20 agosto, 2017

Khalil Gibran

O Astrónomo

À sombra de um templo o meu melhor amigo e eu vimos um cego sentado e solitário.
O meu amigo disse:
- Olha que este é o homem mais sábio da nossa terra.
Então aproximei-me do cego, saudei-o e começámos a falar.
Pouco depois disse-lhe:
- Desculpa a pergunta, mas há quanto tempo estás cego?
Ele respondeu:
- Desde que nasci.
- E qual caminho da sabedoria escolheste?
- Sou astrónomo.
Em seguida levou a mão ao peito e acrescentou:
- Observo todos estes sóis, estas luas e estrelas.


Khalil Gibran, O Louco (versão de Ana Leal)

O Cão Sábio

Certo dia um cão sábio passou por um grupo de gatos e vendo que os gatos pareciam preocupados falando entre si, sem que dessem pela sua presença decidiu parar e escutar o que diziam. Levantou-se um gato (o maior) grave e sisudo que dirigindo-se aos outros disse: 
- Meus irmãos: rezai, porque se rezardes muito por certo choverão ratos.
O cão riu-se com os seus botões e seguiu o seu caminho: - Gatos cegos e insensatos. Por acaso está escrito e é um dado adquirido que o que chove quando rezamos não são ratos mas ossos?

Khalil Gibran, O Louco (versão de Ana Leal)

01 agosto, 2017

Agnes Martin



I don’t believe in influence. I think that in order to be an artist, you have to move. When you stop moving, then you’re no longer an artist. 


Agnes Martin

Agnes Martin, Gratitude, 2001

30 julho, 2017

William Eggleston

William Eggleston
(Maravilhoso fotógrafo. Hoje é para ti, JPS.)

26 julho, 2017

O relâmpago Herberto


Nunca se sabe aquilo que basta. Talvez baste um poema, uma coisa mínima, viva, nossa, uma coisa rub-reptícia para empunhar diante do implacável acordo das formas exteriores. Também pode ser que nada baste. E nesse caso tanto faz escrever um romance ou cem poemas ou apenas um poema, ou ler, ou emendar o céu astronómico, ou manter-se parado no meio de um jardim húmido e silencioso, à noite. Até pode suceder que a morte não seja bastante. E isto, sim, é interrogativo.

Herberto Helder,  em Relâmpago, Revista de Poesia 36/37, Abril/Outubro de 2015 (pág.133)







CT, Sleeping Golden Head, 2014

A bondade é lúcida, clara e decidida, impiedosa com o compromisso e com a política.


Tristan Tzara, Manifesto DADA, 1918

25 julho, 2017

Harry Callahan

Foto de Franck Vergh.
Harry Callahan, Chicago, 1948


24 julho, 2017

Cornelia Parker

Cornelia Parker, Cold Dark Matter, 1991

Cornelia Parker






I resurrect things that have been killed off . 
(Cornelia Parker)

22 julho, 2017

László Moholy-Nagy

László Moholy-Nagy, Untitled (Multiple Portrait), c.1927

21 julho, 2017

Saul Leiter

Saul Leiter, Boy, c.1950

20 julho, 2017

Luis Barrágan

...dediquei-me à arquitectura como um ato sublime de imaginação poética… 

Luis Barrágan (México, 1902-1988)



19 julho, 2017

Tomas Tranströmer

Quisemos colaborar e mostrámos a nossa casa.
O visitante pensou: sim senhor, vivem muito bem.
O bairro de lata está no vosso interior.

Tomas Tranströmer, 50 Poemas (trad.Alexandre Pastor)

18 julho, 2017

Tomas Tranströmer

Por terra, não longe da população,
está, há meses, um jornal esquecido, pejado de acontecimentos.
Envelhece ao longo de noites e dias à chuva e ao sol,
está a caminho de se tornar uma planta, um repolho, a caminho de
    se unir à terra.
Tal como uma recordação, lentamente, se transforma em ti próprio.


Tomas Tranströmer, 50 Poemas (trad.Alexandre Pastor)


17 julho, 2017

Alberto Burri

Alberto Burri, Iron, 1960

16 julho, 2017

15 julho, 2017

Ainda Ritzos

Uma Palavra

Depois de esgotar tudo à sua volta e dentro de si,
e quando estava como que a naufragar,- então lembrava-se de pronunciar
uma única palavra : estátua ( e, naturalmente, pensava
em estátua grega, nua). E logo à sua volta
se abriam nomes-ilhas: um joelho brilhava
frente ao mar, a aljava do pequeno arqueiro
distinguia-se enterrada num montículo de areia fina.
Vestia-se, saía para a Ágora. "Bom dia", dizia.
Talhos, olarias, frutarias. Comprava uvas,
libertando aquele profundo, sereno e inesgotável
gesto dum braço de mármore amputado

Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)


14 julho, 2017

Carlos de Oliveira

De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
No segundo caso, o homem que não dorme pensa: "o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração."

Carlos de Oliveira, Trabalho Poético


13 julho, 2017

Mas as outras

Há certos versos - às vezes poemas inteiros -
que eu próprio não sei o que querem dizer. O que ignoro
retém-me ainda. E tu, tu tens razão em interrogar. Não interrogues.
Já te disse que não sei.
                                         Duas luzes paralelas
vindo do mesmo centro. O ruído da água
que cai, no inverno, da goteira a transbordar
ou o ruído de uma gota de água caindo
de uma rosa no jardim, regado há pouco,
devagar, devagarinho, uma tarde de primavera,
como o soluço de um pássaro.Não sei que quer dizer este ruído;contudo aceito-o.
As coisas que sei explico-tas,
sem negligência.
Mas as outras também acrescentam a nossa vida.
Eu olhava
o seu joelho dobrado, como ela dormia,
levantando o lençol -
não era apenas amor. Este ângulo
era o cume da ternura, e o cheiro
do lençol, a lavado e a primavera, completava
este inexplicável, que eu procurei,
em vão ainda, explicar-te.


Giánnis Ritsos (trad. Eugénio de Andrade), Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro 

12 julho, 2017

Giánnis Ritsos



















As palavras têm outra casca
lá mais para dentro
como as amêndoas 
e a paciência.


Giánnis Ritsos, em Poesia-Mais-Que-Perfeita (trad. Alda Leal)