O Cardo e a Rosa - Poesia do Barroco Alemão (seleção de João Barrento) |
28 abril, 2014
25 abril, 2014
A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é
uma arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me
pede uma ciência nem uma estética nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do
meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade
mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me uma intransigência sem
lacuna. Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e
dilui uma túnica sem costura. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me
que viva sempre que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa
e compacta.
Sophia de
Mello Breyner Andersen, Arte poética II
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Sophia
24 abril, 2014
Tolice? Não, não é
Às
vezes passo um dia inteiro a tentar contar as folhas de uma única árvore. Para
o fazer tenho de trepar ramo após ramo e de tomar nota dos números num pequeno
caderno. Pelo que, do ponto de vista deles, suponho que seja razoável que os
meus amigos digam: que tolice! Lá está ela de novo com a cabeça nas nuvens.
Mas
não é assim. Claro que há um momento em que tenho de desistir, mas nessa altura
já eu estou meio enlouquecida com tal milagre - a abundância das folhas, a
quietude dos ramos, o fracasso dos meus intentos. É quando dou por mim a rugir
às gargalhadas, cheia de glória terrestre, neste lugar importante e delicioso.
Mary
Oliver (em http://arspoetica-lp.blogspot.pt)
23 abril, 2014
Recebe este rosto meu, mudo, mendigo.
Recebe este amor que te peço.
Recebe o que há em mim que és tu.
Recebe este amor que te peço.
Recebe o que há em mim que és tu.
Alejandra Pizarnik
Amanhã
Vestir-me-á com cinzas o amanhecer,
Encher-me-ão a boca de flores.
Aprenderei a dormir
Na memória de um muro,
Na respiração
De um animal que sonha.
Vestir-me-á com cinzas o amanhecer,
Encher-me-ão a boca de flores.
Aprenderei a dormir
Na memória de um muro,
Na respiração
De um animal que sonha.
Alejandra Pizarnik
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21 abril, 2014
20 abril, 2014
Much Loved
CT, Much Loved (da série Sleeping Head), abril 2014
- eu aqui, eu; eu, que te posso dizer, que te poderia dizer tudo isto; eu, que não o digo e não to disse; eu com lírio-turco à esquerda, eu, com o rapúncio, eu com os dias, eu aqui e eu ali, eu, acompanhado talvez - agora! - pelo amor dos não amados, eu a caminho de mim aqui em cima.
Paul Celan, Arte Poética - O Meridiano e outros textos
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19 abril, 2014
18 abril, 2014
11 abril, 2014
Poema número 20
Acordo e forma-se um silêncio espantoso
na boca. É como ter os dentes colados,
Os lábios açaimados com cordas e a língua
Completa de verbos, incapaz. São horas
Mudas e primitivas, pensando livros.
na boca. É como ter os dentes colados,
Os lábios açaimados com cordas e a língua
Completa de verbos, incapaz. São horas
Mudas e primitivas, pensando livros.
Frederico Mira George, Um
Fósforo na Mão, 2013
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10 abril, 2014
Rosa Rosae
«Sem o parecer, respondo
desta maneira à pergunta:"Qual é a finalidade da poesia?" - A de nos
tornar habitável o inabitável, respirável o irrespirável».
Henri Michaux
CT, Rosa Rosae, abril 2014
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09 abril, 2014
simples como é
a claridade é a coisa
mais difícil de encontrar
Mário Henrique Leiria
a claridade é a coisa
mais difícil de encontrar
Mário Henrique Leiria
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08 abril, 2014
A poesia é um meio de conhecimento e acção de cujos frutos, bons ou maus, só o poeta aproveita (facto, este, de que muito poucos se dão conta) e daí a inutilidade dos esforços para ligá-lo a qualquer filosofia, política ou teologia, inutilidade que não se desmente no caso de ser o próprio poeta a fazer essa aproximação. É (foi) o caso de Régio como o de Mayakovsky: a sua voz continuará estranha e o sentido das suas palavras incompreensível mesmo para aqueles que escolheu como correligionários. É que o poeta é rebelde sem premeditação, demolidor de tudo e de si próprio, esforçadamente anti-caridade-encostada-às-esquinas-de-pistola-em-punho ou caneta-na-mão-lágrima-de-jacaré.
Perfecto E. Quadrado, A Única Real Tradição Viva - Antologia da Poesia Surrealista Portuguesa, excerto de Carta ao Egito, de Pedro Oom, 1949
07 abril, 2014
06 abril, 2014
05 abril, 2014
02 abril, 2014
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