Trata-se, sem dúvida, de factos de valor intrínseco pouco controlável, de carácter absolutamente inesperado, violentamente incidente, que pelo género de associações de ideias suspeitas que despertam constituem um modo de nos fazer entrar na teia de aranha, quer dizer, na coisa que seria a mais cintilante e graciosa do mundo se a um canto, ou nas imediações, não estivesse a aranha; de factos que, pertencendo embora à ordem da constatação pura, tomam sempre a aparência de um sinal desconhecido e me obrigam a descobrir, em plena solidão, inverosímeis cumplicidades, convencendo-me estar iludido todas as vezes que me julgo sozinho ao leme do navio.
23 outubro, 2014
Por mim continuarei a habitar a minha casa de vidro, onde se pode ver a toda a hora quem vem visitar-me, onde tudo o que está suspenso dos tectos e das paredes perdura como que por encanto, onde repouso à noite entre os lençóis de vidro de uma cama de vidro, onde quem sou me aparecerá, mais tarde ou mais cedo, gravado a diamante.
Não pratico o culto de Flaubert e contudo se me garantem que, segundo ele próprio confessou, só pretendeu com Salambô, "dar a impressão da cor amarela", com Madame Bovary "fazer qualquer coisa que fosse da cor do mofo que aparece nos recantos onde há bichos-de-conta", e que o resto lhe era absolutamente indiferente, estas preocupações, em última análise, extraliterárias, dispõem-me em seu favor.
Nadja, André Breton
22 outubro, 2014
09 outubro, 2014
05 outubro, 2014
O poeta Bashô ensina que os famosos feitos
dos líderes militares ensanguentados dão em nada
enquanto o pulo de uma rã pode durar séculos.
Nuvens negras e chuva chegam desde o Atlântico.
O sol paira mas agora, sobre Saint-Nazaire
grãos de gelo caem do céu como arroz escuro.
Os poetas são criaturas quase sempre sem conteúdo,
homens que dizem coisas tontas e inverosímeis,
loucos e faladores que imaginam o que lhes apraz.
E no entanto, no entanto, sussurram acerca de milagres,
discorrem sobre o que os outros nem sequer suspeitam,
de modo que suas palavras ardem na escuridão, fosforescendo.
O poeta japonês Bashô ensina-me
que o que está perto pode ser assustadoramente distante e que uma jornada
para um lugar longínquo traz-nos para mais próximo de nós próprios.
Sobre o Atlântico, o céu escureceu,
o granizo caiu ainda há momentos, e agora a cidade brilha
nos raios de sol sob o céu claro.
enquanto o pulo de uma rã pode durar séculos.
Nuvens negras e chuva chegam desde o Atlântico.
O sol paira mas agora, sobre Saint-Nazaire
grãos de gelo caem do céu como arroz escuro.
Os poetas são criaturas quase sempre sem conteúdo,
homens que dizem coisas tontas e inverosímeis,
loucos e faladores que imaginam o que lhes apraz.
E no entanto, no entanto, sussurram acerca de milagres,
discorrem sobre o que os outros nem sequer suspeitam,
de modo que suas palavras ardem na escuridão, fosforescendo.
O poeta japonês Bashô ensina-me
que o que está perto pode ser assustadoramente distante e que uma jornada
para um lugar longínquo traz-nos para mais próximo de nós próprios.
Sobre o Atlântico, o céu escureceu,
o granizo caiu ainda há momentos, e agora a cidade brilha
nos raios de sol sob o céu claro.
Milan Djordjevic
03 outubro, 2014
29 setembro, 2014
25 setembro, 2014
Some days I feel that I exude a fine dust
like that attributed to Pylades in the famous
Chronica nera
areopagitica when it was found
and it’s because an excavationist has
reached the inner chamber of my heart
and rustled the paper bearing your name
I don’t like that stranger sneezing over our love
Frank O’Hara
24 setembro, 2014
21 setembro, 2014
187
Ana Hatherly, 463 Tisanas
Estou no hotel e tomo o pequeno almoço na sala. A meu lado está um poeta dinamarquês. Olho através da porta envidraçada que dá para um pequeno cais. Vejo surgir a proa dum enorme barco. Entra pela esquerda do meu campo de visão. Avança lentíssimo e sem qualquer ruído. Olho fascinada a aparição do enorme barco branco. Então dizem-me: vem da Finlândia, chega todos os dias às oito da manhã.
Etiquetas:
Ana Hatherly,
Elas,
poesia,
poesia portuguesa
Assinar:
Postagens (Atom)