William Eggleston |
30 julho, 2017
26 julho, 2017
O relâmpago Herberto
Nunca se sabe aquilo que basta. Talvez baste um poema, uma coisa mínima, viva, nossa, uma coisa rub-reptícia para empunhar diante do implacável acordo das formas exteriores. Também pode ser que nada baste. E nesse caso tanto faz escrever um romance ou cem poemas ou apenas um poema, ou ler, ou emendar o céu astronómico, ou manter-se parado no meio de um jardim húmido e silencioso, à noite. Até pode suceder que a morte não seja bastante. E isto, sim, é interrogativo.
Herberto Helder, em Relâmpago, Revista de Poesia 36/37, Abril/Outubro de 2015 (pág.133)
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25 julho, 2017
24 julho, 2017
22 julho, 2017
21 julho, 2017
20 julho, 2017
Luis Barrágan
19 julho, 2017
Tomas Tranströmer
Quisemos colaborar e mostrámos a nossa casa.
O visitante pensou: sim senhor, vivem muito bem.
O bairro de lata está no vosso interior.
Tomas Tranströmer, 50 Poemas (trad.Alexandre Pastor)
18 julho, 2017
Tomas Tranströmer
Por terra, não longe da população,
está, há meses, um jornal esquecido, pejado de acontecimentos.
Envelhece ao longo de noites e dias à chuva e ao sol,
está a caminho de se tornar uma planta, um repolho, a caminho de
se unir à terra.
Tal como uma recordação, lentamente, se transforma em ti próprio.
Tomas Tranströmer, 50 Poemas (trad.Alexandre Pastor)
está, há meses, um jornal esquecido, pejado de acontecimentos.
Envelhece ao longo de noites e dias à chuva e ao sol,
está a caminho de se tornar uma planta, um repolho, a caminho de
se unir à terra.
Tal como uma recordação, lentamente, se transforma em ti próprio.
Tomas Tranströmer, 50 Poemas (trad.Alexandre Pastor)
17 julho, 2017
16 julho, 2017
15 julho, 2017
Ainda Ritzos
Uma Palavra
Depois de esgotar tudo à sua volta e dentro de si,
e quando estava como que a naufragar,- então lembrava-se de pronunciar
uma única palavra : estátua ( e, naturalmente, pensava
em estátua grega, nua). E logo à sua volta
se abriam nomes-ilhas: um joelho brilhava
frente ao mar, a aljava do pequeno arqueiro
distinguia-se enterrada num montículo de areia fina.
Vestia-se, saía para a Ágora. "Bom dia", dizia.
Talhos, olarias, frutarias. Comprava uvas,
libertando aquele profundo, sereno e inesgotável
gesto dum braço de mármore amputado
Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)
Depois de esgotar tudo à sua volta e dentro de si,
e quando estava como que a naufragar,- então lembrava-se de pronunciar
uma única palavra : estátua ( e, naturalmente, pensava
em estátua grega, nua). E logo à sua volta
se abriam nomes-ilhas: um joelho brilhava
frente ao mar, a aljava do pequeno arqueiro
distinguia-se enterrada num montículo de areia fina.
Vestia-se, saía para a Ágora. "Bom dia", dizia.
Talhos, olarias, frutarias. Comprava uvas,
libertando aquele profundo, sereno e inesgotável
gesto dum braço de mármore amputado
Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)
14 julho, 2017
Carlos de Oliveira
De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
No segundo caso, o homem que não dorme pensa: "o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração."
Carlos de Oliveira, Trabalho Poético
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13 julho, 2017
Mas as outras
Há certos versos - às vezes poemas
inteiros -
que eu próprio não sei o que querem dizer.
O que ignoro
retém-me ainda. E tu, tu tens razão em
interrogar. Não interrogues.
Já te disse que não sei.
Duas luzes paralelas
vindo do mesmo centro. O ruído da água
que cai, no inverno, da goteira a
transbordar
ou o ruído de uma gota de água caindo
de uma rosa no jardim, regado há pouco,
devagar, devagarinho, uma tarde de
primavera,
como o soluço de um pássaro.Não sei que
quer dizer este ruído;contudo aceito-o.
As coisas que sei explico-tas,
sem negligência.
Mas as outras também acrescentam a nossa
vida.
Eu olhava
o seu joelho dobrado, como ela dormia,
levantando o lençol -
não era apenas amor. Este ângulo
era o cume da ternura, e o cheiro
do lençol, a lavado e a primavera,
completava
este inexplicável, que eu procurei,
em vão ainda, explicar-te.
Giánnis Ritsos (trad. Eugénio de Andrade), Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro
12 julho, 2017
Giánnis Ritsos
As palavras têm outra casca
lá mais para dentro
como as amêndoas
e a paciência.
Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)
poetas que se reconhecem
Facilmente, entre eles, os poetas se reconhecem - não
por grandes palavras que deslumbram as pessoas, não
por gestos retóricos, apenas por algo
completamente trivial, de místicas dimensões, como Ifigénia
reconheceu imediatamente Orestes, mal ele lhe disse:
"Não eras tu que bordavas, no pátio, à sombra do choupo,
com belas cores, com alva tela,
o movimento errante do sol?" E ainda:
"Não estava a um canto do teu quarto, guardada,
a velha lança de Pélope?" E então ela
logo se inclinou sobre o seu ombro, cerrando os olhos,
a uma luz profunda, doce, como se o ensanguentado altar
ficasse todo coberto com essa alva tela que ela mesmo bordava
à sombra do choupo, nos quentes meios-dias, na pátria.
Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)
11 julho, 2017
Insaciável a dar
Insaciável a dar - algumas vezes até coisas
que não lhe pertenciam - como aquela montanha, por exemplo,
cor de malva no crepúsculo, com árvores de esmeralda, gravada
em vapores doirados: ou a sombra da andorinha nas espigas,
ou a forquilha caída, à noite, frente à cancela do jardim,
ou cabelos da bela mulher no acto de dizer "não".
Quanto às suas coisas - quais suas coisas? - não ficava com nenhuma;
Mantinha-se do que dava. E quando, alguma vez,
já nada tinha, cerrava os olhos, esperando
inventar algo muito maior do que ele próprio, e dá-lo.
Precisamente então, sentia que ele era aquele.
Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)
que não lhe pertenciam - como aquela montanha, por exemplo,
cor de malva no crepúsculo, com árvores de esmeralda, gravada
em vapores doirados: ou a sombra da andorinha nas espigas,
ou a forquilha caída, à noite, frente à cancela do jardim,
ou cabelos da bela mulher no acto de dizer "não".
Quanto às suas coisas - quais suas coisas? - não ficava com nenhuma;
Mantinha-se do que dava. E quando, alguma vez,
já nada tinha, cerrava os olhos, esperando
inventar algo muito maior do que ele próprio, e dá-lo.
Precisamente então, sentia que ele era aquele.
Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)
10 julho, 2017
Giánnis Ritsos
Creio na poesia, no amor, na morte,
e por isso mesmo creio na imortalidade. Escrevo um verso,
escrevo o mundo: existo; existe o mundo.
Da ponta do meu dedo mínimo corre um rio.
O céu é sete vezes azul. Esta pureza
é de novo a primeira verdade; a minha última vontade.
Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)
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