Jenny Holzer, da série Survival, 1983-85 |
10 abril, 2018
09 abril, 2018
Agnes e Adélia
Agnes Deres, Body Prints and Philosophical Drawings and Map Projections, 1969 -1978 |
TODOS FAZEM UM POEMA A CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Enquanto punha o vestido azul com margaridas amarelas
e esticava o cabelo para trás, a mulher falou alto:
é isto, eu tenho inveja de Carlos Drummond de Andrade
apesar de nossas extraordinárias semelhanças.
E decifrou o incômodo do seu existir junto com o dele.
Vamos ambos à enciclopédia, seguiu dizendo, à cata
de constituição, e paramos em "clematite, flor lilás
de ingênuo desenho que ama desabrochar nas sebes européias".
Temos terrores noturnos, diurnos desesperos
e dias seguidos onde nada acontece.
Comemos, bebemos e diante do nosso nome impresso
temos nenhum orgulho, porque esta lembrança não deixa:
uma vez, na Avenida Afonso Pena, um bêbado gritando:
"Todo o mundo aqui é um saco e tripas".
Carlos é gauche. A mim, várias vezes, disseram:
"Não sabes ler a placa? É CONTRAMÃO".
Um dia fizemos um verso tão perfeito,
que as pessoas começaram a rir. No entanto persiste,
a partir de mim, a raiva insopitada
quando citam seu nome, lhe dedicam versos,
que é uma pergunta só, nem ao menos original:
"Porque não nasci eu um simples vaga-lume?"
Só à ponta de fina faca, o quisto da minha inveja,
como aos mamões maduros se tiram os olhos podres.
Eu sou poeta? Eu sou?
Qualquer resposta verdadeira
e poderei amá-lo.
Adélia Prado, Com Licença Poética, Livros Cotovia
08 abril, 2018
Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombetas, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado para mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundos reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já minha vontade de alegria
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Adélia Prado, Com Licença Poética
desses que tocam trombetas, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado para mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundos reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já minha vontade de alegria
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Adélia Prado, Com Licença Poética
Ingeborg Bachmann
eu perco meus gritos
como uma pessoa perde
seu dinheiro, suas moedas,
seu coração, meus gritos mais
altos eu perco em
roma, em todo lugar, em
berlim, pelas ruas eu
efetivamente perco
meus gritos, até que
meu cérebro se cobre
de névoa vermelha, eu perco tudo,
a única coisa que eu
não perco é esse pavor
de saber que uma pessoa
pode perder seus gritos
todos os dias
em qualquer lugar
como uma pessoa perde
seu dinheiro, suas moedas,
seu coração, meus gritos mais
altos eu perco em
roma, em todo lugar, em
berlim, pelas ruas eu
efetivamente perco
meus gritos, até que
meu cérebro se cobre
de névoa vermelha, eu perco tudo,
a única coisa que eu
não perco é esse pavor
de saber que uma pessoa
pode perder seus gritos
todos os dias
em qualquer lugar
Ingeborg Bachmann, Ich weiß keine bessere Welt, poemas póstumos (trad. adelaide ivánova in Escamandro)
21 março, 2018
20 março, 2018
19 março, 2018
17 março, 2018
11 março, 2018
10 março, 2018
06 março, 2018
Paul Eluard
Agora escuto a voz
Tudo que ela não disse
Tudo aquilo que não pude supôr ou suspeitar
Escuto ao redor de mim a dança do silêncio
Paul Eluard, Poemas Políticos (trad. Carlos Grifo)
Tudo que ela não disse
Tudo aquilo que não pude supôr ou suspeitar
Escuto ao redor de mim a dança do silêncio
Paul Eluard, Poemas Políticos (trad. Carlos Grifo)
04 março, 2018
03 março, 2018
02 março, 2018
19 fevereiro, 2018
How I Go to the Woods
How I Go to the Woods
Ordinarily
I go to the woods alone, with not a single friend, for they are all smilers and
talkers and therefore unsuitable.
I don’t
really want to be witnessed talking to the catbirds or hugging the old black
oak tree. I have my way of praying, as you no doubt have yours.
Besides,
when I am alone I can become invisible. I can sit on the top of a dune as
motionless as an uprise of weeds, until the foxes run by unconcerned. I can
hear the almost unhearable sound of the roses singing.
If you
have ever gone to the woods with me, I must love you very much.
Mary Oliver, Swan:Poems and Prose Poems
17 fevereiro, 2018
William Carlos William
Tanta coisa depende
de
um carrinho de mão
vermelho
reluzente de gotas de
chuva
ao lado das galinhas
brancas.
William Carlos Williams, Antologia Breve (trad. José Agostinho Baptista)
de
um carrinho de mão
vermelho
reluzente de gotas de
chuva
ao lado das galinhas
brancas.
William Carlos Williams, Antologia Breve (trad. José Agostinho Baptista)
14 fevereiro, 2018
13 fevereiro, 2018
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