19 setembro, 2014

Gilles Peress,Belfast City Center,1972
Gilles Peress, Morning of Bobby Sands Death, Belfast, 1981


18 setembro, 2014

Egon Schiele, Self Portrait with Chinese Lantern Plant, 1912
(com graça e egon schiele na áustria)
Anders Krisár, Torso, 2014

17 setembro, 2014


Anders Krisár, M, 2008






















Anders Krisár, The Birh of Us - Girl, 2006/07
My Life had Stood - a Loaded Gun

Emily Dickinson

16 setembro, 2014

Bill Brandt, Jean Dubuffet, 1960

14 setembro, 2014

506. A pergunta: «De onde veio aquilo ao poeta?» apenas se dirige ao «que». Do «como» ninguém se apercebe.

901. Nunca se vai mais longe do que quando já não se sabe para onde se vai.

Goethe, Máximas e Reflexões

12 setembro, 2014

Valery Shchekoldin, Moscovo, 1980

11 setembro, 2014

Louise Bourgeois, Art Is A Guaranty Of Sanity, 2000

10 setembro, 2014

Georges Braque no seu atelier, em 1955

07 setembro, 2014

Robert Doisneau, Trois Petits Enfants Blancs, 1971

06 setembro, 2014

O consolo para quem não tem abrigo
nunca vem em forma de tecto
mas da boca de desabrigados.

Judith Herzberg, O Que Resta do Dia

05 setembro, 2014

My dear, tudo isto me traz outras ideias,
finda a tristeza, corro para casa, não é espantoso,
os ventres das gaivotas mais altas no céu
reluzindo a um sol que há muito se pôs?

Judith Herzberg, O Que Resta do Dia

03 setembro, 2014

Robert Rauschenberg, Auto-retrato, c.1950

Décimo segundo
Querida Sophia, restituo hoje
o oceano por ti engenhado. O
Atlântico escrito de gigante-despido
e diro… ou humilhado, e mínimo, como gente.
Algodoal num fio redondo ao fuso
que devolvo. Retorna hoje ao teu fumo
o extremo mar d’ocidente que em mim depositaste.
Frederico Mira George, Esteganographias, 2014

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Décimo nono
{«Cheguei hoje e fui até à casa onde morreste. Ainda lá está o Teixo. Fiquei uns minutos, solene, a imaginar-me.»}
Nunca desci à praia. Mas claro,
todos os dias entrevi o mar com fotográfica
religião; senti-lhe o contorno nas pálpebras
e d’Inverno chorava ponteiros-de-relógio
, inepto, sem consumar tamanho desejo d’areia.
¡Os poetas são sempre a encarnação do desacerto!

Frederico Mira George, Esteganographias/Aqui Começa o Atlas, 2014

02 setembro, 2014

06 agosto, 2014

Encontrei, naquela longa jornada, as doses necessárias para a formação do poema. Ali me foram dadas as contribuições da terra e da alma. E penso que a poesia é uma acção passageira ou solene em que entram em doses medidas a solidão e solidariedade, o sentimento e a acção, a intimidade da própria pessoa, a intimidade do homem e a revelação secreta da Natureza. E penso com não menor fé que tudo se apoia - o homem e a sua sombra, o homem e a sua atitude, o homem e a sua poesia - numa comunidade cada vez mais extensa, num exercício que integrará para sempre em nós a realidade e os sonhos, pois assim os une e confunde.

E digo igualmente que não sei, depois de tantos anos, se aquelas lições que recebi ao cruzar um rio vertiginoso, ao dançar em torno do crânio de uma vaca, ao banhar os pés na água purificadora das mais elevadas regiões, digo que não sei se aquilo saía de mim mesmo para se comunicar depois a muitos outros seres ou era a mensagem que os outros homens me enviavam como exigência ou embrazamento. Não sei se aquilo o vivi ou escrevi, não sei se foram verdade ou poesia, transição ou eternidade, os versos que experimentei naquele momento, as experiências que cantei mais tarde. 

De tudo aquilo, amigos, surge um ensinamento que o poeta deve aprender dos outros homens. Não há solidão inexpugnável. Todos os caminhos conduzem ao mesmo ponto: à comunicação do que somos. E é necessário atravessar a solidão e aspereza, a incomunicação e o silêncio para chegar ao recinto mágico em que podemos dançar com hesitação ou cantar com melancolia, mas nessa dança ou nessa canção acham-se consumados os mais antigos ritos da consciência; da consciência de serem homens e de acreditarem num destino comum. 


Pablo Neruda, Nasci para Nascer

04 agosto, 2014

Em criança e em adulto, andei muito mais entre rios e aves que entre bibliotecas e escritores.
Também assumi o dever antigo dos poetas: a defesa do povo, das pessoas pobres exploradas.
Isto tem importância? Penso que são fascinações comuns a todos os que escreveram, escrevem e escreverão poesia. O amor tem, é claro, muito a ver com isto e deve pôr as suas cartas na mesa.
Começo amiúde a ler disquisições sobre a poesia, que nunca chego a terminar. Uma quantidade de pessoas excessivamente cultas dispôs-se a escurecer a luz, converter o pão em carvão, a palavra em parafuso. Para separar o pobre poeta dos seus companheiros de planeta, dizem-lhe todo o género de encantadoras mentiras. «És um génio», repetem-lhe. «És um deus obscuríssimo». Às vezes, nós, poetas, acreditamos nessas coisas e repetimo-las, como se nos tivessem ofertado um reino. Na verdade, esses aduladores querem-nos  roubar um reino perigoso para eles: o da comunicação cantante entre os seres humanos.
Este mistificar e mitificar da poesia produz abundância de tratados que não leio e detesto. Recordam-me os alimentos de certas tribos polares, que uns mastigam longamente para que outros devorem. Recuso-me a mastigar teorias e convido qualquer pessoa a entrar comigo num bosque de robles vermelhos no Sul do Chile, onde principiei a amar a terra, numa fábrica de meias, uma mina de manganês (os operários de lá conhecem-me) ou qualquer parte onde se possa comer peixe frito.
Não sei se os homens se devem dividir em naturais e artificiais, realistas e ilusionistas; penso que basta colocar a um lado os que são homens e a outro os que não o são. Estes últimos nada têm a ver com a poesia ou, pelo menos, com os meus cantos.

Pablo Neruda, Nasci para Nascer