29 dezembro, 2008
sou uma pequena igreja(não uma grande catedral)
longe da opulência e imundíce das apressadas cidades
-não me preocupo se os dias mais breves se tornam brevíssimos,
não tenho pena quando sol e chuva fazem abril
a minha vida é a vida do ceifeiro e do semeador;
as minhas orações são as orações da terra onde desajeitadas lutam
(encontrando e perdendo e rindo e chorando)as crianças
cuja qualquer tristeza ou alegria é meu tormento e meu aprazimento
à minha volta surge um milagre incessante
nascer e glória e morte e ressurreição:
sobre o meu ser adormecido flutuam flamejantes símbolos
de esperança, e eu acordo para uma perfeita paciência de montanhas
sou uma pequena igreja(longe do alucinado
mundo com o seu enlevo e angústia)em paz com a natureza
-não me preocupo se as noites mais longas se tornam longuíssimas;
não tenho pena quando a calma se torna canto
de inverno de primavera,ergo a minha espiral diminuta para
o misericordioso Ele Cujo único agora é para sempre:
permanecendo erecto na verdade imortal da Sua Presença
(acolhendo humildemente a Sua luz e orgulhosamente as Suas trevas)
E.E.Cummigs, "livrodepoemas"
longe da opulência e imundíce das apressadas cidades
-não me preocupo se os dias mais breves se tornam brevíssimos,
não tenho pena quando sol e chuva fazem abril
a minha vida é a vida do ceifeiro e do semeador;
as minhas orações são as orações da terra onde desajeitadas lutam
(encontrando e perdendo e rindo e chorando)as crianças
cuja qualquer tristeza ou alegria é meu tormento e meu aprazimento
à minha volta surge um milagre incessante
nascer e glória e morte e ressurreição:
sobre o meu ser adormecido flutuam flamejantes símbolos
de esperança, e eu acordo para uma perfeita paciência de montanhas
sou uma pequena igreja(longe do alucinado
mundo com o seu enlevo e angústia)em paz com a natureza
-não me preocupo se as noites mais longas se tornam longuíssimas;
não tenho pena quando a calma se torna canto
de inverno de primavera,ergo a minha espiral diminuta para
o misericordioso Ele Cujo único agora é para sempre:
permanecendo erecto na verdade imortal da Sua Presença
(acolhendo humildemente a Sua luz e orgulhosamente as Suas trevas)
E.E.Cummigs, "livrodepoemas"
27 dezembro, 2008
digamos: eis uma flor
um débil mundo de pétalas
aberto
digamos: uma cor
mais roxa de nossas dores escolhida
digamos: um ribeiro
um local habitável para a flor
a inventar
digamos: um perfume
impresso
na flor à beira-água
digamos: a memória
diluída
no perfume da flor
por fim
digamos: uma violeta
eis a flor
A.M.Pires Cabral, "Antes que o Rio Seque"
um débil mundo de pétalas
aberto
digamos: uma cor
mais roxa de nossas dores escolhida
digamos: um ribeiro
um local habitável para a flor
a inventar
digamos: um perfume
impresso
na flor à beira-água
digamos: a memória
diluída
no perfume da flor
por fim
digamos: uma violeta
eis a flor
A.M.Pires Cabral, "Antes que o Rio Seque"
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09 novembro, 2008
20 outubro, 2008
19 outubro, 2008
18 outubro, 2008
17 outubro, 2008
Não consta que uma rosa alguma vez tenha faltado à sua abelha mesmo se, em certas circunstâncias, só depois da experiência púrpura. A carreira das flores apenas difere da nossa por ser inaudível.Emily Dickinson, carta nº 30, a Luísa e Frances Norcross, Abril 1873
Susan Derges, "Observer and Observed",1991
Susan Derges, "Observer and Observed",1991
12 outubro, 2008
11 outubro, 2008
10 outubro, 2008
"o equilíbrio vem da paz interior; a paz interior não cai com o desequilíbrio" http://a-bordo.blogspot.com
06 outubro, 2008
30 julho, 2008
18 maio, 2008
procurei que as coisas acontecessem
procurei no céu olhares misteriosos
e na terra o sabor sereno dos diospiros
plantei algumas árvores
e desenhei e escrevi e pintei
terá sido em vão porque não se procura
nada nos céus nem na terra
porque de nada vale o sabor de um fruto
ou um desenho um vocábulo uma cor
ainda assim
quando não esperava
encontrei uma pequena esfera no chão
desconheço o seu uso mas trago-a na mão
Frederico Mira George, "poemas dispersos", 2008
procurei no céu olhares misteriosos
e na terra o sabor sereno dos diospiros
plantei algumas árvores
e desenhei e escrevi e pintei
terá sido em vão porque não se procura
nada nos céus nem na terra
porque de nada vale o sabor de um fruto
ou um desenho um vocábulo uma cor
ainda assim
quando não esperava
encontrei uma pequena esfera no chão
desconheço o seu uso mas trago-a na mão
Frederico Mira George, "poemas dispersos", 2008
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15 maio, 2008
Thoreau
05 maio, 2008
04 maio, 2008
03 maio, 2008
02 maio, 2008
01 maio, 2008
28 abril, 2008
22 abril, 2008
20 abril, 2008
16 abril, 2008
15 abril, 2008
14 abril, 2008
13 abril, 2008
robert e frederico
Rober Mapplethorpe, "Leaf", 1989
w:
é uma flor.voa como uma flor. morre.como o coração
Frederico Mira George, "Silenciário", 2008
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R
09 abril, 2008
Fust Milán
Os anjos são escuros. Não vês a espada nas suas mãos?
Quando lampejam na luz, cruzam, então, o Sol e seus negros círculos luminosos,
e o Sol abre-se para eles. Porque eles voam com espadas nas mãos
e cobrem seus pobres olhos - santo, santo, santo, gritam -, lá em cima, aos raios,
e os raios empinam-se diante deles, sim.
E como cãezinhos, assim se baixam Lua e Sol diante deles,
e, como os patos, também as estrelas voam, grasnando, diante deles,
e a sua terrível humildade fá-las explodir imediatamente.
Fust Milán (1888-1967)
Quando lampejam na luz, cruzam, então, o Sol e seus negros círculos luminosos,
e o Sol abre-se para eles. Porque eles voam com espadas nas mãos
e cobrem seus pobres olhos - santo, santo, santo, gritam -, lá em cima, aos raios,
e os raios empinam-se diante deles, sim.
E como cãezinhos, assim se baixam Lua e Sol diante deles,
e, como os patos, também as estrelas voam, grasnando, diante deles,
e a sua terrível humildade fá-las explodir imediatamente.
Fust Milán (1888-1967)
08 abril, 2008
clube da imaginação
Se eu fosse uma palavra seria a palavra Oxigénio porque era de toda a gente.
(Ana Rita)
http://clubedaimaginacao.blogspot.com
(Ana Rita)
http://clubedaimaginacao.blogspot.com
Wislawa Szymborska
Nada mudou.
O corpo é sensível à dor,
precisa de comer, respirar e dormir,
por baixo da pele fina corre sangue,
tem a provisão adequada de dentes e unhas,
ossos quebráveis e articulações extensíveis.
Nas torturas tudo isto é tomado em conta.
Nada mudou.
O corpo treme como tremia
antes e depois da fundação de Roma,
no século vinte antes e depois de Cristo,
torturas sempre as houve e haverá, só a terra ficou mais pequena
e o que quer que aconteça, é como se fosse aqui ao lado.
Nada mudou.
Apenas há mais gente,
juntaram-se novas às velhas culpas,
reais, inusitadas, instantâneas, nenhumas,
mas o grito, com o qual o corpo por elas paga,
foi, é, e será o grito da inocência,
segundo o registo da escala secular.
Nada mudou.
Talvez apenas as maneiras, as cerimónias, as danças.
O gesto das mãos para proteger a cabeça
continua a ser o mesmo.
O corpo contorce-se, debate-se, tenta escapar,
cai redondamente, encolhe os joelhos,
torna-se roxo, incha, saliva e sangra.
Nada mudou.
Excepto o curso dos rios,
a linha das florestas, dos desertos e glaciares.
É nestas paragens que vagueia a alma,
Parte, volta, vai e vem
alheia a si mesma, intangível,
ora certa, ora incerta da sua existência.
Mas o corpo está e está e está,
sem ter outra saída.
Wislawa Szymborska, “Gente na Ponte” , 1986
O corpo é sensível à dor,
precisa de comer, respirar e dormir,
por baixo da pele fina corre sangue,
tem a provisão adequada de dentes e unhas,
ossos quebráveis e articulações extensíveis.
Nas torturas tudo isto é tomado em conta.
Nada mudou.
O corpo treme como tremia
antes e depois da fundação de Roma,
no século vinte antes e depois de Cristo,
torturas sempre as houve e haverá, só a terra ficou mais pequena
e o que quer que aconteça, é como se fosse aqui ao lado.
Nada mudou.
Apenas há mais gente,
juntaram-se novas às velhas culpas,
reais, inusitadas, instantâneas, nenhumas,
mas o grito, com o qual o corpo por elas paga,
foi, é, e será o grito da inocência,
segundo o registo da escala secular.
Nada mudou.
Talvez apenas as maneiras, as cerimónias, as danças.
O gesto das mãos para proteger a cabeça
continua a ser o mesmo.
O corpo contorce-se, debate-se, tenta escapar,
cai redondamente, encolhe os joelhos,
torna-se roxo, incha, saliva e sangra.
Nada mudou.
Excepto o curso dos rios,
a linha das florestas, dos desertos e glaciares.
É nestas paragens que vagueia a alma,
Parte, volta, vai e vem
alheia a si mesma, intangível,
ora certa, ora incerta da sua existência.
Mas o corpo está e está e está,
sem ter outra saída.
Wislawa Szymborska, “Gente na Ponte” , 1986
07 abril, 2008
Wallace Stevens
CADÊNCIA DE MARTE
(…)
III
Que tinha essa estrela a ver com o mundo que iluminava,
Com o vazio dos céus sobre a Inglaterra, sobre a França
E sobre os acampamentos alemães? Parecia estar alheia.
E, no entanto, é isto que permanecerá – ela própria
É tempo, alheio a qualquer passado, alheia a
Qualquer futuro, o ser que sempre é
O que sempre respira e mexe, o fogo permanente,
IV
O presente próximo, o presente realizado.
Não o símbolo, mas aquilo por que o símbolo está,
A coisa, viva no ar, que nunca se transforma
Se bem que o ar se transforme. Só esta noite eu a vi de novo,
No princípio do Inverno, e de novo respirei
E de novo me movi e de novo cintilei, o tempo de novo cintilou.
Wallace Stevens, “Partes de um Mundo”
(…)
III
Que tinha essa estrela a ver com o mundo que iluminava,
Com o vazio dos céus sobre a Inglaterra, sobre a França
E sobre os acampamentos alemães? Parecia estar alheia.
E, no entanto, é isto que permanecerá – ela própria
É tempo, alheio a qualquer passado, alheia a
Qualquer futuro, o ser que sempre é
O que sempre respira e mexe, o fogo permanente,
IV
O presente próximo, o presente realizado.
Não o símbolo, mas aquilo por que o símbolo está,
A coisa, viva no ar, que nunca se transforma
Se bem que o ar se transforme. Só esta noite eu a vi de novo,
No princípio do Inverno, e de novo respirei
E de novo me movi e de novo cintilei, o tempo de novo cintilou.
Wallace Stevens, “Partes de um Mundo”
06 abril, 2008
do ar
Dennis Oppenheim, "Boundary Split", 1979
Dennis Oppenheim, "Dead Ramp", 1978
Dennis Oppenheim, "Information Lines", 1981
(para o Luís, enquanto esperamos o regresso do Geografismos )
05 abril, 2008
03 abril, 2008
James Welling, 2005
#17
ainda trago os espinhos na palma dos pés no início parecia uma caminhada tão simples pura e transparente mesmo com muito esforço as agulhas não saem talvez estejam definitivamente cravadas não sinto dor não sinto os pés sofro só a memória do primeiro andamento/
Frederico Mira George, "O Caderno Feliz", 2008
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02 abril, 2008
24 março, 2008
21 março, 2008
a luz
A luz é símbolo e agente de pureza. Onde a luz não tem nada a fazer, nada a unir ou nada a separar, passa.
Novalis, "Fragmentos"
Novalis, "Fragmentos"
14 março, 2008
11 março, 2008
09 março, 2008
03 março, 2008
01 março, 2008
27 fevereiro, 2008
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