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08 maio, 2018

Adília

Nem sempre fazer coisas difíceis é eficaz e eficiente. Às vezes fazer coisas fáceis é que é o mais acertado.

...

Há milagres, não há só truques.

...

Cresci ao Deus dará. O mais estranho é que Deus deu.


Adília Lopes, Bandolim, Assírio e Alvim, 2016

07 maio, 2018

Adília Lopes

BEE

Tenho uma varanda virada a Leste com vasos com plantas. Quando está sol, aparecem muitas abelhas. Afugento as abelhas pronunciando bee com força mas baixinho. As abelhas afastam-se sempre. Experimentei fazer isto e tenho tido uma taxa de sucesso de 100%. Talvez seja por isto que abelha em inglês se pronuncia bee. Não sabia pronunciar muito bem bee mas, a praticar com as abelhas, pronuncio cada vez melhor.


MODUS OPERANDI

Nunca consegui escrever nada com projectos, planos, programas, esquemas, prazos. Grão a grão, verso a verso, enche a galinha o papo. Pôr o carro à frente dos bois. Assim é que funcionou para mim.



Adília Lopes, Bandolim


25 abril, 2018

André Tecedeiro + Liberdade




ele perguntou-me
em que medida é que isso te marcou?

eu perguntei-lhe:

como se mede uma raiz?


André Tecedeiro,  O Número de Strahler, ed. Do Lado Esquerdo.

14 abril, 2018

F e H

Frederico Mira George, Digital Painting, 2011









































Eu pergunto se o poeta cria as coisas, pergunto se as reconhece, ou então se as ordena.


Herberto Helder, Photomaton & Vox

11 abril, 2018

Susana Marques

Foto de Susana Marques.
Susana Marques

























Esta força inóspita que me corrói de dentro e extravasa pelo mundo como uma calcinação.


Herberto Helder, Photomaton & Vox

14 fevereiro, 2018

Al Berto

Sandro Botticelli, Portrait of Young Woman (detalhe),1480










e finjo a morte ou cintilo
como o diamante


Al Berto



03 fevereiro, 2018

Frederico Mira George

#38

pentearam-me arranjaram-me um fato
calçaram-me sapatos engraxados
e fecharam-me os olhos com pás de terra
cheira a mercúrio e a volfrâmio
as calças são boas mas apertadas - ?de quem terão sido
e os sapatos
/não cabiam - uma mãe rezando partiu-me as falanges
resultou na perfeição

antes da descida final
antes de ser posto o selo
a mulher mãe-rezadora envolveu-me um terço de rosário
nas mãos - prata brilhante
e desci - tranquilo
para a escuridão generosa
da plantação
continuo tranquilo apesar de não encontrar o coração
no peito nem sentir os olhos nas cavidades do crânio

quando rebentarem as primeiras folhas no solo
voltarei a ver o mar/a praça/os automóveis
os homens e as mulheres dentro dos automóveis
voltarei ao princípio - à cama onde nasci
descanso em paz enquanto germino

Frederico Mira George, Caixa Negra -1º vol., edições quási


Cristina Tavares, B&W, 2017

16 janeiro, 2018

António José Forte

Cristina Tavares, &C, janeiro 2018
















Entra no café.
Abre um livro fantástico, impossível.
Mas não lê.
Trabalha - numa música secreta, inaudível.



António José Forte




30 dezembro, 2017

o poema todo

Cristina Tavares, Novas Colagens (o poema todo), dez 2017


     Sei que o poema aparece, emerge e é escutado num equilíbrio especial da atenção, numa tensão especial da concentração. O meu esforço é para conseguir ouvir o «poema todo» e não apenas um fragmento. Para ouvir o «poema todo» é necessário que a atenção não se quebre ou atenue e que eu própria não intervenha. É preciso que eu deixe o poema dizer-se. Sei que quando o poema se quebra, como um fio no ar, o meu trabalho, a minha aplicação não conseguem continuá-lo.


Sophia de Mello Breyner Andresen , Arte Poética IV

28 novembro, 2017

André Tecedeiro

CT, Novas Colagens (Papillon), novembro 2017



Papillon, espera pela sétima onda.
Essa ilha é um veneno
rodeado de inferno por todos os lados.

Ouvi falar de borboletas
que migram
na pegada do Sol.
Batem do Canadá ao México
pequenas asas.

No caminho morrem três ou quatro vezes
 Mas esqueçamos por momentos que
a borboleta que parte não é a mesma que chega:
o que o mistério nos conta é que
uma borboleta é capaz
de atravessar um continente.

André Tecedeiro




05 novembro, 2017

Maria Judite de Carvalho



Josef Albers, s/ título, c.1929













Há hoje um cheiro a partir,
um cheiro a não estar aqui,
um cheiro a mar verde-pálido,
de algas soltas, sem raízes.
Estou no cais mas não saí.
Tenho um passaporte inválido 
para todos os países.

Maria Judite de Carvalho, A Flor que Havia na Água Parada

29 outubro, 2017

sobe uma figura

Um avião aterrava
no meu terror, começar
por haver deus 
e depois nem um irmão
com quem trocar canivetes, lâminas.
Mas olha bem no escuro
ao lado de cada verso
sobe uma figura.

Helder Moura Pereira, Mercúrio, 1987


Sjaak Kempe, Paul Cézanne'studio

27 outubro, 2017

Helder Moura Pereira

Francisco Tropa,Terra Platonica, 2013



















As emoções deste lado
não são iguais
às emoções daquele 
lado, só parecem.
Faz ao contrário, põe
desenhos às palavras,
apaga o risco vertical do caderno.

Helder Moura Pereira, Mercúrio, 1987

16 outubro, 2017

Sophia


Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e me fita

Apenas sei que caminho como quem
É amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco


Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia (Círculo de Poesia, Moraes Editores, 1970)


08 outubro, 2017

Frederico Mira George

é a última noite
ponho-me a observar a palma da mão esquerda
procuro nos tais sulcos da adivinhação do tempo
a hora certa
lá fora dispara o alarme de um carro
e a palma da minha mão é só planura

seja como for
adormecer
já não depende de mim.

Frederico Mira George, Caixa Negra (1ºvol)



Robert Mapplethorpe, Rose, 1984




26 julho, 2017

O relâmpago Herberto


Nunca se sabe aquilo que basta. Talvez baste um poema, uma coisa mínima, viva, nossa, uma coisa rub-reptícia para empunhar diante do implacável acordo das formas exteriores. Também pode ser que nada baste. E nesse caso tanto faz escrever um romance ou cem poemas ou apenas um poema, ou ler, ou emendar o céu astronómico, ou manter-se parado no meio de um jardim húmido e silencioso, à noite. Até pode suceder que a morte não seja bastante. E isto, sim, é interrogativo.

Herberto Helder,  em Relâmpago, Revista de Poesia 36/37, Abril/Outubro de 2015 (pág.133)







CT, Sleeping Golden Head, 2014

14 julho, 2017

Carlos de Oliveira

De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
No segundo caso, o homem que não dorme pensa: "o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração."

Carlos de Oliveira, Trabalho Poético


05 maio, 2017


Ian Hamilton Finlay, Broken heartbroken, 1968






























... o que é preciso é alguém para abrir as janelas que não há...


Cruzeiro Seixas, Desaforismos (Perfecto E.Quadrado, A Única Real Tradição Viva)

03 maio, 2017

Cruzeiro Seixas





































A PALAVRA AMOR É INCENDIÁRIA.
Cruzeiro Seixas

25 abril, 2017

                                                     

             















CT, abril 2017



Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.


Herberto Helder, A Colher na Boca