02 novembro, 2015

the three graces

Joan Mitchell, Helen Frankenthaler e Grace Hartigan, c.1960
(para C. e C.)

01 novembro, 2015

Thomas e Hannah

For last year’s words belong to last year’s language. And next year’s words await another voice.

T.S. Eliot, Four Quartets
Hannah Höch, Love, 1931

Alberto Burri

Alberto Burri, Composizione, 1953

31 outubro, 2015

injustificável alegria

Um dos textos mais comoventes que conheço é a carta de Rosa de Luxemburgo escrita a uma amiga sua quando estava na prisão de Breslavia, poucos meses antes da sua execução. Trata-se de um extraordinário hino à vida. No meio daquele horror, sentindo abater-se sobre ela toda a desolação e desconforto que podemos imaginar (ou que nem podemos imaginar), Rosa de Luxemburgo não deixa de confiar na vida. Mergulhada no escuro ela continua a sorrir. E quando se pergunta porquê, escreve isto: "não tenho razão para esta injustificável alegria, nem sei de outro segredo senão a própria vida. A profunda obscuridade da noite é bela e suave como um veludo para os que aprendem a olhá-la".

José Tolentino Mendonça, CÃO CELESTE Nº 7

Lothar Reichel, c.1970


30 outubro, 2015

Emily e Jackson

I know nothing in the world that has as much power as a word. Sometimes I write one, and I look at it, until it begins to shine. 

Emily Dickinson

Jackson Pollock, Galaxy, 1947

26 outubro, 2015

Lydia Gifford

Lydia Gifford, Drum, 2013


Lydia Gifford, Bearing, 2015

25 outubro, 2015

Ingeborg Bachmann

Por onde quer que nos voltemos na tempestade de rosas,
a noite ilumina-se de espinhos, e o trovão
da folhagem, antes tão leve nos arbustos,
segue-nos agora de perto.

Onde quer que se apague o incêndio das rosas,
a chuva inunda-nos o rio. Oh noite tão distante!
Mas uma folha que nos encontrou é levada pelas ondas
e segue-nos até à foz.


Ingeborg Bachmann, O Tempo Aprazado

24 outubro, 2015

Sonhai, que sois sonhados.

António Cândido Franco, Arte de Sonhar

Robert Rauschenberg, s/título, 1951

23 outubro, 2015

azul-vermelho

Ninguém no caminho, e nada, nada a não ser amoras,
amoras dos dois lados, embora mais à direita,
uma álea de amoras, descendo em curvas fechadas, e um mar
algures, lá ao longe, arfando. Amoras
tão grandes como a cabeça do meu polegar, e mudas como olhos
negros nas sebes, repletas
de um suco azul-vermelho. Este desperdiça-se nos meus dedos.

Não pedira tal comunhão de sangue; devem amar-me.
Comprimem-se numa garrafa de leite, de encontro aos seus lados.

Sobre mim passam, com a sua cacofonia, os corvos em bandos negros,
pedaços de papel queimado oscilando num céu ventoso.
A sua voz é a única que está a protestar, a protestar.
Julgo que o mar não vai mesmo aparecer.
        Os verdes e altos prados brilham como iluminados por dentro.
     Chego a um arbusto de bagas tão maduras: é um arbusto de moscas,
suspendendo os seus abdómens azuis esverdeados e os vidrilhos alados de um biombo chinês.
O festim de mel das bagas surpreendeu-as; julgam-se no paraíso.
Para além de uma curva, as bagas e os arbustos acabam.

A única coisa que vem a seguir é o mar.
De entre duas colinas sopra contra mim um vento súbito,
sacudindo como fantasmas a sua roupa branca contra o meu rosto.
Estas colinas são demasiado verdes e suaves para terem saboreado o sal.
Sigo, entre elas, a vereda aberta pelas ovelhas. Uma última curva leva-me
até à face norte das colinas, e a face é uma rocha alaranjada
que olha para nada, nada a não ser uma grande extensão
de luzes brancas e cor de estanho e um ruído como o de um ourives
batendo sempre um metal rebelde.

Sylvia Plath, Pela Águatrad. Mª de Lourdes Guimarães 

22 outubro, 2015

Sylvia Plath

Lá no alto, num ramo firme
arqueia-se uma gralha negra toda molhada
arranjando e voltando a arranjar as penas à chuva.
Não espero nada

que venha lançar fogo à paisagem
no interior dos meus olhos, nem procuro
mais no tempo inconstante qualquer desígnio,
mas deixo as folhas manchadas cair conforme caem,
sem cerimónia ou maravilha.

Embora - admito-o - deseje
ocasionalmente alguma resposta
do céu mudo, não posso honestamente queixar-me:
uma certa luz pode ainda
surgir incandescente

da mesa da cozinha ou da cadeira
como se um fogo celestial tornasse
seu, de um instante para o outro, os mais estranhos objectos,
assim consagrando um intervalo
de outro modo inconsequente

por nos dar grandeza e glória,
ou até amor. De qualquer modo, caminho agora
atenta (pois isso poderia acontecer
mesmo nesta paisagem triste e arruinada); descrente,
mas astuta, ignorante

de que um anjo se decida a resplandecer
repentinamente a meu lado. Apenas sei que uma gralha
ordenando as suas penas negras pode brilhar
de tal maneira que prenda a minha atenção, erga
as minhas pálpebras, e conceda

um breve repouso com medo
de uma neutralidade total. Com sorte,
viajando teimosamente por esta estação
de fadiga, acabarei
por juntar um conjunto

de coisas. Os milagres acontecem
se gostares de invocar aqueles espasmódicos
gestos de luminosos milagres. A espera recomeçou de novo,
a longa espera pelo anjo,
por essa rara, fortuita visita.

Sylvia Plath, Pela Água, trad. Mª de Lourdes Guimarães 

19 outubro, 2015

Gabriela e Eugène

Soube, então, Margarida, que não te podia escrever mas jurei enterrar as minhas cartas junto à raiz das roseiras porque «pelas raízes das roseiras», segundo um do segredos de Alice, «passa o mensageiro».


Maria Gabriela Llansol, Na Casa de Julho e Agosto

Mathias Schaller, Paleta de Eugène Delacroix

18 outubro, 2015

Johannes e José

O poema começa onde acaba o interessante, a superficialidade.


Johannes Bobrowski, prefácio de Como um respirar


José Augusto Castro

17 outubro, 2015

Paul e Bertrand

Ainda te lembras que nadavas?
Aberta estavas ante mim,
estavas ante mim, estavas
ante mim ante
minha ante-
cipada alma.
Eu nadava por nós dois. Não nadava.
Nadava a árvore cintilante.

Paul Celan, Não Sabemos mesmo O Que Importa


Bertrand Sallé, Les Amours Impossibles

16 outubro, 2015

Ossip e August

É húmido e sonoro o ar sombrio;
Não há medo no bosque apaziguante.
A leve cruz dos passeios sozinho
Submisso carrego novamente.
De novo para a terra em letargia
A queixa voará, qual pato bravo,
Participo de uma vida sombria
Onde todos estão sós lado a lado!
Um tiro. Sobre o lago adormecido
Pesadas se tornam as asas dos patos.
Pela sua vida dupla, reflectida,
Os pinheiros tornam-se assombrados.
Em reflexo estranho o céu brumoso -
A turva dor universal, ali -
Permite-me também ser nebuloso,
Permite-me que não te ame, a ti.

Ossip Mandelstam, Guarda a Minha Fala Para Sempre

August Sander, Two Young Farmers, 1914

14 outubro, 2015

Francesca Woodman

Francesca Woodman, S/título, 1979/80

13 outubro, 2015

Peter Ilsted

Peter Vilhelm Ilsted, The White Chair, 1915

12 outubro, 2015

11 outubro, 2015

Margaret Bourke-White

Margaret Bourke-White, Two Tractors Plowing, Colorado, 1954


Margaret Bourke-White, Otis Steel Co., 1929


Margaret Bourke-White, White Workers at American Woolen Co., 1935

10 outubro, 2015

Bertrand Sallé

Bertrand Sallé, Un Peu Plus Près de la Lune


Bertrand Sallé, Un Peu Plus Près de la Lune

08 outubro, 2015

Hannah Höch

Hannah Höch com as marionetas representando as suas filhas Pax e Botta, c.1920