04 fevereiro, 2007

pedir a um homem que nunca se distraia


Henryk Hermanowicz, "Mulher Com Olhos Fechados",1937

Sentir a justiça de um texto muito antes de ter compreendido o seu significado, graças àquele puro timbre que pertence apenas ao estilo mais nobre: o qual por sua vez nasce da justiça.
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Não conheço poesia universal sem uma raiz bem precisa: uma fidelidade, um retorno.
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na poesia, a imagem preexiste à ideia que passa por dentro dela. Durante anos ela pode seguir um poeta, doméstica e fabulosa, familiar e inquietante, com frequência uma imagem da primeira infância, o nome estranho de uma árvore, a insistência de um gesto. Espera com impaciência que a preencha a revelação.
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A atenção é o único caminho para o inexprimível
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Pedir a um homem que nunca se distraia, que se subtraia sem descanso ao equívoco da imaginação, à preguiça do hábito, à hipnose do costume, a sua faculdade de atenção, é pedir-lhe que actue na sua máxima força.
É pedir-lhe uma coisa próxima da santidade numa época que parece procurar apenas, com cega fúria e arrepiante sucesso, o divórcio total da mente humana em relação à sua faculdade de atenção.

Cristina Campo, “Os Imperdoáveis”

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