24 abril, 2014

Tolice? Não, não é

Às vezes passo um dia inteiro a tentar contar as folhas de uma única árvore. Para o fazer tenho de trepar ramo após ramo e de tomar nota dos números num pequeno caderno. Pelo que, do ponto de vista deles, suponho que seja razoável que os meus amigos digam: que tolice! Lá está ela de novo com a cabeça nas nuvens.

Mas não é assim. Claro que há um momento em que tenho de desistir, mas nessa altura já eu estou meio enlouquecida com tal milagre - a abundância das folhas, a quietude dos ramos, o fracasso dos meus intentos. É quando dou por mim a rugir às gargalhadas, cheia de glória terrestre, neste lugar importante e delicioso.


Mary Oliver (em http://arspoetica-lp.blogspot.pt) 

Ana Tecedeiro, 2014

23 abril, 2014

Recebe este rosto meu, mudo, mendigo.
Recebe este amor que te peço.
Recebe o que há em mim que és tu.


Alejandra Pizarnik















Amanhã
Vestir-me-á com cinzas o amanhecer,
Encher-me-ão a boca de flores.
Aprenderei a dormir
Na memória de um muro, 
Na respiração
De um animal que sonha.

Alejandra Pizarnik

21 abril, 2014

Poem





















CT, Poem, (da série Sleeping Head), abril 2014


Sou tu quando sou eu (Paul Celan)

20 abril, 2014

Much Loved



























CT, Much Loved (da série Sleeping Head), abril 2014


- eu aqui, eu; eu, que te posso dizer, que te poderia dizer tudo isto; eu, que não o digo e não to disse; eu com  lírio-turco à esquerda, eu, com o rapúncio, eu com os dias, eu aqui e eu ali, eu, acompanhado talvez - agora! - pelo amor dos não amados, eu a caminho de mim aqui em cima.

Paul Celan, Arte Poética -  O Meridiano e outros textos

19 abril, 2014

Thinking Eye











CT, Thinking Eye, abril 2014
CT, Thinking Eye, abril 2014









Thinking Eye
























CT, Thinking Eye (da série Sleeping Head),  abril 2014


17 abril, 2014

Tim Maguire, Intimate Dialogue - Warsaw, 1983

16 abril, 2014

Albrecht Durer, My Agnes, 1494

Albrecht Durer, Estudo para uma Virgem Santa, c.1503

11 abril, 2014

Poema número 20


Acordo e forma-se um silêncio espantoso
na boca. É como ter os dentes colados,
Os lábios açaimados com cordas e a língua
Completa de verbos, incapaz. São horas
Mudas e primitivas, pensando livros.

Frederico Mira George, Um Fósforo na Mão, 2013

10 abril, 2014

Rosa Rosae

«Sem o parecer, respondo desta maneira à pergunta:"Qual é a finalidade da poesia?" - A de nos tornar habitável o inabitável, respirável o irrespirável». 
Henri Michaux



                                                                                                                                          CT, Rosa Rosae, abril 2014

09 abril, 2014

Valquírias























CT, Valquírias, abril 2014
simples como é
a claridade é a coisa
mais difícil de encontrar

Mário Henrique Leiria

08 abril, 2014

A poesia é um meio de conhecimento e acção de cujos frutos, bons ou maus, só o poeta aproveita (facto, este, de que muito poucos se dão conta) e daí a inutilidade dos esforços para ligá-lo a qualquer filosofia, política ou teologia, inutilidade que não se desmente no caso de ser o próprio poeta a fazer essa aproximação. É (foi) o caso de Régio como o de Mayakovsky: a sua voz continuará estranha e o sentido das suas palavras incompreensível mesmo para aqueles que escolheu como correligionários. É que o poeta é rebelde sem premeditação, demolidor de tudo e de si próprio, esforçadamente anti-caridade-encostada-às-esquinas-de-pistola-em-punho ou caneta-na-mão-lágrima-de-jacaré.

Perfecto E. Quadrado, A Única Real Tradição Viva - Antologia da Poesia Surrealista Portuguesa, excerto de Carta ao Egito, de Pedro Oom, 1949