunningham

Merce Cunninghan Dance Company, Beach Birds, 1993

03 fevereiro, 2015

Ben Vautier, 1936







Ben Vautier

Ben Vautier, Total Art Match-Box, 1965

02 fevereiro, 2015

Alice Hutchins, Group 2, Model A, 1968
























Alice Hutchins, Portal, 1975

Alice Hutchins, Night and Day, 1977
























Alice Hutchins

Alice Hutchins
Fluxus

31 janeiro, 2015

30 janeiro, 2015

Homer Page

Homer Page, New York, 1949

29 janeiro, 2015

Poema 
para  o Mário Cesariny


Moveu-se o automóvel - mas não devia mover-se
não devia!

Ontem à meia-noite três relógios distintos bateram:
primeiro um, depois outro e outro:
o eco do primeiro, o eco do segundo, eu sou o eco do terceiro

Eu sou a terceira meia-noite dos dias que começam

Pregões de varina sem peixe
- o peixe morreu ao sair da água
e assim já não é peixe

Assim como eu que vivo uma VIDA EXTREMA.


António Maria Lisboa, A Única Real Tradição Viva

António e Mário

António Maria Lisboa segurando Mário Cesariny
sobre os telhados de Lisboa, 1949