CRÍPTICA
Para quem não sabe ler
Toda a escrita é críptica
O alfabeto cirílico é críptico para mim
Os ideogramas chineses ou japoneses
São igualmente crípticos (para mim)
Para os economistas
A poesia é críptica
Para os imbecis
A inteligência é críptica
Para os cegos de nascença
A cor é críptica
Para todos os homens
A sua vida é críptica
Para os vivos
A morte é críptica
Para os mortos
O que será a morte?
E.M. de Melo e Castro, "No Limite das Coisas"
25 janeiro, 2014
Alberto e E.M. -poesia visual
Alberto Pimenta, Black&White,1977 |
do site
Eu insisto na palavra “poema”, justamente porque todo este processo, para mim, é um complexo processo de poiésis, no sentido grego mais rigoroso, isto é, o de fazer aquilo que ainda não foi feito.”
E.M.de Melo e Castro, O caminho do leve. Catálogo Museu de Arte Contemporânea, 2006.
E.M. de Melo e Castro |
Etiquetas:
Alberto Pimenta,
E.M. de Melo e Castro,
poesia visual
reconheça
essa adorável pessoa é você
sem o grande chapéu de palha
olho
nariz
boca
aqui o oval do seu rosto
seu lindo pescoço
um pouco
mais abaixo
é seu coração
que bate
aqui enfim
a imperfeita imagem
de seu busto adorado
visto como
se através de uma nuvem
essa adorável pessoa é você
sem o grande chapéu de palha
olho
nariz
boca
aqui o oval do seu rosto
seu lindo pescoço
um pouco
mais abaixo
é seu coração
que bate
aqui enfim
a imperfeita imagem
de seu busto adorado
visto como
se através de uma nuvem
24 janeiro, 2014
23 janeiro, 2014
18 janeiro, 2014
Georges e René, outra vez
Em 1949, Georges Braque realizou 4 gravuras para ilustrar a criação radiofónica "Le Soleil des Eaux" de René Char.
Georges e René
Georges e Guillaume
Georges Braque criou18 gravuras para acompanhar o poema "Si Je Mourais Là-bas", de Guillaume Apollinaire.O livro de artista saiu em 1962, nas Éditions Brodier, por altura dos 80 anos de Braque.
17 janeiro, 2014
«Não é necessário observar o trabalho de alguém
para saber se é essa a sua vocação,
basta olhá-lo nos olhos:
um cozinheiro apurando um molho,
um cirurgião abrindo a pele,
um escriturário preenchendo uma relação
de embarque, têm a mesma expressão
distraída, embevecidos na sua tarefa.
Que bela é essa devoção
do olho pelo objecto.
Ignorar a deusa sedutora,
abandonar os sacrários magníficos
de Rea, Afrodite, Demeter, Diana,
preferir rezar a S. Focas,
Santa Bárbara, S. Saturnino,
ou outro padroeiro qualquer,
de cujo mistério se seja merecedor,
que passo gigantesco foi dado.
Deveria haver monumentos e odes
aos heróis desconhecidos que começaram,
a quem arrancou as primeiras faíscas
da pederneira e esqueceu o jantar,
ao primeiro coleccionador de conchas
que ficou celibatário.
Se não fossem eles, onde estaríamos?
Ainda ferozes, sem hábitos caseiros,
errando através das florestas,
com nomes sem consoantes,
escravos da Dama gentil, sem
noções da civilidade
e hoje à tarde, para esta morte,
não haveria agentes funerários.»
W.H. Auden, "O Massacre dos Inocentes"
12 janeiro, 2014
Não digas onde acaba o dia.
Onde começa a noite.
Não fales palavras vãs.
As palavras do mundo.
Não digas onde começa a Terra,
Onde termina o céu.
Não digas até onde és tu.
Não digas desde onde é Deus.
Não fales palavras vãs.
Desfaz-te da vaidade triste de falar.
Pensa, completamente silencioso.
Até à glória de ficar silencioso,
Sem pensar.
Cecília Meireles, "Antologia Poética"
Assinar:
Postagens (Atom)