Aqui estamos!
A palavra vem-nos húmida dos bosques,
e um sol enérgico amanhece-nos entre as veias.
O punho é forte,
e segura o remo.
No olho fundo dormem palmeiras exorbitantes,
e o grito sai-nos como uma gota de ouro virgem.
O nosso pé,
duro e largo,
esmaga o pó nos caminhos abandonados
e estreitos para as nossas filas.
Sabemos onde nascem as águas,
e amamo-las porque empurraram as nossas canoas sob os céus vermelhos.
O nosso canto é como um músculo debaixo da pele da alma,
nosso singelo canto.
Trazemos o fumo na manhã,
e o fogo sobre a noite,
e a faca, como um duro pedaço de lua,
apto para as peles bárbaras;
trazemos os jacarés na lama,
e o arco que dispara os nossos desejos,
e o cinturão do trópico,
e o espírito limpo.
Eh companheiros, aqui estamos!
A cidade espera-nos com os seus palácios, ténues
como os favos de abelhas silvestres;
as suas ruas estão secas como os rios quando não chove na montanha,
e as suas casas fitam-nos com os olhos ávidos das janelas.
Os homens antigos nos darão leite e mel,
e nos coroarão de folhas verdes.
Eh, companheiros, aqui estamos!
debaixo do sol
a nossa pele suada reflectirá os rostos húmidos dos vencidos,
e na noite, enquanto os astros arderem na ponta das nossas chamas,
o nosso riso madrugará sobre os rios e os pássaros.
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MULHER NOVA
Com o círculo equatorial
apertado à cintura como a um pequeno mundo
a negra, mulher nova,
avança no seu leve vestido de serpente.
Coroada de palmas,
como uma deusa recém-chegada,
ela traz a palavra inédita,
a anca forte,
a voz, o dente, a manhã e o salto.
Jorro de sangue jovem
sob um pedaço de pele fresca,
e o pé incansável
para a pista profunda do tambor.
Nícolas Guillén (Cuba, 1902-1989)
trad. Cristina Tavares /José Pinto de Sá