Louise Bourgeois, Lullaby, 2006 |
06 maio, 2018
05 maio, 2018
FAGULHA
Ana Cristina Cesar |
Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando
Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.
Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio
Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.
Ana Cristina Cesar, A Teus Pés, 1982
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04 maio, 2018
25 abril, 2018
André Tecedeiro + Liberdade
ele perguntou-me
em que medida é que isso te marcou?
eu perguntei-lhe:
como se mede uma raiz?
André Tecedeiro, O Número de Strahler, ed. Do Lado Esquerdo.
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23 abril, 2018
22 abril, 2018
Paule Vézelay
21 abril, 2018
Estela e Heidi
(…)
que inveja,
penso eu
daqueles que só escrevem quando amam
que inveja,
penso eu
mas depois me arrependo
que inferno seria
só ser atravessada
quando algo respira.
Estela
Rosa in Oceânica
Heidi Kirkpatrick, Lost and Found |
UM CAROÇO DE ABÓBORA JAPONESA
Aprendi
que se você joga um saco de terra no
vaso
é incontrolável que surjam pequenas
folhas
plantas sem nome
diria minha mãe
é tudo mato
mas resolvi jogar terra em um vaso
e ali algumas sementes que iam pro lixo
não me preocupei
nada do que planto dá
não tenho interesse em fertilidades
mas aí brotou por entre o lixo
uma folhinha
puxei o mato
mas ele saía do caroço da abóbora
japonesa
do purê de semana passada
ela ali crescendo
orientalíssima em meu vaso de lixo
orgânico
minha última tentativa de gratidão
com o broto na mão
fiquei pensando nos mestres japoneses
e naqueles samurais de coquezinho
naquelas moças com pés cortados
sapatos de madeira
nos budas de porcelana
e aquela folha ali brotando
então é isso, não dá
não sei lidar com vidas pacientes
com essa folha japonesa
delicada rompendo o lixo
feito um hexagrama de i-ching
me ensinando a brotar
mas não dá
é poesia demais pra mim
logo eu que não sei meditar
Estela
Rosa (lida em Oceânica )
19 abril, 2018
17 abril, 2018
16 abril, 2018
15 abril, 2018
14 abril, 2018
F e H
Frederico Mira George, Digital Painting, 2011 |
Eu pergunto se o poeta cria as coisas, pergunto se as reconhece, ou então se as ordena.
Herberto Helder, Photomaton & Vox
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13 abril, 2018
12 abril, 2018
11 abril, 2018
Susana Marques
Susana Marques |
Esta força inóspita que me corrói de dentro e extravasa pelo mundo como uma calcinação.
Herberto Helder, Photomaton & Vox
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S
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