11 novembro, 2014

A própria alma é elástica: podemos, assentando um dedo sobre a sua superfície e pressionando-a, levá-la a tocar nas coisas mais inesperadas.

Luís Miguel Nava, Poesia Completa


Willy Verginer, 2007

09 novembro, 2014

Gilbert &George, Crusade, 1980
     























    
   REALIZANDO UM FILME


   Estão a realizar um filme. Mas está tudo errado. Julgar-se-ia que o herói estaria triunfal no convés de um navio, mas pelo contrário está num cadafalso à espera de ser enforcado.
   Julgar-se-ia que a heroína estaria a beijar o herói no convés desse navio, mas pelo contrário está a ser amarrada para um tratamento de electrochoques.
   Multidões de camponeses que anseiam pela democracia, e supostamente estariam a celebrar a morte de um tirano, estão na realidade, a carregar esse mesmo tirano às costas, declarando-o o salvador do povo.
   O realizador não sabe onde está o erro. O produtor está muito abalado.
   O duplo pergunta repetidamente, agora? depois dá um salto e cai de cabeça.
   Entretanto uma manada de elefantes atropela o elenco principal;  e inundações fictícias estão de facto a inundar o palco.
   O duplo pergunta, repetidamente, agora? e dá um salto e cai de cabeça. 
 O realizador, coçando a cabeça, diz, talvez os electrochoques pudessem ser substituídos por insulina...?
   Tem a certeza? pergunta o produtor?
   Não, mas mesmo assim, podíamos tentar... E já  agora, esse duplo não é muito bom, pois não?


Russel Edson, O Túnel

08 novembro, 2014

Gabriel Orozco, Piñanona, 2013

06 novembro, 2014

luíza neto jorge


05 novembro, 2014

Não podendo falar para toda a terra
direi um segredo a um só ouvido

Luíza Neto Jorge, A Lume
Bruce Nauman, Untitled (Three Large Animals), 1989

04 novembro, 2014

Károly Ferenczy, Rapazes Atirando Seixos ao Rio,1890

02 novembro, 2014

Alberto Carneiro, Um campo depois da colheita para deleite estético do nosso corpo,
1973-76

Alberto Carneiro, Uma floresta para os teus sonhos, 1970

01 novembro, 2014

Uma nuvem, uma árvore, uma flor, um punhado de terra situam-se no mesmo plano estético em que nos movemos, são parte integrante do nosso mundo, são um manancial de sensações vindas de todos os tempos, através de uma memória que tem a idade do homem. Não a pedra pelo seu lado externo, pela conversão dos seus valores formais, mas pela qualidade do seu íntimo, pelo cosmos que está nela e o qual nos é dado possuir na simplicidade em que a coisa vive.

Alberto Carneiro, Notas para um manifesto de uma arte ecológica
Autoestrada 99E
desde Chico

Os patos-reais desceram
para a noite. Eles riem-se
ao dormir e sonham com o México
e as Honduras. O agrião
assenta na vala de irrigação
e os caules caem para a frente, com
o peso dos melros.

Os campos de arroz flutuam sob a Lua.
Até as folhas molhadas do ácer se agarram 
ao meu pára-brisas. Digo-te, Maryann,
estou feliz.

Raymond Carver, Fogos

31 outubro, 2014

Lucian Freud, Eli, 2002

Lucian Freud, Garden in Winter, 1999

30 outubro, 2014

José Augusto Castro
Há sempre um deus fantástico nas Casas
Em que eu vivo, e em volta dos meus passos
Eu sinto os grandes anjos cujas asas
Contêm todo o vento dos espaços.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar, 1947

29 outubro, 2014

Théodore Chassériau, Les Deux Soeurs, 1843
Si el espacio es infinito
estamos en cualquier punto del espacio.

J.L.Borges

28 outubro, 2014

Frantisek Kupka, Bather, 1906

26 outubro, 2014

Jean Tinguely, Baluba, 1961

25 outubro, 2014

#2

Quando alcançarem o cadáver em verossímil conserto
físico — ainda que informe de tamanho e difícil
reconhecença etária —, os físicos acusarão morte súbita. Súbita
como a passagem d’um segundo sem esforço.
Conquanto, no campo superior do papel d’óbito, o fenomenal
facto escrito do desfecho. Adentro do arcabouço
masculino, alojava-se belíssimo, um colossal coração invertido.
Frederico Mira George, O Veneno Solitário, 2014

24 outubro, 2014

Barbara Morgan, Martha Graham, Letter to the World (Kick),1940

23 outubro, 2014

Trata-se, sem dúvida, de factos de valor intrínseco pouco controlável, de carácter absolutamente inesperado, violentamente incidente, que pelo género de associações de ideias suspeitas que despertam constituem um modo de nos fazer entrar na teia de aranha, quer dizer, na coisa que seria a mais cintilante e graciosa do mundo se a um canto, ou nas imediações, não estivesse a aranha; de factos que, pertencendo embora à ordem da constatação pura, tomam sempre a aparência de um sinal desconhecido e me obrigam a descobrir, em plena solidão, inverosímeis cumplicidades, convencendo-me estar iludido todas as vezes que me julgo sozinho ao leme do navio.

Nadja, André Breton

(para a bordo)