01 maio, 2007


Lucian Freud, "Sleeping Head", 1979/80

29 abril, 2007


Nam June Paik, s/ título, 1990

25 abril, 2007


salgueiro maia


(...)
assim tu souberas, irmã cotovia


dizer-me se esperas p'lo nascer do dia


(...)


zeca afonso

22 abril, 2007


Irene Fay, "Fitted Sheet on the Line", 1980

Irene Fay, "His Shirt on the Line", 1977

20 abril, 2007

374
Era uma vez uma pessoa que procurava a sabedoria. Tinham-lhe dito que para a atingir tinha sempre de aceitar e recusar ao mesmo tempo tudo o que lhe era oferecido, dito ou mostrado. Quando perguntava por onde era o caminho e lhe diziam "é por ali" ela devia seguir imediatamente nesse sentido e depois no sentido contrário. Tendo assim percorrido todas as direcções indicadas e as não indicadas, sem mais caminhos a percorrer, sentou-se no chão e começou a chorar. Sem saber tinha chegado.

396
Num Festival de Poesia. Um poeta laureado recita um poema sobre a famosa história de São Kevin e o melro, que conta como o Santo, por reverência para com a Natureza, sacrificou a sua vida por um pássaro que poisou na sua mão direita, aí fez o seu ninho, pôs os seus ovos e criou os seus filhotes. Quando por fim todos levantaram voo, com o seu braço já transformado num ramo em que a mão se tornara uma haste ressequida, o Santo morre. O seu papel de suporte de vida tinha terminado. Escrevo isto e olho para o meu braço. Na pontas dos dedos da minha mão direita vejo a caneta com que escrevo. É este o meu suporte de vida? Os meus poemas saem dos meus dedos, vão para longe de mim e não voltam.

Ana Hatherly, "463 Tisanas"

18 abril, 2007

Há seres que são mais imagem que matéria
mais olhar do que corpo

tão imateriais os amamos
que quase não queremos tocá-los com palavras

desde a infância os buscamos
mais no sonho que na carne

e sempre no limiar dos lábios
a luz da manhã parece dizê-los

Homero Aridjis

17 abril, 2007

O Catador

Um homem catava pregos no chão.

Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimónios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catarpregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.

Manoel de Barros, "Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo"

15 abril, 2007


Miguel Anselmo, 2007

Katherine Turczan, Chernobyl, 1991

Katherine Turczan, Chernobyl, 1991

30 março, 2007


Anything But Blue, Quilt

29 março, 2007


Jean Cocteau, por Philippe Halsman, 1948

27 março, 2007


Eadweard Muybridge, 1887

26 março, 2007


Sarah Hobbs, "Small Problems in Living", 2004

25 março, 2007


Diane Arbus, "Identical Twins",1967

Loretta Lux, "Sasha and Ruby", 2005

24 março, 2007


William Eggleston, "Bottles on Wall", 1972

William Eggleston, "Southern environs of Memphis"

23 março, 2007

Tanta coisa depende
de

um carrinho de mão
vermelho

reluzente de gotas de
chuva

ao lado das galinhas
brancas.

William Carlos Williams

21 março, 2007

"(...)
- O barulho do mar e do vento. A montanha, a ideia da montanha impraticável. E depois a terra arenosa por ali fora. E a solidão. E sentir sobretudo que já não pode haver medo. Fecho as portas da casa, a porta de saída e as portas dos quartos entre si. E fico no quarto sem soalho e deito-me no chão. Ouço o mar e o vento à frente e atrás da montanha solitária e poderosa. Depois encosto a cara à terra profundíssima para escutar o seu húmido susurro atravessando-a toda e passando por mim. E então poderei morrer."

Herberto Helder, "Os Passos em Volta"

18 março, 2007

(...)
Mas em Amsterdão nem sequer existia a rua que o meu amigo tinha indicado e claro, nunca houve em qualquer parte da terra um homem chamado Max Hughes que conseguisse embarcar gente para Singapura. Às vezes chego a pensar que não existe nenhuma cidade com tal nome. mas não é nem nunca foi essencial. A comoção e a esperança, sim, essas existem, e são o tema dos nossos dons, a nossa tarefa. E é nelas próprias que o milagre do mundo pode ser concebido.

Herberto Helder, "Os Passos em Volta"

17 março, 2007

(...) Contaram-me que ele tinha uma alegria tão grande que não podia agarrar num copo: quebrava-o com a força dos dedos, com a grande força da sua alegria. Era uma criatura excepcional. Depois foi-se embora, e até já desconfiavam dele, e embarcou, e talvez não houvesse lugar na terra para ele. E onde está? Mas era uma alegria bárbara, uma vocação terrível. Partiu. E agora chove, e vamos para casa, e tomamos chá, e comemos aqueles bolos de que tu gostas tanto. E depois, e depois? Ele era belo e tremendo, com aquela sua alegria, e não tinha medo, e só a vibração interior da sua alegria fazia com que os copos se quebrassem entre os dedos. Foi-se embora."

Herberto Helder, "Os Passos em Volta"

Karen Casey, "Dreaming Chamber", 1999

16 março, 2007

Fan Ho, 1960

15 março, 2007

Fan Ho, 1961

14 março, 2007


Albert Renger-Patzsch, 1928

13 março, 2007


taça índia (Mississipi), séc. XV

vaso índio (Mississipi), séc.XV

12 março, 2007


Odilon Redon, c.1875

10 março, 2007

Se não estiver num lugar, procura-me noutro,
Algures estarei à tua espera.

Walt Whitman

Paul Klee, "Fire in the Evening", 1929

06 março, 2007


Egon Schiele, "Auto-retrato", 1912

05 março, 2007


Joan Mitchell, s/ título, 1958

Joan Mitchell, "Ici", 1992
435

Demasiada Loucura é o mais divino Juízo –
Para um Olhar criterioso _
Demasiado Juízo – a mais severa Loucura –
É a maioria que
Nisto, como em Tudo, prevalece –
Consente – e és são –
Objecta – és perigoso de imediato –
E acorrentado –


Emily Dickinson, “Poemas e Cartas”

18 fevereiro, 2007


Vilma Celmins , S/título, 2005

arte de inventar personagens

Pomo-nos bem de pé, com os braços muito abertos
e olhos fitos na linha do horizonte
Depois chamamo-los docemente pelos seus nomes
e os personagens aparecem

Mário Cesariny, "Manual de Prestidigitação"

14 fevereiro, 2007


Claes Hake

Claes Hake

13 fevereiro, 2007


Edouard Vuillard, "Interior - Mãe e irmã do artista",1893

11 fevereiro, 2007


Gertrude Goldshmidt, s/título, 1970

Charles Marville, "Catedral de Chartres", 1855

Henri Le Secq, "Chartres", 1852

10 fevereiro, 2007


André Lhote, "Femme Lisant",1945

09 fevereiro, 2007


Félix Vallotton, "La Paresse", 1896

06 fevereiro, 2007


Manet, "A amante de Baudelaire Recostada", 1862

04 fevereiro, 2007

pedir a um homem que nunca se distraia


Henryk Hermanowicz, "Mulher Com Olhos Fechados",1937

Sentir a justiça de um texto muito antes de ter compreendido o seu significado, graças àquele puro timbre que pertence apenas ao estilo mais nobre: o qual por sua vez nasce da justiça.
(...)
Não conheço poesia universal sem uma raiz bem precisa: uma fidelidade, um retorno.
(...)
na poesia, a imagem preexiste à ideia que passa por dentro dela. Durante anos ela pode seguir um poeta, doméstica e fabulosa, familiar e inquietante, com frequência uma imagem da primeira infância, o nome estranho de uma árvore, a insistência de um gesto. Espera com impaciência que a preencha a revelação.
(...)
A atenção é o único caminho para o inexprimível
(...)
Pedir a um homem que nunca se distraia, que se subtraia sem descanso ao equívoco da imaginação, à preguiça do hábito, à hipnose do costume, a sua faculdade de atenção, é pedir-lhe que actue na sua máxima força.
É pedir-lhe uma coisa próxima da santidade numa época que parece procurar apenas, com cega fúria e arrepiante sucesso, o divórcio total da mente humana em relação à sua faculdade de atenção.

Cristina Campo, “Os Imperdoáveis”

02 fevereiro, 2007


John Heartield, entre 1930-37

John Heartfield, entre 1930-37