Ângelo de Sousa, s/título (10 quadros para o ano 2000), 1986 |
16 dezembro, 2015
15 dezembro, 2015
para F.
Não acredito no tempo, confesso. Depois
de usar o meu tapete mágico, gosto de o dobrar e deixar sobrepostos diferentes
desenhos. Que importa se o visitante tropeça! O mais alto prazer da ausência de
tempo - uma paisagem escolhida ao acaso - é quando estou entre borboletas raras
e plantas que lhes servem de alimento. É o meu êxtase, e atrás desse êxtase
qualquer outra coisa há, difícil de explicar. É como um vácuo momentâneo para
onde converge o que eu amo. Sensação de unidade com sol e pedras.
Vladimir Nabokov, Fala, Memória
14 dezembro, 2015
Saul e Frederico, outra vez
Saul Leiter, Red Umbrella, c.1958 |
As premonições existem em directa
consequência
do uso imperfeito de cordas
no
coração. Turvados os contornos à retina,
cordas-vocábulo
em falso,
cordas-espasmo
por cada ofensa,
ei-las,
as veias d’aparição.
Frederico Mira George, O Veneno Solitário
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13 dezembro, 2015
Saul e Frederico
Saul Leiter, Walk with Soames, 1958 |
perdura
a clarivisão desse itinerário. «Vou
sentado
detrás a ti. Sem murmúrio, sem vulto.
Estanque
como um relógio prescrito, reconhecendo
nas
palpitações microscópicas dos teus dedos,
uma
febre súbita de ceder
e
uma última hesitação aplanada no estrado do cais.»
Frederico Mira George, O Veneno Solitário
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12 dezembro, 2015
Albert Camus
Cada artista mantém, assim, no fundo de si mesmo, uma fonte única
que alimenta durante a sua vida o que ele é e o que diz. Quando a fonte secou,
vê-se pouco a pouco a obra endurecer, fender-se. São as terras ingratas da arte
que a corrente invisível já não irriga. Com o cabelo raro e seco, o artista,
protegido com palha, está maduro para o silêncio, ou para os salões, que vêm a dar
ao mesmo. Por mim, sei que a minha fonte está em O Avesso e o Direito, nesse mundo de pobreza e de luz em que vivi
por muito tempo e cuja recordação me preserva ainda dos dois perigos contrários
que ameaçam todos os artistas: o ressentimento e a satisfação.
André
Camus, O Avesso e o Direito (prefácio)
Alice e Albarrán Cabrera
11 dezembro, 2015
08 dezembro, 2015
Francis e Louis
Francis Bacon, Three studies of Muriel Belcher, 1966 |
Eu sou o ourives das matérias
decadentes, o engastador dos restos sem emprego, ando por aí ao rebusco do
cabelo já cortado da Primavera. Aos que peneiram o grão peço a palha, aos da
joeira o lodo desdourado. As usuais maneiras da minha linguagem são o cruel
cilício das castanhas, a fina pálpebra da fisalite. Andei à cata de caruma, das
perdidas penugens, duma data de sementes. De bolores fiz eu colheitas.
Tratam-me por tu os líquens.
Louis Aragon, Tratado do Estilo
07 dezembro, 2015
06 dezembro, 2015
05 dezembro, 2015
04 dezembro, 2015
(No dia em que se completam 140 anos sobre o nascimento de Rainer Maria Rilke)
Como reconhecer ainda
o que foi o áureo da vida?
Talvez contemplando, na palma
da mão, os arabescos
dessas linhas, dessas rugas
que apertamos com tanta garra
quando no vazio fechamos
a própria mão sobre um nada.
Rainer Maria Rilke, Frutos e Apontamentos (trad. Maria Gabriela Llansol)
Como reconhecer ainda
o que foi o áureo da vida?
Talvez contemplando, na palma
da mão, os arabescos
dessas linhas, dessas rugas
que apertamos com tanta garra
quando no vazio fechamos
a própria mão sobre um nada.
Rainer Maria Rilke, Frutos e Apontamentos (trad. Maria Gabriela Llansol)
03 dezembro, 2015
Rilke
Por vezes os amantes, ou aqueles que escrevem,
encontram palavras que, mesmo que se desvaneçam,
deixam no coração um lugar feliz -
e um rasto de pensamento para sempre...
Porque, sob o que se passa, nascem
constâncias invisíveis;
sem que abram qualquer trilho,
algumas tornam-se estribilhos de dança.
Rainer Maria Rilke, Frutos e Apontamentos (trad. Maria Gabriela Llansol)
encontram palavras que, mesmo que se desvaneçam,
deixam no coração um lugar feliz -
e um rasto de pensamento para sempre...
Porque, sob o que se passa, nascem
constâncias invisíveis;
sem que abram qualquer trilho,
algumas tornam-se estribilhos de dança.
Rainer Maria Rilke, Frutos e Apontamentos (trad. Maria Gabriela Llansol)
com a candura de um operário celeste
Não te movas se, de repente,
o Anjo se senta, à tua mesa;
alisa, com vagar, os breves vincos
que a toalha faz, debaixo do teu pão.
Convida-o para a modesta refeição,
que também ele lhe saboreie o gosto,
e possa levar aos lábios impolutos
um pobre copo de uso quotidiano.
Olha em redor, cheio de atenção serena,
com a candura de um operário celeste.
Come como se deve, imitando-te os gestos,
para - como convém - , te construir a casa.
Rainer Maria Rilke, Frutos e Apontamentos (trad. Maria Gabriela Llansol)
o Anjo se senta, à tua mesa;
alisa, com vagar, os breves vincos
que a toalha faz, debaixo do teu pão.
Convida-o para a modesta refeição,
que também ele lhe saboreie o gosto,
e possa levar aos lábios impolutos
um pobre copo de uso quotidiano.
Olha em redor, cheio de atenção serena,
com a candura de um operário celeste.
Come como se deve, imitando-te os gestos,
para - como convém - , te construir a casa.
Rainer Maria Rilke, Frutos e Apontamentos (trad. Maria Gabriela Llansol)
02 dezembro, 2015
Alexandre O'Neill
Espeta-te com o garfo.
Corta-te com a faca.
Deita-te no prato.
Espera.
Corta-te com a faca.
Deita-te no prato.
Espera.
Alexandre O'Neill, Anos 70: Poemas Dispersos
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01 dezembro, 2015
30 novembro, 2015
29 novembro, 2015
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