Edvard Munch na sua casa, perto de Oslo, 1944 |
31 janeiro, 2020
30 janeiro, 2020
Teresa Amy
POEMA 20
entendi perfeitamente
algum tempo depois, que não sabia
trabalhar o corpo
do texto, nem buscar a espessura
das palavras, nem ser possuído
pelo murmúrio das folhas nem
pela melhor
música inglesa dos anos 70;
entendi que não devia incomodar-me
por não assemelhar-me em nada com Scott Fritzgerald, e
razoavelmente pensei que não devia
incomodar-me por eu (também)
querer ser um farol para
ter, pelo menos, navios
que me mirem
mesmo que nada ilumine:
é um caminho pleno de desastres, des-
astrado,
expliquei
entendi perfeitamente
algum tempo depois, que não sabia
trabalhar o corpo
do texto, nem buscar a espessura
das palavras, nem ser possuído
pelo murmúrio das folhas nem
pela melhor
música inglesa dos anos 70;
entendi que não devia incomodar-me
por não assemelhar-me em nada com Scott Fritzgerald, e
razoavelmente pensei que não devia
incomodar-me por eu (também)
querer ser um farol para
ter, pelo menos, navios
que me mirem
mesmo que nada ilumine:
é um caminho pleno de desastres, des-
astrado,
expliquei
Teresa Amy ( tradução de António Miranda)
Teresa Amy , Uruguay (1950-2017) |
Manuel Resende (1948-2020)
SAI DE CASA
E depois espalha os bocados
Pelo vasto mundo.
Ou então na tua rua, vai à aldeia, à praia,
Atira-o ao mar, deita-o ao lixo,
Para que venha o vento, o sol, a chuva, os homens do lixo,
Acabar com ele de vez.
Passado um dia,
Sai de casa e procura
Encontrá-lo de novo.
Manuel Resende, O Mundo Clamoroso, Ainda
Etiquetas:
Manuel Resende,
poesia,
poesia portuguesa
27 janeiro, 2020
26 janeiro, 2020
25 janeiro, 2020
Lu Lizhi
Engoli uma lua de ferro,
disseram-me que era um parafuso.
Engoli resíduos industriais e fichas de desemprego,
jovens que morreram debruçados sobre máquinas,
engoli trabalho, engoli pobreza
engoli as pontes dos peões e uma vida enferrujada.
Não consigo engolir mais nada
porque tudo o que engulo me volta à boca
e verte para o chão da pátria:
um poema feito de vergonha.
---
Um parafuso caiu no chão
nas horas extra desta noite escura.
Caiu verticalmente, tinindo ao de leve:
ninguém notou,
tal como da última vez,
numa noite como esta
quando alguém tombou no vazio.
---
Dizem que sou
uma criança de poucas palavras.
Não o nego
mas,
fale ou não,
nesta sociedade,
estou sempre em conflito.
---
Um espaço de dez metros quadrados
apertado, húmido, escuro todo o ano:
é aqui que como, durmo, cago e penso
tusso, tenho enxaquecas, envelheço, fico doente e ainda assim não morro.
Sob esta pálida luz amarela cá estou a fixar o olhar no vazio, a rir-me
como um parvo ando para trás e para a frente, canto baixinho, leio, escrevo poemas.
Sempre que abro uma janela ou uma porta
pareço um morto
a puxar lentamente a tampa do caixão.
Lu Lizhi (trad. Sara F. Costa)
disseram-me que era um parafuso.
Engoli resíduos industriais e fichas de desemprego,
jovens que morreram debruçados sobre máquinas,
engoli trabalho, engoli pobreza
engoli as pontes dos peões e uma vida enferrujada.
Não consigo engolir mais nada
porque tudo o que engulo me volta à boca
e verte para o chão da pátria:
um poema feito de vergonha.
---
Um parafuso caiu no chão
nas horas extra desta noite escura.
Caiu verticalmente, tinindo ao de leve:
ninguém notou,
tal como da última vez,
numa noite como esta
quando alguém tombou no vazio.
---
Dizem que sou
uma criança de poucas palavras.
Não o nego
mas,
fale ou não,
nesta sociedade,
estou sempre em conflito.
---
Um espaço de dez metros quadrados
apertado, húmido, escuro todo o ano:
é aqui que como, durmo, cago e penso
tusso, tenho enxaquecas, envelheço, fico doente e ainda assim não morro.
Sob esta pálida luz amarela cá estou a fixar o olhar no vazio, a rir-me
como um parvo ando para trás e para a frente, canto baixinho, leio, escrevo poemas.
Sempre que abro uma janela ou uma porta
pareço um morto
a puxar lentamente a tampa do caixão.
Lu Lizhi (trad. Sara F. Costa)
24 janeiro, 2020
23 janeiro, 2020
20 janeiro, 2020
19 janeiro, 2020
Jack Kerouac
Brindemos pelas loucas, pelas desajustadas, pelas rebeldes e arruaceiras, pelas que não se encaixam, pelas que veem as coisas de um modo diferente, pelas que não gostam de regras e não respeitam o status quo. Podem denunciá-las, não estar de acordo, glorificá-las ou vilipendiá-las, mas o que não podem fazer é ignorá-las. Porque elas mudam as coisas, empurram para a frente a condição humana. Enquanto alguns as veem como loucas, nós vemos o génio delas, porque as mulheres que se acreditam tão loucas como para pensar que podem mudar o mundo são as que o fazem.
Jack Kerouac
18 janeiro, 2020
17 janeiro, 2020
Maiakovski
Sou poeta. Este é o fulcro dos meus interesses. É disso que
escrevo. Do resto – só se me sobrarem palavras.
Maiakovski, Eu Próprio-Poesia 1912-1926
16 janeiro, 2020
15 janeiro, 2020
Kurt Marti
não existiu
já um
que andava sobre as águas?
mais ninguém
conseguiu fazer o mesmo
mas
que tu
uma não-nadadora
nades contra a corrente
não é um milagre menos significativo
Kurt Marti (trad.Luís Parrado)
Frederico Mira George
Frederico Mira George, «Quem tem um elefante não morre num asilo de velhos», 2020 |
14 janeiro, 2020
Alejandra Pizarnik
Mis palabras exigen silencio y espacios abandonados.
Alejandra Pizarnik (excerto do poema La Noche - 23/11/1969)
Alejandra Pizarnik (excerto do poema La Noche - 23/11/1969)
Alejandra Pizarnik
Os que chegam não me encontram.
Os que espero não existem.
Alejandra Pizarnik (excerto do poema Fiesta)
Os que espero não existem.
Alejandra Pizarnik (excerto do poema Fiesta)
Alejandra Pizarnik
(...) e diremos tantos poemas que as nossas línguas se incendiarão como rosas.
Alejandra Pizarnik, Diários, 4 de agosto de 1962 (excerto)
Alejandra Pizarnik, Diários, 4 de agosto de 1962 (excerto)
13 janeiro, 2020
12 janeiro, 2020
11 janeiro, 2020
05 janeiro, 2020
Albert Camus
03 janeiro, 2020
02 janeiro, 2020
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