Duane Michaels, Fireflies in My Hands, 1973 |
06 abril, 2015
05 abril, 2015
Emily Dickinson
(...)
Mas o
Trabalho pode ser um eléctrico Descanso
Para aqueles
que fazem Magia -
Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015
But Work might be electric Rest // To those that Magic make –
But Work might be electric Rest // To those that Magic make –
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A Eternidade – é composta de Agoras –
Não são tempos diferentes –
Excepto para a Eternidade –
E Latitude de Casa –
A partir daqui – experiente Aqui –
Remove as Datas – para Essas –
Deixa os Meses dissolverem-se em
mais Meses –
E Anos –desvanecerem-se em Anos –
Sem Argumentos – ou Pausas –
Ou Dias Comemorativos –
Não seriam diferentes os Nossos Anos
Da Vida Eterna –
Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015
Forever - it
composed of Nows - / 'Tis not a different time - / Except for Infiniteness - / And Latitude of Home - / From this -
experienced Here - / Remove the Dates - to These - / Let Months dissolve in further Months - / And Years - exhale in Years -/ Without Debate -
or Pause - / Or Celebrated Days - / No different Our Years would be / From Anno Dominies -
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Uma coisa de ti cobiço
–
O poder de esquecer –
O patético da Avareza
Financia as suas
Impurezas –
Uma coisa de ti levo
emprestado
E prometo devolver –
Os Despojos e a Dor
De ter conhecido a tua
Doçura –
Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015
One thing of thee I covet -
/ The power to forget - / The pathos of the Avarice / Defrays
the Dross of it
- // One thing of thee I borrow / And promise to return - / The Booty and
the
Sorrow /Thy Sweetness to have known -
|
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04 abril, 2015
Para fazer
um prado é necessário um trevo e uma abelha,
Um trevo,
e uma abelha,
E
devaneio.
O devaneio
só também serve,
Se as
abelhas forem poucas.
Emily Dickinson, trad. © Cristina Tavares, 2015
To make a prairie it takes a clover and
one bee, / One clover, and a bee, / And revery. / The revery alone will do, / If bees are few.
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03 abril, 2015
Para preencher uma Falha
Insere a Coisa que a causou –
Bloqueia-a
Com Outra Coisa – e abrirá ainda mais –
Não podes soldar um Abismo
Com Ar.
Emily Dickinson, trad. © Cristina Tavares, 2015
To fill a Gap / Insert the Thing that caused it - / Block it up / With Other - and 'twill yawn the more - / You cannot solder an Abyss / With Air.
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Não podes suspender um Incêndio -
Uma coisa que arda
Pode ir, por si, sem um Sopro
Pela noite mais lenta –
Não podes cingir uma Inundação
E pô-la numa Gaveta –
Porque os Ventos encontrá-la-iam –
E di-lo-iam ao teu Chão de Cedro -
Emily Dickinson, trad. © Cristina Tavares, 2015
You cannot put a Fire out - /A Thing that can ignite / Can go, itself, without a Fan - / Upon the slowest night - / You cannot fold a Flood - / And put it in a Drawer - / Because the Winds would find it out - /And tell your Cedar Floor -
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O meu olhar está mais cheio que a minha jarra –
A Sua Carga – é de Orvalho –
E no entanto – meu Coração –
o meu olhar pesa mais –
Índia Oriental – para ti!
My eye is
fuller than my vase - / Her Cargo - is of Dew - / And still - my Heart - my eye outweighs - / East India - for you!
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Se O que Pudéssemos– fosse o que tivéssemos –
O Critério seria – modesto –
É Fundamento do Falar –
A Impotência de Dizer –
Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015
If What we
Could - were what we would - /Criterion - be small -/ It is the Ultimate of Talk -/ The Impotence to Tell -
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02 abril, 2015
Não pintarei – um
quadro –
Serei antes Um
Com a sua luminosa impossibilidade
Para nele – delicioso – habitar –
E interrogar-me como se sentem os dedos
De quem – celestialmente – se agita e
Evoca de modo doce um tormento
Tão sumptuoso – Desespero –
Não falarei – como Corneta –
Antes serei Uma
Erguida suavemente para o Horizonte –
E fora, e dentro –
Através dos Povoados do Éter-
Eu sobre o Balão –
Através de um lábio de Metal
Ancoradouro para o meu Pontão –
Nem serei um
Poeta –
É melhor – possuir o Ouvir –
Enamorado – impotente – satisfeito –
A Licença para venerar,
Um privilégio tão terrível
Qual seria o Dote,
tivesse eu a Arte de me espantar
Com Dardos – de Melodia!
Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015
I would not paint - a picture
- / I'd rather be the One /It's bright impossibility /To dwell - delicious - on - /And wonder how the fingers feel /Whose rare - celestial - stir - /Evokes so sweet a torment - Such sumptuous - Despair -// I would not talk,
like Cornets - /I'd rather be the One / Raised softly to Horizons - /And out, and easy on - /Through Villages of Ether - /Myself up borne Balloon / By but a lip of Metal -/ The pier to my Pontoon - // Nor would I be a
Poet - /It's finer - own the Ear - /Enamored - impotent - content - /The License to revere, /A privilege so awful /What would the Dower be, /Had I the Art to / stun myself / With Bolts - of Melody!
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(...) a poesia é a relação pura do homem com as coisas. Isto é: uma relação com a realidade, tomando-a na sua pura existência. O poeta é aquele que vive com as coisas, que está atento ao real, que sabe que as coisas existem.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Colóquio, nº8, Abril 1960
Sophia de Mello Breyner Andresen, Colóquio, nº8, Abril 1960
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28 março, 2015
Março é o Mês da Expectativa.
As coisas que não conhecemos –
As pessoas que fazem previsões
Vêm agora –
Tentamos mostrar alguma firmeza –
Mas a pomposa Alegria
Trai-nos, como o primeiro Noivado
Trai um Rapaz.
Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015
March is the Month of
Expectation./The things we do not
know – / The Persons of
prognostication / Are coming now – /We try to show
becoming firmness – / But pompous Joy / Betrays us, as his
first Betrothal / Betrays a Boy.
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26 março, 2015
Emily e eu e Ilse
A Beleza
não se provoca – Ela é –
Persegue-a, e ela cessa –
Não a procures, e ela habita.
Persegue-a, e ela cessa –
Não a procures, e ela habita.
Emily Dickinson , trad. © Cristina Tavares, 2015
Beauty is not caused — It is — / Chase it, and it ceases — / Chase it not, and it abides.
Beauty is not caused — It is — / Chase it, and it ceases — / Chase it not, and it abides.
Ilse Bing, Paris, 1952 |
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25 março, 2015
herberto - a sua matéria fugitiva
...
Os símbolos saem da noite terrena - rápidos e luzentes - referidos como flores
ou pássaros, e a mesma noite reabsorve a sua matéria fugitiva. Porque a noite
não é terna. Desta noite que fermenta silenciosamente destaca-se o nosso
vocabulário, ele já sistema básico de símbolos, pronto para o jogo e o uso
apocalípticos. Mexer neste vocabulário é uma incorrência em perigos incógnitos,
e nessa aventura (e não nas passagens fotográficas) lavra-se a biografia
criminal, e a exposição à morte. (...)
Herberto Helder; Profissão: Revólver, & ETC,
nº19, Janeiro de 1974
Vivian Maier, Chicago, Junho 1963 |
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V
24 março, 2015
Escrever não mostra o que resta, mas o que falta. Para tocar o fundo. Disso se morre, de escrita. Mas nada vale senão morrer. O sentido revelador disto está em que tudo desaparece com cada um. Morre-se para que o mundo morra, e crime e culpa se dissolvam, como se a escrita – morte alheia e própria – fosse uma espécie de exasperada, misteriosa e emblemática regeneração ..."
Herberto
Helder, Profissão: Revólver, & ETC,
nº19, Janeiro de 1974
Herberto Helder |
Herberto Helder, Angola, 1961 |
Herberto Helder (fotografia do espólio de Alberto Lacerda) |
Herberto Helder (fotografia de Alfredo Cunha, fevereiro de 2015) |
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Herberto
queria ver se chegava por extenso ao contrário:
força e pulsação e graça,
isto é: a luz, de dentro, despedaçando tudo,
e concentrada:
estrela / estrela
Herberto Helder, A Morte Sem Mestre
força e pulsação e graça,
isto é: a luz, de dentro, despedaçando tudo,
e concentrada:
estrela / estrela
Herberto Helder, A Morte Sem Mestre
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Herberto
tão fortes eram que sobreviveram à língua morta,
esses poucos poemas acerca do que hoje me atormenta,
décadas, séculos, milénios,
e eles vibram,
e entre os objectos técnicos no apartamento,
rádio, tv, telemóvel,
relógios de pulso,
esmagam-me por assim dizer com a sua verdade última
sobre a morte do corpo,
dizem apenas: é igual ao pó da terra que não respira,
o que é falso, pois eu é que deixarei de respirar
sobre o pó da terra que respira,
entre o poema sumério e este poema de curto fôlego,
mas que talvez respire um dia,
ou dois, ou três dias mais:
quanto às coisas sumérias: as mãos da rapariga,
o cabelo da estreita rapariga,
a luz que estremecia nela,
tudo isso perdura em mim pelos milénios fora,
disso, oh sim, é que eu estou vivo e estremeço ainda
Herberto Helder, A
Morte Sem Mestre
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